Capítulo 31

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Kyara

Minha cabeça está flutuando, como se estivesse boiando em um lago, à deriva. Mas então a água começou a entrar em minha boca, em meu nariz e em meus olhos, então eu me sento puxando ar para os meus pulmões enquanto tento relaxar os músculos tensos pelo pesadelo.

Vejo os meus lençóis jogados aos meus pés e resmungo irritada, rolando de lado fico sentada na beirada e me levanto com cuidado, o chão do quarto está frio o suficiente para me fazer estremecer, então calço minhas botas e saio para o corredor silencioso. As escadas rangem um pouco enquanto eu desço, e pela pouca luz que eu vejo da janela, sei que ainda o sol nem tinha nascido.

Sigo para a sala e me sento em um sofá, cruzando as pernas e apoiando o queixo na palma da mão, as ruas estão pouco movimentadas, e o silencio é maravilhoso, e a vontade de tomar café só aumenta, bem que eu queria um café expresso com ...

- Kyara? – Levanto a cabeça e olho por sobre o meu ombro, Kendrick está completamente vestido, os cabelos estão arrumados e as olheiras embaixo dos olhos só confirmam que ele não dormiu – Está tudo bem?

- Sim, eu só não consegui dormir mais. E você?

- Digamos que eu nem tentei

- Porque?

Ele acena para o lugar vazio ao meu lado e eu confirmo, ele se senta e nossos corpos ficam próximos um do outro, me viro ficando de frente para ele, e ele faz o mesmo.

- Muita coisa aconteceu, não acho que conseguiria dormir nem se tentasse

- Gabriel? – eu pergunto baixinho

- Mandei ele de volta para Nova York hoje – ele pigarreia e o vejo fechando os punhos com força – E também pedi que se mudasse, acho que não confiaria nele morando na mesma cidade.

- Ele te contou por que fez isso?

- Sim – fico em silencio quando percebo que ele não quer falar mais sobre isso – Soube que Alan te colocou como herdeira.

- Andaram conversando foi?

- Tenho que dizer que Alan não é bem quem eu esperava – Dou um sorriso e ele retribui – Ele é um cara decente.

- Decente? – Dou risada e ele segura minha mão me puxando para mais perto – Acho que vocês estão prestes a se tornar melhores amigos.

- Melhores amigos? Por favor, não exagere – Suas mãos se entrelaçam com as minhas e sinto o seu calor passar para as minhas – Acho que vou sentir falta de sua língua afiada e suas ideias malucas.

- Espera, ideias malucas? Isso é do seu feitio, não meu

- E aquela ideia de pular em um carro em movimento? – Ele pergunta se fazendo de surpreso.

- Aquilo foi uma boa ideia, a melhor das ideias

- Não concordo

- Hunf! – Dou um beliscão em sua barriga e ele se esquiva, desistindo me aproximo dele e apoio minha cabeça em seu ombro, ele inspira e me abraça com força – Acho que vai sentir falta dos meus socos, e dos meus planos maravilhosos.

- Acho que eu sentiria saudades suas mesmo sem te conhecer

Sorrio de encontro ao seu peito, me aconchegando ainda mais em seus braços e ficamos assim pelo tempo que nós era dado, usando cada segundo dele para lembrar do cheiro e da sensação inebriante de se sentir protegido.

........

Ir de jatinho tinha seus pontos positivos, na verdade, tinha uma infinidade deles, e uma delas era a possível liberdade de se deitar em dois bancos e dormir.

Mas eu não dormi

Na verdade fiquei acordada por um longo tempo, só que fingia dormir para que ninguém viesse conversar comigo, eu estava insuportavelmente chata e sabia disso, mas eu iria mudar isso, assim que pousássemos em Las Vegas.

O caminho inteiro foi seguido em silencio e os poucos sussurros trocados entre Ayla e Dylan, Pétros ficou em silencio assim como Alan ao meu lado. Ele não tinha me perguntado de novo sobre a questão citada que decidiria meu futuro, na verdade mal olhou para mim, me dando meu espaço, e eu utilizei ele, mesmo que sabendo lá no fundo que eu iria aceitar.

Horas depois, pousamos na cidade e minutos depois estávamos entrando pela porta da frente. Não sabia que podia sentir tantas saudades de casa, mas eu senti, então a primeira coisa que eu fiz foi procurar café e logicamente Ayla estava bem ao meu lado.

Digamos que Jude, a nossa cozinheira ficou um tantinho assustada com a nossa fome, e preparou um verdadeiro banquete como jantar, subi as escadas satisfeita, e mesmo assim meu coração ainda batia bem devagar no peito, como se estivesse aos poucos se adaptando.

Então dei meia volta e fui para o escritório de Alan, batendo e esperando que ele fale, então assim que piso os pés dentro do escritório eu digo alto e claro, tanto para mim quanto para ele escutar.

- Aceito a proposta.

Ele sorri orgulhoso e eu inspiro com força, parece que o meu destino tinha acabado de fazer uma reviravolta, e eu estava em pé de cabeça erguida, pronta para lidar com ele.

Tudo bem se meu corpo estivesse cansado e minha barriga parecesse que tivesse engolido várias borboletas, e que minha cabeça parecia que ia explodir em algum momento.

Tudo certo, eu iria sobreviver.

Tinha que sobreviver.

A Dama de FerroOnde histórias criam vida. Descubra agora