• XVIII

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Amélia Rodriguez

Chegamos cedo no hospital, minhas mãos suavam frio, eu estava inquieta. Zabdiel pelo contrário, exalava uma calma invejável, não parava de dizer que as coisas dariam certo o mais rápido possível e eu me esforçava para acreditar.

Melissa estava deitada em sua cama, tinha crescido desde o último verão, seus cabelos estavam presos em tranças que ela amava. Seu sorriso não poderia ficar maior quando me viu, enquanto isso as lágrimas teimavam em rolar pelo meu rosto.

Felizmente minha tia era compatível e fariam a cirurgia amanhã, então eu não precisaria fazer o exame. Ela estava bem abatida, já não tinha o mesmo ânimo de sempre mas se esforçava para que eu soubesse que estava feliz com a minha presença ali.
Assim que viu Zabdiel entrar pela porta jurei que ela soltaria um grito, mas nenhum som saiu de sua boca que estava aberta. Eles se abraçaram e conversaram um pouco enquanto eu me encantava em ver como eram carinhosos um com o outro.

— Lia, tive uma ideia que vai animar a Mel. — Ele veio sussurrando em minha direção — Vem comigo.

Saímos pelo hospital e fomos a pé para casa, eu não estava entendendo nada mas confiava no garoto.

— O que vamos fazer? — perguntava já morrendo de curiosidade.

— Você deixou seu violão aqui né? — Zabdiel andava pelo quarto procurando o violão.

— Sim. O que você quer com meu violão? — caminhei até a porta do escritório e peguei o instrumento.

— Vamos fazer um showzinho acústico. — ele sorria.

— Tem certeza que podemos fazer isso? — eu rodeava a cama enquanto ele fazia que sim com a cabeça — Tudo bem, vamos fazer um show acústico.

Conversamos com o pessoal do hospital e eles nos autorizaram a usar uma sala para dar vida à nossa ideia. Os pediatras levaram mais algumas crianças. Era impossível não se emocionar com a reação de cada uma delas quando nos viram sentados com um violão e microfones. Melissa tinha um ar mais animado e ansioso.

Começamos com Reggaeton Lento e a euforia foi surreal, todos eles sorriam, batiam palmas e nos acompanhavam cantando junto. Em seguida cantamos Hey DJ, Mamita e Bonita.
Os pais se emocionavam e choravam em ver os filhos numa alegria sem tamanho, o que me fazia segurar ao máximo o choro também. Minha mãe gravava tudo sorrindo como nunca antes.

— Essa canção é a favorita da minha irmãzinha e não poderia ficar de fora! — falei no microfone apontando para Melissa e fazendo um coração com as mãos.

Zabdiel começou a tocar os acordes de Cien enquanto eu era atingida por um turbilhão enquanto cantava.

Duele cien, veces más
Que si se hundiera un clavo, en mi piel
Cada vez que veo tu foto y aun estas con el
No aprendí aceptar que seas de otro, no

Minha mente insistia em me torturar me fazendo pensar nele. Lembro do lançamento dessa canção, ficamos felizes e fomos comemorar juntos, como sempre éramos os últimos a ir embora, inimigos do fim. E agora me lembrar disso doía bem mais do que se um prego afundasse na minha pele.

De fingir, me cansé
Ya no me importa lo que creas de mí
Yo no entiendo si al final quieres esta aquí
Por que insistes en quedarte allí, no

Eu odiava misturar música com sentimento em relação às pessoas em geral, mas não podia evitar de pensar em como Cien se encaixava como uma luva aqui.

Y es que dudo
Que él en verdad te ame como yo
Y es que no me creo que en otro lugar
Eres más feliz, de lo que fuiste aquí

O loiro começou a cantar me tirando de todos aqueles devaneios. Quando percebi já estávamos no refrão.

Y que esperas tu de mí
Si hasta el cielo te lo di
En que punto fue que te perdí
Juro no lo vi

Si fallé me arrepentí
De rodillas ante ti
Pero sabes que no te mentí
Cuando dije

Nadie te amará como yo a ti te amo
Nadie te amará

Cantamos a segunda parte da música e o refrão novamente, eu estava me sentindo bem por estar em casa mas ainda assim desolada por ter que me afastar dele. Balancei a cabeça tentando afastar todos aqueles pensamentos, voltando toda a minha atenção para o presente.

Adicionamos algumas outras músicas no repertório que durou mais uns 30 minutos, quando fomos avisados que teríamos que terminar nosso pequeno show.

Ver todas aquelas crianças com sorrisos, ainda cantarolando algumas canções, felizes como nunca antes e pedindo por mais tinha reconfortado meu coração. Melissa nos elogiava a cada dois minutos, o que era engraçado e fofo ao mesmo tempo. Ela não queria desgrudar de Zabdiel por nada, então fui até a cafeteria para buscar comida. Quando voltei ao quarto com a bandeja que tinha dois pratos e duas maçãs em cima dela, encontrei minha irmã dormindo serena no ombro dele, não pude evitar sorrir com essa cena.

— Ela me pediu pra deitar aqui e fazer companhia. — ele respondeu se desvencilhando dela, que continuou dormindo.

— É bem a cara dela. — dei risada — Ela te adora. Nunca vou poder te agradecer o suficiente por ter são atencioso e carinhoso com ela.

— Vem cá. — me puxou para um abraço — Isso é o mínimo que vocês três merecem! Eu nunca vou deixar de estar aqui. — depositou um beijo no topo da minha cabeça.

Ultimamente ele estava sendo meu único apoio, sentia que estando ao lado dele eu sempre estaria em paz, o mundo parecia melhor por tê-lo aqui. Quão abençoada eu era por poder compartilhar momentos bons e até mesmo os ruins com Zabdiel de Jesús.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora