18. Repercussão

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As luzes passavam por meu rosto como um clipe enquanto Skye dirigia de volta para casa pelas ruas noturnas da Califórnia.

Eu observava perdido o caminho já tão conhecido correr pela janela do passageiro, as vezes, meu olhar checava o retrovisor sem querer, de onde tinha a visão do carro de trás que me lembrava da montanha russa de sentimentos do dia de hoje - e contribuindo em 85% para que eu não pensasse que tudo foi um delírio.

A mãe de Heron vinha dirigindo um Nivus chumbo que parecia grande demais atrás de nosso pequeno New Beetle verde, e inevitavelmente seguíamos o mesmo trajeto para nossas casas desde que saímos da fachada do hospital. Agora no silêncio do carro, eu começava a assimilar melhor os detalhes do que foi o dia de hoje. As imagens passavam como flashes em minha cabeça, a adrenalina acabou transformando boa parte do "diálogo" em um grande borrão, de modo que me fez questionar como saí daquela situação e estava agora no carro indo para casa. 

Mas, a única imagem suficientemente nítida para que eu não pudesse esquecê-la nem por um segundo era a de Heron ao meu lado e sua voz calma demais perguntando se eu estava bem.

Fechei os olhos e encostei a cabeça no vidro da janela tentando reorganizar meus pensamentos.

Como eu imaginaria que rever o Gale, algo que esperei tanto até há alguns meses atrás, desencadearia não só sentimentos confusos como certezas que eu não imaginei que viriam tão cedo, dentre elas o último motivo que eu dizia faltar para enfim contar a verdade das cartas ao Heron.

Era bom saber que ele me aceitaria de qualquer forma, era mais que bom, era um alívio! Mas já não dava para negar a essa altura do campeonato que o Heron era mais importante que só um amigo então o medo da rejeição ainda me forçava a recuar só de imaginar como ele reagiria vendo que a Queen era eu, o garoto tímido que faz dupla com ele nas aulas de literatura e lhe causou uma fratura na mão há menos de meia hora atrás.

Era para ser só uma carta de agradecimento, uma única carta, mas agora eu não consigo me imaginar sem ter diariamente um novo texto seu falando sobre uma música que viciou, um filme que assistiu, as praias e cidades que visitou, sobre qualquer coisa que ele quisesse me falar eu gostaria de ouvi-lo.

- Então... o que foi que aconteceu com o vizinho? - perguntou Skye depois de um longo tempo de silêncio dentro do carro.

- Trincou dois metacarpos e luxou o músculo de três dedos - Disse, Skye fez uma careta.

- Nossa - ela riu de surpresa - como ele obteve essa proeza?

Eu não conseguiria esconder essa história da minha mãe por muito tempo, ainda mais se ela fosse notificada pela coordenação de que seu filho estava envolvido em um "desentendimento de grande proporção" no portão do Colégio. Era melhor adiantá-la.

- O Gale apareceu no Gardenia.

Skye arregalou os olhos brevemente.

- Não me diga que...

- É isso mesmo que você tá pensando - me encostei no banco e fechei os olhos devaneando por alguns segundos - O Heron socou a cara do Gale.

- Gente... - Skye levou uma das mãos a boca - calma, é muita informação! Você tá me dizendo que o Heron quebrou a mão socando a cara do seu ex namorado?????

- Sim - ri, ainda era tão absurdo pensar que isso realmente aconteceu.

- Eu amei esse garoto... - Skye sussurrou, o que Heron fez hoje foi o tipo de coisa que ela queria ter feito ano passado pra me defender, mas não fez pois corria o risco de ser presa por isso - mas, por quê? Ele sabia do acontecido com esse garoto?

Cartas para Heron HayesOnde histórias criam vida. Descubra agora