Cap. 13 - Quase Bonita Demais

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Pov Camila Cabello
Long Beach, Califórnia

A casa não é nada do que eu esperava. Quadros vibrantes emoldurados decoram as paredes de cores acolhedoras, dando a sensação de "casa" mais do que qualquer outro lugar onde já vivi. Ainda assim, o sono não veio com facilidade na noite passada. Na primeira noite em um lugar, ele nunca vem. Eu deveria saber, já tive primeiras noites suficientes na vida.

Obrigando-me a sair da cama mais cedo do que preciso, tiro um tempo para explorar o local, já que a tia Claire saiu por algumas horas. Minha primeira parada são os porta-retratos no mantel acima da lareira. Não querendo parecer muito bisbilhoteira, dou uma olhada rápida, sem ter a chance de olhar bem de perto.

A primeira foto é de duas garotinhas com os braços entrelaçados nos ombros enquanto sorriem alegremente para a câmera. A garota mais alta está segurando uma mangueira de jardim e tem um sorriso maroto no rosto; a mais nova está ensopada dos pés à cabeça. Quase não consigo reconhecer a mamãe com aquele sorriso fácil e despreocupado. Aquilo me faz pensar se ela já nasceu com problemas ou se algo aconteceu depois daquela foto para transformá-la do jeito que ficou quando eu nasci.

A foto seguinte foi tirada na formatura de enfermagem da tia Claire. Ela parece a mesma, só que mais jovem. A mulher mais velha ao lado dela, minha avó, alguém que eu nunca vi, sorri com orgulho da filha vestida em um uniforme todo branco.
Pego as fotos maiores, passando o dedo pela borda da moldura de vidro chapiscado, estudando a foto do casal no dia do seu casamento. Tia Claire está linda em um vestido de noiva branco tradicional, do tipo que se vê na televisão, com uma cauda longa e um véu que cobre o rosto. O marido dela está usando um terno escuro simples; um sorriso largo ilumina seu rosto ao olhar para a noiva. Os dois parecem tão felizes. Sinto uma dor no peito ao pensar como ela deve ter se sentido quando o perdeu.

Eu me viro, contemplando o que sinto ao absorver todo o ambiente... as fotos, a mobília, as prateleiras cheias de livros... é tudo tão... normal. É uma sensação com a qual não estou nem um pouco acostumada.

****************

Meu rosto está enterrado em um livro quando a tia Claire entra carregando sacolas do supermercado algumas horas depois.
— Como você dormiu? — ela pergunta enquanto eu a sigo até o carro para ajudar a trazer o restante das sacolas.

Dou de ombros.
— Bem, eu acho. — Por que preocupá-la dizendo que virei de um lado para o outro durante metade da noite?

Tia Claire sorri desconfiada.

— Vai melhorar. Prometo. Sempre tive dificuldade de dormir em algum lugar novo. — Juntas, começamos a desempacotar as compras. — Estava pensando... e se fôssemos comprar uma roupa nova para o seu primeiro dia de escola?

Baixo os olhos.

— O que há de errado com as minhas roupas? — Minha voz soa um pouco defensiva.

— Nada. Nada mesmo. É que... minha mãe sempre nos comprava roupas novas para o primeiro dia de aula. É meio que uma tradição. — Ela sorri. — Eu sempre esperava por isso. — O sorriso se apaga um pouquinho, a voz ficando cada vez mais profunda e suave. — Assim como sua mãe. Achei que você também pudesse ser assim.

Eu me pego pensando como seria sair às compras com a minha irmã. Quero muito fazer mais perguntas, mas é cedo demais para arriscar cutucar as coisas e deixar a tia Claire suspeitando das minhas intenções.

Concordo em ir às compras, embora não tenha muita certeza de que ficarei aqui tempo suficiente para criar novas tradições.
Ao final do dia, a nova roupa da escola se transformou em três novos looks, novas roupas de ginástica, fones de ouvido, uma mochila e material escolar. Durante alguns momentos, eu me diverti de verdade fazendo compras com a tia Claire.

*****************

Sábado de manhã, com short e top novos, e fones roxos em meus ouvidos, fico em pé na porta da frente para alongar as panturrilhas. Não faço exercício há quase um mês e a queimação enquanto puxo o pé para trás ao alongar os tendões é uma dor bem-vinda.
— Tem certeza de que se lembra das direções que lhe dei? — tia Claire sai e me pergunta pela terceira vez. Ela está preocupada que eu me perca durante a corrida.

Sorrindo da preocupação dela, tiro um fone do ouvido.

— Sigo reto por quatro quarteirões até a rua principal, viro à esquerda, mais dois quarteirões até a Avenida Arnold, à direita na Rua Front... Isso vai me levar direto à pista de corrida da escola.
Ela parece aliviada, pelo menos um pouquinho. — Está com seu telefone?
Confirmo com um balanço de cabeça.

— Tome cuidado com os carros. Corra só com um dos fones, assim pode ouvir as coisas ao seu redor.

— Sempre faço isso. Vou ficar bem. — Começo minha corrida, gritando para trás por sobre o ombro, com um sorriso: — Espere pelo menos uma hora para mandar um helicóptero de busca, ok?

*****************

Nunca fui muito esportista. Correr é a única atividade física que já fiz. Dinah dizia que eu gostava de correr porque era um dos poucos esportes que não é preciso fazer parte de um time. E ela não estava totalmente errada. Correr me faz sentir no controle e, ao mesmo tempo, livre. Limpa minha mente e faz tudo parecer menos complicado. Mais simples.

Entrando na pista, fico surpresa ao encontrá-la praticamente vazia. As manhãs de sábado são, geralmente, o melhor horário para os atletas fazerem suas corridas. Mas também as nuvens cinzentas que estão começando a encobrir o céu quando saí de casa, vinte minutos atrás, ainda estão começando a se dissipar.

Dou a primeira volta num passo firme, preferindo alternar entre uma corrida rápida e o trote, em vez da monotonia de ficar no mesmo passo durante cinco minutos inteiros.

Uma garota da minha idade está meia-volta à frente durante todo o tempo em que percorro a pista coberta. Chegando de novo ao ponto onde comecei, mudo de marcha, indo do trote para a corrida de alta velocidade, alcançando-a — e ultrapassando-a — rapidamente.

Terminando a segunda volta, diminuo o passo para trotar enquanto faço a terceira volta. A garota me alcança e me ultrapassa. Eu sorrio enquanto ela passa correndo e me pergunto se estamos fazendo o mesmo padrão de corrida, só que em momentos opostos.

Continuamos correndo, fazendo rodízio, passando uma pela outra durante as voltas seguintes, nenhuma de nós dizendo uma só palavra, mas trocamos olhadas enquanto passamos. Ela é bonita. Muito bonita. Alta, malhada, porém magra, cabelo castanho escuro, maxilar forte; quase bonita demais para o meu gosto, mas Dinah com certeza a acharia sexy. Não consigo imaginar muitas pessoas que não a achariam sexy, na verdade.

Minha última volta é rápida. Só que, dessa vez, assim que ultrapasso a bonitona, ela acelera... e me ultrapassa, embora não esteja no ponto de mudar de marcha. Mantendo algumas passadas longas à minha frente, ela mantém a liderança por alguns segundos, até eu me esforçar mais e ultrapassá-la, embora não sem esforço. Minha última volta se transforma em duas voltas. Juntas, corremos cabeça a cabeça, cada hora uma ultrapassando a outra por um triz. Sem dúvida, essa é a volta mais rápida que já fiz na vida.

Cruzando a linha de chegada, com a bonitona à minha frente, ambas caímos, nos esforçando para recuperar o fôlego. Minutos depois, minha respiração finalmente volta ao normal e uma mão enorme se estende para me ajudar a levantar.

Eu aceito-a, finalmente dando uma boa olhada na minha oponente quando ela me coloca sobre meus pés. Olhos verdes brilhantes, um nariz perfeitamente reto e lábios carnudos que repuxam de um lado me tiram o fôlego que eu mal acabei de recuperar.

Um sorriso de lado e maroto se forma em seus lábios e seus olhos passam pelo meu peito ofegante. Eu sorrio de volta e, tão rápido quanto apareceu, o sorriso dela desaparece.

Sem uma só palavra, ela ergue a mão, sinalizando uma despedida, vira-se e vai embora, se afastando da pista.
Durante toda a corrida de volta, eu me pergunto o que fez o sorriso dela desaparecer tão rápido.

CAMREN: Peças do Destino (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora