"Eu vou descobrir quem enviou a carta, pode anotar"
"Se mandou uma, vai mandar outras, nem que eu tenha que mandar a carta para a delegacia pra puxar as digitais"
"Será que é alguém do grêmio? Ou a Violet que morre de inveja da Meredith? Não, talvez a Karen Benner do 2º ano? Vi ela babando no Heron desde que ele chegou..."
Essas e outras declarações de René no caminho para casa rondavam a minha cabeça como passarinhos em desenhos animados enquanto eu mordiscava o mac 'n' cheese da Skye, eu não sabia se me sentia aliviado por ela estar firmemente achando que quem enviou foi uma garota ou se me desesperava com a possibilidade dela acabar descobrindo que fui eu de algum jeito maluco mas infalível, as câmeras de segurança do corredor ainda estão lá e eu não podia fazer nada para destruí-las, se René chegasse a pensar nelas eu não sei onde enfiaria a minha cara!
- AI CHEGA - Skye gritou me tirando de meus pensamentos no susto - eu falei ontem que não ia me meter nos seus assuntos mas você ainda é meu filho e esse silêncio está me deixando maluca!
Pisquei algumas vezes e só então percebi que não falara uma palavra sequer desde que me sentei a mesa junto com a minha mãe.
- Adrien, você está estranho desde o café da manhã, me diz, estou errada em me preocupar?
- Ah desculpa mãe, mesmo, minha cabeça está em outro lugar hoje - passei as mãos pelo rosto.
- Jura? Nem percebi, o macarrão com queijo borrachudo e frio no seu prato também nem percebeu - ela cruzou os braços.
- Skye - ri - só algumas coisas na escola, muitas atividades... sabe, coisa de escola.
- Coisas de escola, sei - ela arqueou uma sobrancelha - sua velha mãe já não é mais uma boa conselheira?
- Sem drama Dona Morgan South, olha, você também não terminou sua janta e vem falar de mim.
Skye olhou para seu prato e riu soprando ar pelo nariz, eu a peguei.
- MAS ISSO NÃO VEM AO CASO - ela ergueu a cabeça rapidamente - a mãe aqui sou eu! Come a sua janta ou o queijo vai ficar mesmo borrachudo e frio.
- Você vai comer também?
- Se meus instintos maternos não continuarem me preocupando, pode contar com este prato vazio em 15 minutos.
- Vou pegar meu celular pra cronometrar então - fiz como que fosse sair da mesa, Skye pegou os talheres de imediato.
- Esquece o que eu disse, come - ela deu uma garfada, me endireitei de volta na mesa e a acompanhei.
O jantar corria bem, até Skye retornar ao assunto passado, de uma forma que ela sequer sabia que retornara.
- Vi o garoto francês da rua de trás chegar de carro junto com a filha mais velha dos Saint-Jones quando voltava do mercado, ela é a namorada que você disse?
Hesitei um pouco antes de responder, tudo que eu menos queria agora era lembrar que o cara que eu enviei uma carta tem namorada, mas Skye não tinha culpa das loucuras que eu arrumo pra minha cabeça e eu já havia sido injusto demais com ela hoje.
- Uhum - balancei a cabeça, Skye ergueu seu garfo.
- Eles não combinam nem um pouco, parece que o coitado está com ela por obrigação.
Arregalei os olhos na direção de Skye, eu jurava que iria ouvir qualquer outra coisa menos isso.
Mas a parte mais louca é que ela percebeu o mesmo que eu venho percebendo desde o início da semana, estava crente que era só birra minha por talvez estar... não, isso não, inconsequente? Infelizmente sim! Fura-olho? NUNCA!
- Sério? - disse, Skye balançou a cabeça em confirmação - eles são tipo os reis do ensino médio, René me contou que pelo visto se conhecem desde a infância.
- Ai coitado...
Skye levou uma das mãos a boca ao perceber o que falou.
- Mãe! - Desatei a rir.
Skye acabou caindo na risada junto comigo de seu comentário ácido. Minha mãe não é de briga, na real é bem tranquila, mas por alguma razão ela nunca gostou muito dos Saint-Jones, e sempre que eu perguntava o porque ela dizia que "as energias não batem", nunca tentei entender e ela nunca quis me explicar, então ficamos quites.
- Não entendo o porque você não gosta dos Saint-Jones, nunca vi eles fazerem mal para ninguém.
- Certas coisas não tem explicação, a gente só sente.
- É - meus pensamentos voltaram a se perder no rosto do francês - a gente só sente...
Depois do jantar, subi para meu quarto e comecei a adiantar algumas lições de casa - que não eram tantas como disse para minha mãe - ao meu lado, minha playlist de músicas tocava no celular, mania minha de escutar indie enquanto respondia questionários.
Passava pouco das 21:30, estava perto de terminar a última tarefa de casa quando ouvi uma melodia de piano vinda da rua de trás.
Minha atenção se desprendeu totalmente da atividade, pausei a playlist e sem pensar duas vezes corri para o terraço.
Chegando lá, encontrei Skye observando a rua de trás, quase tão curiosa quanto eu.
- Também seduzida pela música? - Perguntei para a loira assim que me aproximei da grade.
- É Michael Jackson, precisava saber quem é o artista que está tocando Human Nature tão perfeitamente, e acho que já descobri.
Skye apontou com a cabeça para a espaçosa varanda dos Saint-Jones, lá havia um piano preto brilhante e sentado em sua frente deslizando seus dedos pelas teclas do piano como se fosse a coisa mais fácil do mundo, estava Heron.
Esse garoto acabou de ultrapassar todos os limites da perfeição.
Meus olhos congelaram naquela cena, a música fluía do instrumento com uma naturalidade palpável, Heron parecia tão imerso na música que era como se o mundo ao redor estivesse parado apenas para ouvi-lo tocar.
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Cartas para Heron Hayes
Roman d'amourEra um novo ano no Gardenia High School, mais um ano em que Adrien South planejava passar despercebido pelos olhos de seus colegas não tão desconhecidos assim e terminar o ensino médio com a mesma paz e tranquilidade que foram os outros anos escolar...