• XIV

523 54 37
                                    

Christopher Velez

Minha cabeça estava latejando, tinha uma vaga lembrança de Amélia e Zabdiel no meu apartamento. Meu coração começou a disparar quando a recordação de tudo que falei ontem veio à tona.
Bati com a palma da mão na testa pensando em como eu era um grandioso estúpido, não era possível que aquilo realmente tivesse acontecido.

Tomei um banho gelado esperando tirar tudo aquilo da cabeça e mais uma vez fingir para minha melhor amiga, ou seja lá o que éramos agora, que tinha esquecido de tudo depois de uma bebedeira. Um flash de quando estávamos no elevador de repente surgiu em minha mente onde ela dizia com frieza "esquece tá, você é bom em fazer isso de qualquer jeito." Um vazio se abriu no meu peito, era desesperador saber que agora ela tinha a consciência de tudo que eu fiz.

Sai do meu quarto apenas vestindo uma bermuda, me deparei com Zabdiel na cozinha preparando algumas panquecas. Aquilo era meu choque de realidade, realmente tinha acontecido.

— Bom dia. — sorri fraco para o loiro que demorou alguns segundos para retribuir — Suas panquecas são as melhores, bro.

— Amélia gosta muito delas. — ele respondeu sem tirar os olhos da frigideira.

— Zabdiel... eu sei que ela já deve ter te contado o que aconteceu e...

— E o que, Chris? Eu passei a noite inteira pensando: "ele tem que ter uma justificativa melhor do que aquela de não saber se gostava dela no momento", mas sabe, não consigo imaginar nada que seja tão injusto e egoísta quanto essa atitude que você teve com ela. — eu sabia que era hora de escutar o sermão do meu amigo — Christopher, você fingiu ter esquecido um momento que fez com que ela criasse tantas expectativas, ela se esforçou pra superar e não atrapalhar a amizade que vocês dois tinham e você simplesmente faz isso.

— Eu realmente não sei o que passou na minha cabeça naquela época para ter imaginado que seria uma boa ideia. — dei uma garfada na panqueca que ele tinha colocado na minha frente — Entendo meu erro, mas não tem nada que eu possa fazer agora, já foi feito.

— Não tem nada que você possa fazer? Pedir desculpas não é uma opção pra você? — Zabdiel tentava não elevar o tom de voz. — As coisas que disse ontem, que não sabia o que sentia por ela, mas depois descobriu, e agora sua namorada odeia a Amélia por isso. Você bagunçou a cabeça dela, seu imbecil.

Eu sabia que ele precisava desabafar tudo o que pensava, sabia que tinha errado absurdamente com uma das pessoas que mais me amava na vida.

— Eu tava apavorado entendeu? Ela pegou um voo do Equador para Miami pra me fazer uma surpresa, que tipo de pessoa faz isso sem estar apaixonada?

— Sua melhor amiga! — ele agora passava as mãos pelos cabelos numa mistura de estresse e desespero.

— Eu não tinha pensado nessa possibilidade, Zab! Eu tinha 20 anos, tava bêbado, beijei ela e falei muita merda, tá? Me arrependi no dia seguinte e pensei que fingir que esqueci seria melhor pra ela.

— Você destruiu uma parte dela ontem, sorte sua que estava bêbado o suficiente para não ter visto o caos que deixou aqui. — aquelas palavras dele me atingiram de um jeito inexplicável — Tome cuidado com as suas decisões quando não estiver sóbrio.

Comemos as nossas panquecas em silêncio. Ainda havia mais uma questão martelando na minha cabeça e eu precisava ser aconselhado pelo meu amigo.

— Eu sei que to correndo o risco de levar um soco depois disso, mas preciso perguntar... — o porto-riquenho me olhava como se dissesse que poderia prosseguir — Samantha estava pensando em vir morar comigo por um tempo, seria muito chato se eu conversasse com Amélia e pedisse, hm, você sabe, pra ela sair do apartamento?

Zabdiel ficou incrédulo, largou a frigideira que tinha acabado de pegar para fazer as panquecas para a morena.

— Não é possível. Nem sei o que dizer. — voltou a prestar atenção no que estava fazendo.

— Ela podia ficar com você por uns tempos, sei lá, vocês estão tão próximos ultimamente.

— Você tá se escutando? Tá pensando antes de falar? Ela pode vir morar comigo pelo tempo que ela quiser, mas você tenha a consciência de que é, ou era, o melhor amigo dela e agora simplesmente tá abandonando tudo isso por uma pessoa que acabou de conhecer. — quando terminou o sermão, seus olhos se arregalaram e logo em seguida a expressão de tristeza tomou conta de seu rosto.

Me virei para trás curioso e vi Amélia parada ali, ainda de pijama com os olhos marejados, ela evitava ao máximo olhar em minha direção. Com certa dificuldade a garota finalmente abriu a boca.

— Zabdiel, você pode, por favor, me levar até o aeroporto? — ele assentiu — Obrigada.

Virou as costas andando em direção ao seu quarto e pudemos ouvir o barulho da chave trancando a porta. O loiro terminou as panquecas, preparou um achocolatado e levou até ela. Me vesti o mais rápido possível pensando em sair de lá o quanto antes, precisava esfriar a cabeça.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora