• XIX

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Christopher Velez

Cheguei em casa arrastando os pés de tamanho cansaço, o dia de hoje definitivamente entraria na lista de um dos piores da minha vida. Abri a porta e vi no chão o molho de chaves com o chaveiro que uma vez eu havia mandado de presente para Lia assim que me mudei para os Estados Unidos. Ela sempre insistia em me lembrar que era seu chaveiro favorito, como se fosse seu amuleto da sorte.

Aquele chaveiro tinha sido a única coisa que eu consegui comprar durante minhas primeiras semanas aqui, juntei dinheiro suficiente para poder enviá-lo para ela no dia de seu aniversário junto com uma pequena cartinha, agora era também a única coisa que me lembrava ela que havia sobrado.

Dividimos aquele apartamento por quatro bons anos, e, de repente eu tive o dom de destruir tudo. Joguei toda a nossa amizade no lixo, sem nem ao menos pensar.

Caminhei até seu quarto, que tinha a porta entreaberta e estava completamente vazio, com exceção de sua cama, a penteadeira e o guarda-roupa. Não pude evitar de lembrar do dia em que ela comprara tudo isso, ela havia economizado por alguns meses para decorar seu quarto do jeito que sempre tinha sonhado, o sorriso que ela tinha no rosto seria capaz de iluminar o mundo inteiro naquele momento.

Me sentei em sua cama ficando ali por algum tempo e observando cada detalhe daquele cômodo onde tínhamos passado incontáveis noites em claro conversando, rindo e assistindo filmes.

— Seu merda! — disse a mim mesmo.

Meus amigos tinham razão sobre tudo, desde o dia do clipe, eu estava com ciúmes dela por nunca ter imaginado que algum deles poderiam fazê-la mais feliz do que eu fazia. E no final das contas só a deixei infeliz.

O toque do meu celular começou a gritar chamando minha atenção de volta para a realidade, era minha mãe, provavelmente estava preocupada comigo já que não apareci em Loja com Lia.

— Hola, mami. — atendi desanimado.

Christopher Bryant Velez Muñoz, posso saber por que é que o senhor não veio para casa? — precisava bolar uma boa desculpa.

— Precisei ficar porque tive que resolver alguns assuntos da...

Não minta para sua mãe! — ela respondeu irritada — Você e Amélia nunca foram bons mentirosos, quando ela me disse que você estava ocupado já sabia que era mentira.

Desculpa, mãe. — e agora o que diria? — Eu não estava me sentindo muito bem.

O que você aprontou? — minha mãe disse de repente — Amélia está namorando o Zabdiel?

Não. Quer dizer, não sei na verdade...

Se você não sabe quer dizer que tem alguma coisa errada. — o instinto dela nunca falhava — O que aconteceu, Christopher?

Minha mãe era a maior defensora de Lia, amava a garota como se fosse sua filha e sempre fazia questão de estar junto dela em todas as oportunidades que tinha. Quando avisamos que moraríamos juntos ela pulou de felicidade pois sabia que minha amiga tomaria conta de mim e não me deixaria fazer nenhuma besteira. Lia era boa nisso, mas eu não soube valorizar.

— Não aconteceu nada, mãe, a gente acabou se afastando um pouco, só isso. — suspirei.

Ela estava insistindo para que eu contasse o que realmente tinha acontecido, minha mãe era teimosa quando queria, depois de alguns minutos contando toda aquela confusão pela milésima vez eu já me sentia esgotado, mas ela ainda tinha muito o que dizer.

Christopher, você precisa conversar com as pessoas, aprenda a dialogar mais. Não adianta você se afastar da pessoa que mais te apoiava e te amava depois de mim e agora se sentir mal com isso. Perceba que em nenhum momento você contou a ela o que estava acontecendo na sua vida, ela ficou sabendo através de outras pessoas, e vocês dividem um apartamento! — minha mãe tinha toda razão — Espero que você reflita muito bem sobre tudo isso nesses próximos dias e que procure Amélia para conversar o quanto antes, mas agora deixe ela respirar, se encontrar, porque é o que ela precisa agora.

Conversamos por mais alguns minutos sobre aquele assunto e ela me fez enxergar as coisas com mais clareza. Joel tinha dito que eu precisava aprender a perder coisas e pessoas, minha mãe disse que eu deveria aprender a dialogar e ambos estavam certos. Tudo estava indo por água abaixo porque eu não soube ter atitudes maduras o suficiente para lidar com a situação, preferi fugir, me esconder, varrer as coisas para debaixo do tapete e fingir que elas não estavam ali.

Abri meu Instagram para ver o que estava rolando e ali tinham stories de Amelia e Zabdiel um na sequência do outro, pensei alguns segundos antes de abrir para ver o que era. Cliquei no ícone do meu amigo primeiro.
Ele estava sentado com o violão no colo e o microfone apoiado em sua frente enquanto ela tinha um microfone sem fio na mão e cantava meu solo em Cien. Era possível sentir as emoções que ela sentia só pela maneira com que se expressava enquanto cantava, eu reconhecia cada movimento daquele rosto e sabia que ela se sentia triste. E o culpado era eu.

Já nos stories de Amelia, ela e Zabdiel cantavam Dejaria Todo uma de suas músicas favoritas, foi então que tive uma ideia.
Sai do Instagram imediatamente e disquei o número de Joel.

— Preciso que me encontre no estúdio, agora! — desliguei, calcei meus tênis e sai correndo.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora