Cap. 12 - Terá Que Dividir

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Pov Lauren Jauregui
Long Beach, Califórnia

Ouço a campainha da porta tocar, mas não saio do meu quarto. É assim que tem sido desde que tudo aconteceu. As pessoas vinham muito mais no início. Amigos da escola, vizinhos, minha tia e primos. Levou cinco meses, mas o fluxo de bons samaritanos finalmente diminuiu. Talvez seja assim que aconteça. O tempo tem uma forma de fazer as coisas ficarem mais fáceis. Quanto a mim? Nada diminuiu a dor desde que Emily morreu.

Minha mãe está conversando com alguém no andar de baixo, mas não reconheço a voz. Isso tem acontecido muito ultimamente. Ouço as coisas, mas não as registro. Vozes e palavras, tudo se mistura e soa a mesma coisa. Nada desperta meu interesse, nada me tira desse torpor.

A conversa pára novamente. Acho que, seja lá quem era, foi embora. As pessoas não ficam muito por perto depois que Emily morreu. Até meus pais, que vêm ao meu quarto uma dúzia de vezes ao dia, saem rapidamente.

Há uma batida na porta, mas não me dou ao trabalho de levantar. Minha mãe e meu pai não esperam que eu responda, de qualquer jeito. Eles batem e entram. Tenho a sensação de que têm medo do que possam encontrar se esperarem para bater uma segunda vez.

Uma segunda batida. Isso me tira do transe e olho para a porta. Uma terceira batida vem acompanhada de uma voz baixa.

— Lauren, sua mãe me disse que não tinha problema em subir. Posso entrar? — Ela faz uma pausa e acrescenta baixinho: — Por favor.

Mesmo em meio ao torpor, reconheço a voz de Keana. Ou será que estou imaginando? Será que ela está mesmo do outro lado da minha porta? Não digo nada e a voz fica em silêncio. Talvez eu estivesse errada. Talvez não houvesse voz nenhuma.

A porta abre com um rangido. Não sei se grito ou se digo para ir embora, ou se, da cama, continuo olhando para o teto. Decido que ignorá-la é uma opção menos dolorosa. Talvez ela simplesmente vá embora.
Do canto do olho, eu a vejo puxar mais para perto da cama a cadeira da minha escrivaninha e sentar-se. Fecho os olhos.

— Lauren, sei que você não quer ver ninguém. Tentei e-mails, mensagens de texto e ligações. Daí pensei que se simplesmente viesse aqui... — Ela pára. Há um tremor em sua voz quando continua. — Talvez haja algo que eu possa fazer. Quero te ajudar.

A voz de Keana é morna e carinhosa e faz meus olhos se afastarem do teto. Rolo até ficar sentada, assim me sinto menos vulnerável. Assim que meus olhos fazem contato com os dela, uma lágrima rola de seu olho esquerdo. Mesmo na escuridão do quarto, posso ver que ela está chorando. As pessoas não deviam chorar por minha causa. Eu não mereço.

Instintivamente, estendo o braço para limpar a lágrima. Antes de alcançar o rosto de Keana, o
restante da minha mente acorda e, rapidamente, recuo. Keana pega minha mão. É a primeira coisa que eu sinto em meses. A pele dela, macia e suave; apenas um leve toque, ainda assim tão forte e tão avassalador. O contato começa a me trazer de volta ao mundo presente. Mas eu não quero estar ali. Não quero estar em nenhum lugar sem Emily. Puxo minhas mãos como se tivesse sido queimada.

Sem se intimidar, Keana tenta de novo.

— Lauren, não precisa dizer nada. Sei que não posso consertar nada. Só queria te ver. Mesmo se não conversarmos.

Alguma coisa dentro de mim me faz reagir.

— Obrigada. Eu li seus e-mails e suas mensagens de texto. Obrigada por pensar em mim — minto. Não abri nada que ninguém me mandou.

Mesmo com o quarto escuro, consigo ver o brilho de esperança nos olhos dela quando respondo. É assim que meus pais se sentem? Estão esperando que eu converse?

CAMREN: Peças do Destino (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora