19. Você sabe o certo a se fazer

32 5 23
                                    

- ...agora você imagina aquele ditado na fala nervosa da minha avó? - Heron e eu rimos - Aprendi do jeito mais infalível a nunca fazer fofoca na vida: o método Adele Roux.

- Sua infância deve ter sido... - deixei em aberto para que ele completasse.

- ...curta, cheia de regras e nada divertida? - ele completou encostando suas costas no armário ao lado enquanto eu guardava meus livros no meu - sim e não - Heron devaneou em seus próprios pensamentos - pode acreditar que se eu pudesse voltar para aquela época eu voltava.

O olhei enquanto ele sorria sozinho devaneando dentro de suas memórias. Os olhos brilhando e um sorriso nostálgico. Tomei um grande susto quando ele voltou a olhar para mim de repente.

- Ah! Antes que eu me esqueça, queria te pedir desculpa por hoje de manhã, eu nem pensei como era uma péssima hora. Só ia perguntar se você estava bem depois de ontem ou se o... se ele voltou a te incomodar.

Olhei em volta. Estávamos no meio do corredor, algumas pessoas olhavam para nós mas a aquela altura eu não estava dando a mínima. Heron estava ali comigo, estávamos rindo e conversando, eu estava tão feliz que não conseguia me importar com o que estava acontecendo ao nosso redor.

- Estou bem - sorri brevemente e olhei para o chão - acho que ele ficou bem convencido ontem, eu o conheço... mas não que isso importe mais.

Eu não sei que tipo de expressão esbocei mas Heron ficou quieto por alguns segundos, que ótimo acabei de estraçalhar a energia divertida e leve. Respirei fundo e ergui a cabeça com um leve sorriso tentando ao máximo passar exatamente o que eu sentia naquele momento: leveza. Por ter finalmente me libertado de uma culpa que me assombrava desde o ano passado.

No exato momento em que nossos olhos se cruzaram, Heron abriu brevemente a boca como se fosse me dizer algo, mas seu celular tocou no bolso de sua calça o interrompendo - Ah... só um minuto.

Ele pegou o celular e quando viu quem ligava, virou a tela pra mim.

- Olha só quem está me procurando.

No contato além da foto da baixinha de cabelos rosa que eu conhecia bem, reparei em como o contato de René estava salvo: "René, amiga do Adrien"

Ele atendeu logo depois.

- Griffin - ele disse sorrindo, balbuciou um "até amanhã" para mim, sorri em resposta e o observei ir para seu armário.

Fui caminhando para fora do Gardenia tentando controlar os efeitos colaterais que o Heron causava em mim. Sorrisos bobos, alegria sem motivo, vontade de sair saltitando, dançando e cantando por aí. Aquele sorriso que ele esboçava sem falta toda vez que René lhe dava a entender sobre alguma nova carta era indescritível de tão boa. A cada sorriso eu tinha mais certeza que dúvidas do que a Queen era pra ele. Eu só tinha esperanças de que se um dia eu viesse a me revelar, toda a confiança, afeto e intimidade não fossem embora junto com o disfarce.

Me sentei em um dos bancos da área aberta do colégio e aguardei René enquanto rabiscava letras de música aleatórias na capa do meu caderno. Se ela pôde ligar para Heron era sinal de que o jornal não a "aprisionou" hoje e logo logo ela chegaria.

Eu terminava de escrever o refrão de Good Old-Fashioned Lover Boy quando alguém se aproximou de mim.

- Oi Adrien.

Tirei os olhos do caderno rapidamente esperando encontrar minha melhor amiga sorridente mas quando ergui minha cabeça vi ninguém mais ninguém menos que Meredith Rose Saint-Jones parada em minha frente com um sorriso doce segurando a alça de sua bolsa. Descrente de que ela estava ali por minha causa, ainda olhei em volta a procura de Heron, René, os fiéis seguidores da filha do diretor ou qualquer outro ser humano - ou não - mas não havia mais ninguém por perto além de mim. Ainda sorrindo, ela se sentou ao meu lado no banco.

Cartas para Heron HayesOnde histórias criam vida. Descubra agora