Cap. 37 - Preciso de Ar

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Pov Camila Cabello

— Por que você está aqui? — Uma voz feminina me assusta. Ergo a cabeça, tirando dos olhos o cabelo ensopado colado em meu rosto.

É ela.

— Por que você está aqui? — ela repete mais enfaticamente quando eu não respondo.

Quem é ela?

— Por que veio aqui? — A voz ríspida dela aumenta.

— Quem é você? — Ignorando a pergunta, eu finalmente encontro minha voz.

— Sou Lynne Bennett.

Com os olhos arregalados, minha cabeça vira rapidamente para ler a lápide de novo. Viro de volta para encará-la; ela está me olhando sem expressão. Tenho tantas perguntas, no entanto, não sei o que dizer.

— Vou perguntar de novo. Por que você está aqui?

— Emily era minha irmã.

— Emily não tinha irmã. Você e sua mãe maluca não são nada para Emily.

— Mas...

A mulher falou por cima de mim.

— Meu marido nunca amou sua mãe. Ela não passava de uma jovem manipuladora.

— Não entendo.

— Você não pertence a esse lugar. Não pode tomar o lugar dela. E ela nunca amará você.

— Quem? Quem nunca irá me amar?

— Você não vai tomar o lugar dela. Não para o meu marido. Não para Lauren. Você simplesmente deveria ter continuado correndo naquele dia.

— Lauren? Lauren nem sabe que sou irmã da Emily.

A mulher ri insanamente.

— Você é tão louca quanto sua mãe era. Acredita mesmo que ela não sabe quem você é? Ela está usando você. Ela sente falta da minha filha. Vejo-a correndo com você, do mesmo jeito que ela costumava fazer com a minha Emily. Ela era tão apaixonado por Emily, tão desesperada para mantê-la junto dela, que acabou encontrando uma cópia barata. Ela não está nem aí pra você.

— Eu...

— Você deveria voltar para aquele estacionamento de trailer. Não há nada aqui para você.

Olho bem nos olhos dela; ela nem pisca.

Minhas roupas estão enlameadas e ensopadas. Ainda assim, esta mulher em pé segurando um guarda-chuva não tem um fio de cabelo fora do lugar ou uma gota de água nela. Eu pareço o lixo que ela pensa que eu sou.

— Vá embora! — Dou um sobressalto quando ela grita. Seu rosto inexpressivo e perfeitamente maquiado se transforma numa expressão de desprezo. — Vá embora! — Ela joga um grande buquê de lírios com um laço branco em cima de mim. Eles me acertam no rosto e caem, se espalhando pelo túmulo de Emily.

Eu me viro, dando uma última olhada na lápide da minha irmã e então corro, sem olhar para trás.

                         ***************

Toco a campainha da porta pela terceira vez, mas ninguém atende. O carro de Lauren não está aqui. A rampa da garagem está vazia. Estou enjoada. Confusa. Brava. Assustada. Perdida. Preciso ouvir Lauren me dizer que aquela mulher estava mentindo. Era impossível Lauren saber que Emily era minha irmã.

Bato na porta. Talvez a campainha não esteja funcionando. Mas ninguém atende. Dou a volta, parando no caminho ao avistar a casa de Emily. A casa da minha irmã. E então, de repente, estou tocando a campainha dos Bennett, embora eu nem me lembre de ter atravessado a rua.

Espero, mas ninguém atende.

Tento a maçaneta da porta. Está trancada.
Preciso entrar, embora não tenha certeza por quê.
Tento a porta lateral, mas também está trancada.
Continuo caminhando. O portão do quintal está aberto.
A porta dos fundos está trancada, e então prossigo até a porta de correr do pátio. Ela abre.
Dou um passo para dentro. Não sei nem por que estou aqui.

A casa está quieta. Dou alguns passos. As fotos no mantel da lareira me chamam a atenção. Há uma de uma garota em uma roupa de líder de torcida, as pernas abertas em um salto no ar. Cabelos castanhos longos, grossos e ondulados como os meus, pele perfeitamente bronzeada. Emily. Minha irmã. Não nos parecemos em quase nada. Ela não tem os olhos escuros como os meus, talvez se pareçam mais com os da nossa mãe.

Vago pela casa sem saber pelo que estou procurando, o que estou fazendo aqui, até que o encontro no andar de cima. O quarto de Emily.

Parece que não foi tocado desde...

Há roupas espalhadas pela cama. Pego um dos vestidos e o seguro contra o meu corpo. Somos do mesmo tamanho.

Analisando o quarto, vejo a parede atrás de mim lotada de fotos. Há centenas delas. Todas posicionadas em direções diferentes, palavras aleatórias cortadas de revistas adicionadas à colagem. Alegria. Amor. LOL. Prada. Família. Amigos. Meus olhos param na maior palavra de todas. Letras grossas, cor-de-rosa, tipo bloco, todas maiúsculas: LAUREN. Analiso as fotos.

Emily e seus amigos.
Emily e os pais dela.
Emily e Lauren.

Dúzias e dúzias de Emily e Lauren.

Deve haver centenas delas.

Na escola.
Nos bailes.
Lauren com uniforme de futebol americano. Emily com seu uniforme de líder de torcida.

Sinto-me enjoada.

Uma foto em particular prende meus olhos. É de Lauren e Emily ainda crianças, com não mais do que oito ou nove anos. Rostos sujos, ambas sorrindo largamente. Lauren está pedalando uma bicicleta amarela brilhante, Emily está no guidão.

Minha cabeça está girando.

Estudo os rostos delas. Parecem tão felizes.

A parede de fotos começa a ficar embaçada, as fotos se misturam umas às outras. O quarto começa a rodar.

Preciso de ar.

Um enorme espelho está encostado na parede. Vejo meu reflexo. Lágrimas silenciosas escorrem pelo meu rosto, mas eu não consigo senti-las.

Preciso ir embora. Meus pés começam a se mexer, mas uma foto enfiada no canto da moldura me chama a atenção e eu paro. Lauren e Emily, abraçadas, sorrindo abertamente para a câmera. Mas não é isso que faz meu coração parar de bater. É o farol na frente do qual eles estão.

Não!

Arrancando a foto da moldura, olho para o rosto delas uma vez mais.

Elas estão felizes.

Apaixonadas.

As palavras da mulher assombram meus ouvidos: "Ela era tão apaixonado por Emily, tão desesperada para mantê-la junto dela, que acabou encontrando uma cópia barata. Ela não está nem aí pra você."

Rasgo a foto em pedacinhos.

Não é o suficiente.

Procuro alguma coisa ao redor. Qualquer coisa. Pego um sapato e atiro-o no espelho, mas ele não quebra. Então, encontro outra coisa: um vidro de perfume. E, desta vez, junto forças antes de atirar o vidro pesado com minhas mãos trêmulas. Um estilhaço barulhento ecoa pelo quarto silencioso. Centenas de pedaços de vidros caem no chão. Dou meia-volta, a água ainda escorrendo por todo meu corpo, e saio lentamente da casa.

***

CAMREN: Peças do Destino (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora