Capítulo 1.

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Tulipa...

- Através dos séculos a literatura foi e ainda é uma forma de expressão humana. – Andrew falava encostado de maneira relaxada na sua mesa. Estava com uma calça social azul escura, blusa branca e gravata com listras vermelhas e brancas, seus cabelos longos amarrados em um coque meio solto do qual desprendiam alguns fios loiro escuro.

Quando comecei o doutorado escolhi fazer a disciplina dele esse semestre como ouvinte, pois, é uma extensão da que fiz com ele no mestrado, ele é um dos professores mais brilhantes que eu conheço e me sinto a vontade em sua aula. Baixei a cabeça para o caderno anotando algumas coisas que eu considero importante e volto a olhar para a frente prestando atenção na aula, o tempo vai passando tão rapidamente que eu nem percebo.

- Por hoje é só, nos vemos na semana que vem. – Ele falou se desencostando da mesa e a contornando. – Não se esqueçam de ler o material e trazer a resenha que eu pedi. – Arrumei meu material dentro da mochila e a pendurei no ombro me levantando para sair junto com os demais que esboçavam despedidas antes de seguir para fora da sala. – Tulipa.

Ao ouvi-lo me chamar eu me virei e voltei até sua mesa, ouvi a porta bater, estávamos sozinhos em sua sala a essa altura, se fosse outro professor ali comigo ficaria nervosa, no mínimo desconfortável, mas com ele eu me sinto a vontade.

- Algum problema? – Olhei em seus profundos olhos azuis.

- Não. – Ele sorriu. – Você já ouviu falar do congresso de línguas em Oxford que vai acontecer no início do próximo semestre?

- Sim, estou familiarizada. – Respondi ajeitando a alça da mochila. - Alguns colegas estavam falando dele hoje mesmo.

- Eu quero inscrever o nosso trabalho de pesquisa nele. – Me olhou esperando uma reação. – O que você acha? - Fiquei surpresa com a sua pergunta.

- Professor Clarke...

- Tulipa eu já falei que não precisa me chamar pelo sobrenome, somos amigos. – Ele me repreendeu, como já fez várias vezes.

- Mas eu já disse que dentro da universidade você é meu professor e eu prefiro manter a formalidade. – Não quero ninguém falando que eu me aproveito de alguma maneira por causa da nossa amizade.

- Tudo bem, eu entendo. – Ele suspirou. – O ambiente acadêmico pode ser brutal. – Assenti antes de continuar.

- Como eu ia dizendo, acho ótimo que você inscreva o trabalho, mas não tem necessidade de pedir a minha opinião, o trabalho é seu. - Olhei para o relógio vendo que estou quase atrasada.

- O trabalho é nosso. – Ele rebateu. – Você sabe que eu faço questão que participe porque ele é tão meu quanto seu. – Mais uma coisa que eu admiro nele, a maioria dos professores que tem bolsista em algum projeto de pesquisa quando concluem usam o trabalho como se fosse só deles, ou no máximo colocam o estudante como colaborador, o Andrew não, ele fez questão de sermos parceiros em cada etapa e faz isso com todos os bolsistas que tem. – Então, se eu inscrever o trabalho quero você organizando o artigo comigo e participando do congresso. – Olhei para o relógio novamente.

- Eu acho uma ideia maravilhosa, estou totalmente dentro, mas a gente pode conversar sobre isso outra hora? – Falei apressada. – Eu marquei de almoçar com a professora Cameron, ela tem algo pra falar comigo e como será minha orientadora não posso deixá-la esperando. - Falei esperando que ele compreenda.

- Claro eu não quero que você se atrase. – Se apressou em falar. – Podemos conversar a respeito amanhã? Eu não tenho aula, mas vou ficar o dia na Universidade.

- Pode ser a tarde? – O olhei esperando resposta.

- Claro, lhe espero em minha sala.

- Até amanhã.

- Até.

Me virei e sai rapidamente de sua sala caminhando pelos corredores da universidade, atravessei o pátio indo em direção a um pequeno restaurante dentro do campus onde marquei o encontro com a professora. Felizmente quando eu cheguei ela ainda não o tinha aparecido ainda, me sentei em uma mesa afastada do público, o que nos proporcionaria privacidade, pedi um chá gelado e tomei enquanto esperava por ela. Quase 20 minutos depois ela entrou no restaurante com seu visual profissional e elegante, me identifiquei levantando o braço e ela caminhou até mim.

- Desculpe a demora senhorita Albuquerque, me enrolei com algumas coisas. - Falou se sentando.

- Imagina senhora Cameron, nem esperei tanto. – Não era verdade, mas não estava chateada com a espera.

Ela se sentou a minha frente e pegou o cardápio, depois que decidiu o que queria comer chamei o garçom e fizemos nossos pedidos. Depois que o homem saiu ela me olhou como se me estudasse antes de falar.

- Qual a sua relação com o professor Clarke? – Perguntou de repente.

- Como assim a minha relação? – A olhei confusa. – Ele é meu professor, um bom professor, fui sua bolsista no programa de mestrado hibrido que fiz.

- Você está fazendo uma disciplina com ele nesse semestre em caráter de ouvinte. - Sua voz era calma.

- Sim, estou, fiz a primeira parte do curso no mestrado e quis fazer a segunda parte. – Dei de ombros. - Completar o ciclo.

- Você foi bolsista dele, se aproximaram nesse período? - Continuou com as perguntas.

- Sim, nos aproximamos enquanto eu era sua bolsista, temos amigos em comum, por isso as vezes nos vemos fora da universidade. – Essa conversa está me irritando. – Estou enfrentando uma ação disciplinar ou algo assim? - Perguntei de uma vez para acabar com os rodeios. - Lhe garanto que é um engano, eu não tenho tipo algum de relação romântica ou sexual com o professor, isso a  um absurdo. – Levantei um pouco a minha voz.

- Não senhorita, vocês não estão enfrentando ação alguma. – A professora me olhou me assegurando. – Eu os vi juntos por diversas vezes e queria tirar algumas dúvidas.

Almas Partidas  - Meu Clichê  (Livro 3) (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora