• XXXIV

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Amélia Rodriguez

Minha campainha tocava me irritando ao extremo as onze da noite. Calcei meu chinelo, me levantando da cama e caminhando até a porta praticamente me arrastando. Dei de cara com um Christopher descabelado, com uma expressão cansada mas ainda assim seus olhos estavam bem arregalados para alguém que deveria estar caindo de sono. Dei espaço para que ele entrasse, ainda que nada tivesse saído de sua boca.

— Tá tudo bem? — perguntei preocupada apontando para o sofá e ele se sentou.

— Você me beijou. — disse.

— Sim, eu te beijei.

— E falou que queria que eu tivesse te beijado ontem. — meu amigo estava travado.

— Falei.

— E eu não te beijei porque achei que queria que as coisas fossem mais devagar. — eu segurei minha risada, estava achando fofo o jeito como ele falava.

— Eu disse. — gargalhei me lembrando — Perdão, Chris, eu falei exatamente isso. Devagar e o mais natural possível. — ele assentia como um louco — E aí hoje eu te beijei.

— SIM! Você me beijou. — agora ele estava de pé com as duas mãos segurando meu rosto — Não que eu não tenha gostado, porque eu quero mais e mais e mais e acho que nunca vou me cansar disso, mas sem aviso prévio? E se eu fosse cardíaco?

— A gente descobriria ali. — rimos juntos — Me desculpa, tá? Eu devia ter dado algumas dicas, achei que dormir abraçada já seria o suficiente.

— Você vai me enlouquecer, Amélia! "Vamos devagar" e dormiu abraçada comigo, me beijou. ME BEIJOU!

— Christopher, para, minha barriga tá doendo. — agora eu dava tanta risada que começava a ficar sem ar — Eu me esqueci que tinha dito a palavra devagar! Eu deveria ter dito 'calma'.

Dá na mesma! Você deveria ser multada porque com certeza ultrapassou uns dois sinais vermelhos seguidos.

Aquela conversa estava me rendendo boas gargalhadas e só Deus sabe o quanto eu amo rir atoa. Prazer, sou a maior riso frouxo que existe no mundo. Christopher não estava com o tom alterado, estava fazendo aquilo porque sabia que me faria rir até dizer chega. Ele segurava tanto o riso que as vezes parecia que ficava até roxo e aquilo me fazia rir mais ainda.

— Eu pago a multa! — levantei as mãos me rendendo.

— Como se tivesse outra escolha. — nos encarávamos.

Acredito que até mesmo o outro lado do mundo podia sentir a tensão daquela troca de olhares.
Eu não me atrevia nem a piscar para não correr o risco de perder qualquer movimento que fosse. Mas ficamos tempo demais nisso e não aguentei.

— Piscou, perdeu, vai dormir em casa hoje. — Christopher rodava feliz.

— Quando decidimos isso? — coloquei as mãos na cintura.

— Quando entramos nessa competição de ver quem ficava mais tempo sem piscar. Vai lá, pega sua escova de dente, vamos. — obedeci um pouco contrariada.

— A gente só dorme aqui, acho injusto. — respondeu no elevador enquanto unia nossas mãos.

— Eu dormi nesse apartamento por uns 4 anos e nunca reclamei!

— Você morava nele!

Mostrei a língua, aceitando minha derrota.

***

Depois do dia em que decidiram colocar um novo projeto no lugar do álbum autoral minha vida não tinha tido um segundo de paz sequer. Era o tempo todo pensando em estéticas para clipes, roupas para campanhas e entrevistas, além de todos os photoshoots que teriam que ser encaixados na agenda.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora