11. Dias de luta e dias de...luta

28 8 3
                                    

Passei o resto da aula leve como uma pluma.

Heron, apesar dos comentários não terem parado, parecia muito mais confiante depois daquela simples mensagem numa borracha e eu não estava me sentindo mais tão acuado em estar perto dele, já era um avanço enorme pra mim. Estava orgulhoso, pela primeira vez eu não consegui achar algo errado numa decisão tomada na pressa e aquilo era um milagre.

Assim que o sinal para a saída tocou e a maioria das pessoas começaram a sair, comecei a organizar meu material para enfim voltar para casa e aproveitar o fim de semana, seria longos dois dias de muitas suposições, já estava me vendo contar os minutos até o dia em que eu pudesse ter novamente uma carta de Heron nas mãos - e eu rezava pra que segunda fosse esse dia.

Já estava pronto para levantar quando ouço Heron me chamar, senti um dejavú.

Olhei para Heron, ele parecia meio nervoso ou eu estava vendo coisas?

- Eu só... queria agradecer outra vez pela borracha - ele riu baixo e passou uma de suas mãos pelo cabelo revelando um discreto piercing prata na sobrancelha direita, meu Deus ele não tem mais por onde ser lindo mesmo.

Eu imaginei que iria para casa hoje certo de que não cometeria nenhuma gafe na frente dele, mas assim que senti meu coração disparar quando seus olhos pararam nos meus e ouvi sua risada charmosamente envergonhada eu perdi tudo.

- Aah... eu, e-eu...

E lá estava eu gaguejando outra vez, eu estava bem há até trinta segundos atrás porque ele tinha que me olhar daquele jeito com aquele sorriso de lado, aquele olhar e aquele carisma de destruir qualquer um... eu nunca conseguiria ter uma conversa decente com ele cara a cara nunca!

- Er... DE NADA! - cuspi as palavras - q-quer dizer, não tem que agradecer não é o mínimo que eu...podia...fazer... - minha voz foi diminuindo conforme fui terminando a frase, eu só queria sumir naquele momento.

Um silêncio se instalou na sala, ficamos nos entreolhando por alguns segundos sem saber o que falar agora, eu já estava prestes a me despedir de qualquer forma e sair correndo antes que eu desmaiasse ali mesmo.

Até ele quebrar o silêncio.

- Aaah... bom eu estava aqui pensando... eu tenho um trabalho de geografia pra entregar segunda sobre Santa Mônica, é uma entrevista, e bem eu cheguei há pouco tempo e como a escola toda deve ter percebido eu me desentendi com a única pessoa que eu conhecia que mora aqui desde sempre então eu pensei que...

475 mil coisas diferentes começaram a passar pela minha cabeça antes mesmo dele terminar de falar: meu número de telefone, um encontro, um tour completo por Santa Mônica, um pedido de noivado... meu desespero voltou com força total.

No mesmo instante, René aparece na porta da sala mas assim que vê que estávamos sozinhos dá três passos pra trás da parede como se nunca houvesse estado ali.

- RENÉ! - eu disparei sem pensar, Heron me olhou confuso.
- René? - ele olhou para a porta imediatamente, e não havia nada ali.

Droga o que raios eu estou fazendo dessa minha vida miserável??????
Eu não podia pagar de doido agora - o que ele provavelmente já acha que sou - tinha que agir rápido e contornar a situação.

- Aah René! S-sim a René! Ela conhece a cidade como ninguém com certeza pode te ajudar, p-posso falar com ela se quiser, ela com certeza vai aceitar numa boa.

Exibi meu maior sorriso amarelo de desespero, Heron riu de nervoso.

E é nessa hora que eu me arrependo do que disse e anulo todas as coisas úteis que fiz ao longo do dia todo! EU. ME. ODEIO.

- OI GENTE - René aparece na sala com um sorriso enorme e um olhar desesperado - nossa que bom encontrar você aqui Hayes! Acredita que estava justamente procurando por você? Olha que coincidência HAHAHA - ela riu sem graça.

Heron rapidamente desviou do que conversávamos como se nada houvesse acontecido e olhou esperançoso para René, entendi perfeitamente o que ele estava esperando quando ele fez como se fosse dizer algo mas travou imediatamente.
Aí percebi que estava sobrando por conta da minha própria carta, isso é bom ou ruim?

Quer saber? Depois eu penso nisso.

- René eu... e-eu estou lá fora, tchau!

Saí em disparada da sala deixando os dois sozinhos e andei a passos largos até o meu armário. Joguei todas as minhas coisas lá sem nem arrumar, peguei os livros que precisaria pro final de semana e corri pra fora do Colégio sem nem olhar para trás.
Quando saí do prédio, percebi um estranho movimento nos bancos da área aberta do Gardenia próximos ao portão principal.

Meredith Rose andava de um lado para o outro com o celular na mão como se ligasse para alguém, alguns alunos estavam a sua volta curiosos querendo saber o que estava acontecendo, eu podia estar errado, mas aposto que era sobre a briga com o francês. 

Cartas para Heron HayesOnde histórias criam vida. Descubra agora