Eu não comemoro aniversários. A razão? Eu acabei perdendo a minha mãe no dia em que nasci. Ela deu sua vida pela minha. E eu deveria comemorar a data com alegria, mas não consigo, não quando ela não está aqui, não quando eu sou o motivo dela não estar aqui. Eu sei que não devo me culpar, mas, as vezes não consigo evitar. Eu só queria que tudo pudesse ter sido diferente, eu não entendia como o destino funcionava, mas sabia que ele está além do nosso querer, foge do nosso controle. Para mim, o destino poderia ser cruel e amargo. Difícil de aceitar.
Minha tia havia me dado um caderno de anotações roxo - porque roxo é minha cor favorita - com flores e borboletas em diferentes tons de púrpura na capa, quando ela o entregou me disse que escrever poderia ser libertador, colocar em forma de palavras cada sentimento gritante que ronda nossas cabeças. Então, de vez em quando venho rabiscar alguns versos em busca de consolo. Também o uso para fazer anotações escolares importantes, poderia até chamá-lo de diário se escrevesse mais sobre meus sentimentos do que sobre o que vai cair nas provas, e se eu também não arrancasse as folhas e as jogassem no lixo quando falo sobre o que sinto.
Hoje escrevi sobre o fato de não comemorar aniversários. Esse dia era um grande gatilho para mim, principalmente para meu pai. Ele amava minha mãe e ela foi tirada dele tão precocemente, minha tia disse que na época ele ficou muito mal e se recusava a falar com qualquer pessoa. Tia Susi foi quem cuidou de mim no começo até meu pai melhorar.
Duas batidas em minha porta me chamam a atenção fazendo eu olhar para ela, estava sentada sobre minha cama, o travesseiro sobre as pernas e meu caderno apoiado nele enquanto escrevia o quanto achava o destino injusto.
— Pode entrar — falo alto, minha tia aparece abrindo metade da porta, hoje ela estava por aqui em uma das suas visitas frequentes. Tia Susi era como uma mãe para mim, eu era muito grata por tê-la em minha vida, sempre senti falta de uma figura materna, mas eu tinha a ela e isso me reconfortava. Todos os finais de semana ela vem para cá, tia Susi mora em uma cidade vizinha a nossa, chamada Crowerville, e desde que seu filho Arthur se formou no ensino médio e foi embora para fazer a faculdade ela procura um emprego aqui em Streewood para se mudar e ficar mais perto da gente. Faz alguns meses que ela está a procura, já que aqui é difícil achar um emprego, mas sei que logo ela vai conseguir.
— Oi, Vi, você disse que tinha um trabalho que precisava de ajuda para terminar? Logo eu já vou ter que ir... — Ela sorri gentil em minha direção.
— Ah, claro — exclamo. — Vou pegar os materiais, te encontro na sala — minha tia concorda e me deixa sozinha no quarto.
Saio da cama, antes de fechar o caderno arranco a folha que quase preenchi toda com meus pensamentos gritantes, amassei e joguei no meu lixeiro que ficava ao lado da minha amiga escrivaninha.
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Violet
Teen FictionViolet perdeu a mãe no parto, então para ela seu aniversário tinha um significado um tanto quanto doloroso. A jovem garota não entendia como o destino podia ser tão cruel às vezes. O peso da culpa quando a data se aproximava lhe batia a porta do cor...