Passei o resto da aula inteira quicando na cadeira de tanto nervosismo e imaginando todas as possibilidades do que viria a seguir, e adivinha, a maioria das possibilidades eram trágicas já que meu auto sabotador particular não tem um dia de folga.
Fui de coisas básicas como o post-it desgrudar do envelope e a René pensar que a carta é para ela e acabar lendo à loucuras do tipo a Meredith e seus seguidores derrubando um balde de sangue de porco na minha cabeça igual aquele livro do Stephen King.
Eu estava em completo pânico, com vontade de arrancar fora a porta do armário de minha amiga e reduzir aquela carta a cinzas e se possível jogá-las no mar depois só para ter garantia de que não chegaria no Heron e nem em ninguém.
Que ideia Adrien, QUE IDEIA.
Quando a aula acabou, eu mal tinha força para levantar da cadeira, eu só queria que um meteoro caísse nos armários ou que aquela carta sumisse como mágica. Se existem mesmo ET's eles tinham que invadir a terra agora!
Me arrastei até o refeitório e poucos minutos depois de eu me sentar numa das mesas, ouvi uma voz eufórica chamar meu nome, o ceifador viera me buscar mais rápido do que imaginei.
- ADRIEEEEN!
René andava as pressas até a mesa com um sorriso gigantesco desviando da multidão como um carro de corrida. Com uma mão ela segurava o chapéu em sua cabeça e com a outra segurava firme o temido envelope.
Era tarde demais.
- ADRIEN, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR NO QUE EU ACABEI DE ENCONTRAR NO MEU ARMÁRIO!
- René se acalma - forcei meu melhor sorriso - qual o furo de reportagem da vez?
Que alvejante seria melhor para tirar o sangue de porco da minha calça jeans?
A garota saltitante sentou no banco a minha frente e ergueu o envelope, e detalhe, estava sem o post-it.
- Eu fui guardar meus livros e assim que abri a porta do meu armário este envelope caiu junto com um post-it, e você nem imagina para quem é essa carta.
- Ah... hm... pra você? - me fiz de sonso, René apertou o envelope contra si com as duas mãos e fez uma cara de sonhadora.
- Para Heron Perrin Hayes - ela disse pausadamente e deu um gritinho.
- O quê? Mas porque estava no seu armário então? - Eu havia ensaiado este diálogo quase a noite toda e até durante o café da manhã.- Essa é a parte Agatha Christie da história, pelo visto é uma carta anônima e EU, EUZINHA, fiquei responsável de entregar! Estou me sentindo num grande filme de mistério, não sei como dou tanta sorte com essas coisas, é incrível!
- Que loucura René - esbanjei um sorriso amarelo - mas como você vai fazer para entregar? A Meredith não sai da cola dele e se a carta é anônima então...
- Muito possivelmente a carta é de alguma pessoa louca que quer peitar a Meredith, o que só torna tudo mais interessante e digno de uma matéria de capa quando eu descobrir o ser de coragem que escreveu essa belezinha!
Peitar a Meredith Rose Saint-Jones? EU PEITAR A MEREDITH? Mal tenho coragem de respirar perto dela quanto mais afrontá-la! Mas se bem que analisando o que eu fiz sinceramente não estou tão longe disso... mas aquilo não é uma carta de amor, definitivamente NÃO É uma carta de amor.
- E sobre a Senhorita Jones, sei o momento perfeito quanto a ela.
René e eu olhamos para a mesa onde os dois estavam sentados.Meredith mexia no celular e a cada 15 segundos mostrava algo para Heron que ria entediado e logo voltava para seu sanduíche fresco, assim sucessivamente.
René observou a mesa quase todo o intervalo, a cada segundo que passava eu ficava mais angustiado e com vontade de arrancar o papel da mão da garota e jogá-lo dentro da lata de lixo do refeitório, mas eu não poderia fazer isso agora aos quarenta e cinco do segundo tempo sem que não parecesse suspeito.
Foi quando do nada, Meredith levantou da mesa e disse algo a Heron que confirmou com a cabeça, em seguida, a loura foi andando em direção ao corredor fora do refeitório junto com o grupo de pessoas que não a deixavam em paz.
- É agora - René sussurrou com um sorriso maléfico enquanto colocava a carta na bolsa pendurada em seu ombro.
Meu deus o que ela iria fazer com o pobre garoto?
- A gente se vê na aula Adrienito - ela se levantou em um pulo e caminhou até a mesa onde o francês saboreava seu lanche de forma serena.
- René espera, René! - Disse tentando não chamar atenção.
A garota de cabelos rosa chegou a mesa de Heron em pulinhos, ele a olhou e sorriu de forma gentil, como sempre fazia. Meu coração disparou.
René dizia algo a Heron que eu não conseguia entender, ele continuava a olhando e balançando a cabeça em confirmação.
Foi quando ela retirou alguns papéis da bolsa e após falar mais algumas frases, Heron se levantou da mesa e por livre e espontânea vontade caminhou ao lado de René para fora do refeitório.
Ele simplesmente seguiu René para fora do refeitório e os dois sumiram do meu campo de visão. Mal acreditava como aquilo havia saído melhor do que previ.
Eu não tinha ideia do que René falou para conseguir tirá-lo de onde estava de forma convincente e sem parecer nem um pouco suspeita, estava louco para saber como ela conseguiu essa proeza. Mas, no lugar do suor frio e nervosismo, uma risada baixa fugiu de minha garganta. Eu sabia que ela arranjaria o melhor jeito de cumprir sua missão. A aquela altura eu já não compreendia direito o que estava sentindo.
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Cartas para Heron Hayes
RomanceEra um novo ano no Gardenia High School, mais um ano em que Adrien South planejava passar despercebido pelos olhos de seus colegas não tão desconhecidos assim e terminar o ensino médio com a mesma paz e tranquilidade que foram os outros anos escolar...