13. Macarons

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Eram uns quinze minutos de caminhada da minha casa para a Garret's, minutos esses que não demoraram a passar e logo eu já estava em frente a sorveteria e confeitaria temática mais antiga da cidade. E pelo visto era apenas eu que havia chego.
Nenhum sinal de René do lado de fora, eu até poderia esperá-la no estacionamento de bicicletas mas estava tão quente que se eu não entrasse eu derreteria em suor ali mesmo.
Assim que a porta foi aberta senti a lufada de ar gelado do ar condicionado em meu rosto, não era nada saudável mas eu não o trocaria pelo sol quente da Califórnia.
Diziam que o interior era o mesmo desde a inauguração, bancos vermelhos de um lado, mesinhas de madeira com cadeiras de ferro brancas de outro, decoração vintage com lp's e referências aos anos 80 e 90 para todos os lados, música antiga numa jukebox e garçons e garçonetes servindo os clientes de patins. Tenho muitas lembranças boas aqui, foi o primeiro lugar que vim com a Skye quando ela me adotou e depois desse dia venho aqui sempre que posso, acabei virando um conhecido dos funcionários e um cliente recorrente, nem sei quantas vezes vim no verão passado nem que fosse só pra retirar um pedido. Mas, mesmo que eu amasse a Garret's fazia alguns meses que não vinha aqui, mais especificamente desde meu término em outubro, eu sentia falta de sentir o cheiro de banana split - que é muito melhor ao vivo do que por delivery.
Peguei um dos bancos do meio ao lado da janela, o sol não batia ali por conta do filme no vidro então poderia aguardar René tranquilamente.
Passaram-se cinco, dez, quinze minutos e nada dela chegar, já estava ficando preocupado com toda essa demora, estava quase saindo da sorveteria para procurá-la pelo centro e por todas as lojas de eletrônicos existentes nessa cidade. Me perguntava o que teria acontecido.
Eu lia o cardápio pela milésima vez tentando fazer os pensamentos trágicos fugirem da minha cabeça quando percebo que alguém se aproxima do meu banco e sem cerimônias se senta.

- Desculpe a demora, tive de passar numa papelaria antes de vir e acabei me perdendo, te deixei esperando muito tempo né?

Olho para o banco a minha frente esperando encontrar uma garota baixinha e gordinha de cabelos rosa e olhos avelã com um enorme sorriso sínico, mas tamanho foi o meu susto quando percebi que definitivamente não era a René.

- H-Heron? - indaguei, ele me olhou e sorriu enquanto passava sua bolsa para o outro lado do banco.
- É o meu nome - ele riu descontraído.
- Você... o que você... - eu me embolava nas palavras totalmente confuso, onde raios foi parar a René e porque o Heron estava aqui agindo como se eu tivesse marcado de encontrá-lo??

Heron ficou sério de repente, agora ele parecia tão confuso quanto eu.

- O trabalho. A René disse que você viria no lugar dela já que ela está doente - Ele disse com a maior tranquilidade do mundo - ou... ela não te disse?

Arregalei os olhos. René doente?
Peguei meu celular de imediato e disquei o número de René.

- S-só um minuto, eu... já volto - saí da mesa correndo para o banheiro com o celular no ouvido deixando Heron ainda mais confuso.

Com menos de duas chamadas, ela atendeu.

- Já estava achando que você não ligaria nunca! - disse ela sem transparecer nem um mínimo resquício de doença - ele já chegou aí?
- Então isso tem dedo seu mesmo?? Quer me matar de preocupação? - quase grito.
- Fico muito honrada em saber que você se preocupou comigo, também te amo - riu ela debochadamente - eu te disse que ia dar um jeito não te disse?
- Mas eu não imaginava que seria ESSE jeito! O que é que eu vou fazer com o Heron aqui? Não somos próximos o suficiente para tomar sorvete juntos, não vamos ter assunto, vai ficar um silêncio desconfortável, eu vou passar vergonha e fazer tudo errado e ele vai me odiar pra sempre e...
- ADRIEN PARA COM ISSO! - ela esbravejou, me calei - como você quer ser próximo dele e ter assunto se vocês não conversam? Você disse que tinha perdido a chance da sua vida de ter um momento com ele e eu devolvi ela pra você então aproveite!
- COMO? - a questionei, minhas mãos começavam a suar.
- Simples, seja você mesmo! Deixa acontecer, ajuda ele no trabalho e se não rolar nada além disso pelo menos vocês chegaram a conversar, confia em mim, vai dar tudo certo.
- Mas René...
- Aproveite seu presente de adiantado aniversário e a gente se vê mais tarde.
- Meu aniversário é só em junho! René!

Ela desligou.

Cartas para Heron HayesOnde histórias criam vida. Descubra agora