• XXXII

498 53 82
                                    

Amélia Rodriguez

Agora tudo fazia sentido. De Cero era pra mim. Tudo sobre um recomeço. Isso explicava todos os planos e encontros que tivemos nas últimas semanas. Os passeios ao por do sol na praia descalços. Almoços e jantares surpresas nos restaurantes que comemorávamos ocasiões especiais. As tardes ouvindo nossas músicas favoritas deitados no chão da sala falando sobre nada que tenha muita importância. Até mesmo as entregas de pizzas, lanches e as vezes sushi enquanto ele estava no estúdio.

Christopher estava tentando recomeçar. Me levando de volta ao passado? Isso era fofo, mas alguma coisa nisso tudo não me fazia sentir confortável. Algo me incomodava lá no fundo. Mas como eu conversaria com ele sem dizer que havia descoberto que ele escrevera uma música para mim? Como eu diria que se ficarmos agindo como antes, não sairíamos do passado e não deixaríamos pra trás tudo aquilo que causou nosso breve afastamento sem magoá-lo?

Corri para casa. Precisava ficar sozinha. Quer dizer, precisava de Olivia, o mais rápido possível. Nos encontramos no hall do meu prédio.

— O que aconteceu? Você está pálida. — ela corria atrás de mim até o elevador.

— Te conto quando chegarmos em casa. — respondi olhando para a porta.

— Eu devo me preocupar? Porque realmente estou muito preocupada, sabe, você não está com uma cara boa depois de ter me dado aquela notícia por mensagem. Achei que você ia estar com aquele sorrisinho bobo de gente apaixonada, entende? E aí você tá branca, tremendo, parece até que viu um fantasma. — Olivia despejou tudo muito rápido e eu entendia sua preocupação.

Entramos em casa, joguei minhas chaves na mesa e me lancei no sofá. Minha amiga estava parada de pé na minha frente esperando alguma explicação para tudo aquilo.

— Christopher escreveu De Cero pra mim. — desabafei.

— O QUÊ? NÃO, NÃO BRINCA COM ISSO AMELIAAAAAA, SÉRIO? — assenti — QUE COISA LINDA, A MÚSICA É PERFEITA. COMO NÃO REPAREI NISSO ANTES? DE CERO É TÃO VOCÊS DOIS!

— Pois é. — ela parou de pular quando viu minha animação, ou melhor, quando não viu.

— Posso saber por que você tá borocoxô? Eu hein, ganhou uma música maravilhosa e tá aí com essa cara de tacho. — sentou-se ao meu lado.

— Eu não tô entendendo muita coisa. Não foi ele que me contou que a música era pra mim, eu ouvi o Joel dizendo sem querer, eles não sabiam que eu estava ali. Também percebi que ele tá tentando nos levar de volta ao passado pra sei lá, começar de novo? — Olivia me encarava, pensativa.

— E o que você sente em relação a isso?

— Não sei se é uma boa ideia. Não me senti muito a vontade pensando nisso, acho que somos pessoas diferentes agora. Antes éramos muito jovens e imaturos, além disso, não tínhamos nenhum problema do tipo que tivemos recentemente. Minha cabeça mudou depois disso tudo e acredito que a dele também, então pra mim, não faz muito sentido voltarmos no tempo. — ela concordava silenciosamente.

— Mas você pretende conversar com ele? — fiz que sim — Bom, então vocês vão se resolver e espero que tudo dê certo. Abra seu coração e seja sincera, não deixe de dizer nada só por medo de magoá-lo, promete?

— Prometo. Mas e se eu acabar com a nossa amizade de vez? — a morena se aproximou mais de mim colocando sua cabeça em meu ombro.

— Lia, vocês são amigos desde sempre, se conhecem como ninguém e sabem como segurar a barra. Sei que vocês dois são muito conectados e por isso tenho certeza que essa conversa só vai servir pra uni-los mais ainda. Nada nessa vida consegue manter Christopher e Amelia separados por muito tempo. — sorri pensando que era verdade.

Eu era sortuda por tê-la comigo. Olivia sempre sabia o que dizer, as palavras dela acalmavam meu coração e clareavam meus sentimentos como nunca ninguém havia feito antes. Encontrava conforto, segurança e lealdade nela, além de saber que todos os seus conselhos serviriam para o meu bem e nada além disso.

Assim que ela saiu de casa para se encontrar com o namorado, peguei meu celular e imediatamente convidei Christopher para vir até aqui, ele respondeu em questão de segundos, o que me fez agradecer mentalmente, porque isso não podia esperar por muito mais tempo.

Estava sentada na varanda quando ouvi a porta se abrir e fechar logo em seguida mas não me virei para trás porque sabia que ele chegaria até mim o mais depressa que podia.

— Oi... — Christopher disse sem graça — Soube que você descobriu sobre a música.

— Sim. — sorri fraco — Queria conversar com você sobre tudo.

— Pode falar. — ele respondeu se sentando na cadeira ao meu lado — Mas posso perguntar uma coisa antes? Você não gostou da música?

— Claro que gostei! Eu amei, ela é linda, Chris. Na verdade eu queria conversar sobre outra coisa... Percebi que nessas últimas semanas estávamos fazendo coisas que costumávamos fazer anos atrás, assim que nos mudamos para Miami. E não que eu não goste de fazer tudo isso com você, porque me agrada muito, muito mesmo. O problema é que não quero que você pense que voltar ao passado faça com que o nosso recomeço seja melhor. Nós mudamos muito nesses meses, crescemos. As coisas estão diferentes agora, entende?

— Sim. Sinto muito se te causei algum desconforto com tudo isso, nunca foi a minha intenção. Eu falei sério quando disse que queria te dar motivos para me querer cada vez mais perto e não vou fazer isso te forçando a nada, quero se seja natural. Sempre que algo que eu fizer te incomodar, pode vir correndo falar comigo, eu vou tentar mudar. Tô tentando melhorar, Lia, por você. — seus olhos estavam marejados mas ele se segurava para não chorar e eu torcia para que aquilo não acontecesse porque iria chorar junto.

— Obrigada por ter vindo. — fiquei de pé abrindo meus braços e me encaixando no abraço dele — Tirei um peso das costas. E eu te quero por perto sim.

— Agora sobre a música... — Christopher me tirou do abraço, olhando em meus olhos — Não era pra você ter descoberto pelo bocudo do Joel, eu tinha planejado uma coisinha pra te contar.

Eu ri.

— Você ainda pode fazer, eu finjo surpresa. — ele sorriu.

— Não, você é péssima atriz. — belisquei seu braço — Mas podemos deixar para uma próxima ocasião, o que me diz?

— Eu topo tudo, desde que você concorde que as coisas vão acontecer devagar e o mais natural possível. — ele estendeu o dedinho e eu rindo entendi o recado — Agora vem, eu comprei um bolo no caminho pra cá.

Terminamos nossa tarde assim, sentados um de frente para o outro, conversando, tomando café e dando altas risadas. Meu coração se sentia tranquilo mas lá no fundo eu ainda podia sentir o receio de me apaixonar por ele de novo. Talvez Olivia estivesse certa, mas eu me recusava a acreditar nela por enquanto. Não queria assumir que talvez uma parte de mim nunca tivesse realmente parado de amá-lo, mas isso era perigoso, não era? Admitir que o amava poderia ser minha salvação ou destruição e eu ainda não estava pronta para descobrir.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora