• XXIV

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Amélia Rodriguez

Zabdiel de Jesus Cólon, você sabia de tudo, seu pilantra. — disse batendo levemente em seu braço enquanto entrávamos em casa, sabia que não fazia nem cócegas.

— Sim. — respondeu sorrindo mostrando sua covinha — E foi um prazer fazer essa surpresa pra você.

Nunca tinha me sentido tão feliz e amada nesses últimos meses como me senti hoje. Simplesmente não conseguia tirar o sorriso do meu rosto, era impossível. Zabdiel passou o caminho inteiro fazendo graça com isso, a cada 5 segundos ele me olhava para checar se eu continuava sorrindo. E era óbvio que eu estava.

— Que gracinha, toda felizinha. — apertou minhas bochechas — Agora já pra cama.

— Já pra cama, só nos seus sonhos, Zabdiel! Você vai me contar como tudo isso aconteceu em detalhes. — Falei cerrando os olhos tentando parecer ameaçadora e apontando para que ele se sentasse do meu lado no sofá.

— Certo. Por onde começo? — fez uma pausa dramática e recebeu um beliscão — Ah, sim, claro. Christopher quis gravar essa música para te pedir desculpas porque reconheceu que foi um babaca com você. Aí também teve a ideia de fazer uma festa surpresa na casa do Erick porque achou que se você não o perdoasse com a música, talvez uma festa a faria mudar de ideia. Vamos admitir que o cara se esforçou bastante.

— Se ele não tivesse fugido de mim não precisaria nem de metade disso. — disse sendo realista — Mas tudo bem, eu o perdoei e voltamos a ser bons amigos. Ou quase.

— Lia, tome o tempo que for, contanto que se sinta bem com as decisões que tomar. Vou te apoiar independente do seu posicionamento em relação a ele. — pegou minhas mãos como forma de demonstração de apoio e carinho.

— Zab... ele disse que me amava, ou ama, sei lá. Mas como é possível amar alguém e só causar dor a essa pessoa? — falei fraquejando enquanto sentia meus olhos transbordando.

— Ei, não chora. — me abraçou — O Chris sempre foi meio confuso com essa questão de sentimentos, você sabe mais do que ninguém. Isso não justifica nenhuma das atitudes dele, mas explica o modo que ele agiu. Talvez ele estivesse tentando abafar o que sentia por você e acabou se perdendo no meio de tudo isso. E te perdendo.

— Comecei a gostar dele depois daquele beijo, mesmo sabendo que na cabeça dele aquilo não tinha acontecido, que tinha sido apagada, eu não pude evitar me apaixonar por ele. E eu o amei tanto, Zab. O bastante para ignorar as companhias que ele levava da balada, os barulhos, as fofocas, os namoros. O suficiente para ficar feliz vendo-o feliz, mesmo que com outra; para vê-lo chorando depois de um fora; o suficiente pra continuar ali. E ele demonstrou o amor dele quando viu que me perdeu? Isso é tão injusto.

— Concordo com tudo isso. Se você quiser que eu passe uma rasteira nele qualquer dia, ou um soco fingindo que estava distraído... — comecei a rir — É sério! Só me avisar, eu faço. Posso chamar ele pra ir até a academia comigo e derrubar um peso de 20kg no pé dele, o que acha?

Eu não conseguia parar de gargalhar imaginando todas aquelas cenas.

— Bom, acho que são boas ideias, se algum dia eu precisar pode ter certeza que você será avisado.

— É isso, chega de choradeira! — ele disse se levantando e me dando as mãos para que eu também ficasse de pé.

Zabdiel era muito maior do que eu, minha cabeça alcançava seus ombros e isso fazia com que seu abraço me acolhesse por completo, o que era uma das minhas coisas favoritas no mundo.

— Vamos assistir algum filme, por favor! — fiz bico.

— No meu quarto, porque quero dormir enquanto você fica assistindo, tô cansado.

Topei, mesmo sabendo que eu seria a primeira a adormecer e não ele. Deixei com que o loiro escolhesse o filme enquanto buscava meus travesseiros e me ajeitava na sua enorme cama. Me esparramei de propósito esperando sua reação quando virasse as costas para a TV.

— Sai daí, folgada. — me pegou pelos pés me jogando pro canto da cama — Eu empresto minha cama, minha maravilhosa, macia e gigantesca cama e você quer se ocupar de todo esse espaço?

— Sim?! E ainda vou te pedir uma massagem nos pés porque eu mereço, tive um dia cansativo hoje. — disse ironizando.

— Você? Tudo bem, vou fingir que não passei horas no estúdio gravando uma musica pra te fazer uma surpresa. — riu.

— Não fui eu que pedi, resolva com seu amigo Velez.

— Vou é contar como você está sendo ingrata com esse projeto dele. — olhou para a tela prestando atenção no filme, mas eu tinha estranhado aquela palavra.

— Projeto? Como assim? — me levantei depressa.

— Eu disse projeto? Não, eu quis dizer música. Descansa aí, pequeno gafanhoto. — ele colocou a mão na minha cabeça me empurrando em direção ao travesseiro.

— Pequeno gafanhoto, que ofensa. — resmunguei cruzando os braços — Pequena eu sei que sou, mas gafanhoto? Sem noção.

— Sossega, Amelia. — o garoto não conseguia parar de rir — Você tá ligada no 220v, cadê o botãozinho de desligar?

— Tive um dia emocionante demais para me desligar assim do nada. — joguei uma almofada na cara dele.

— Chega, agora você vai se comportar por bem ou por mal.

Zabdiel levantou me pegando pelos braços e pernas em seguida me colocando em volta do seu pescoço. Saiu andando pela casa comigo ali pendurada, gargalhando até a barriga doer, pedindo para que ele me colocasse no chão. Depois de uma tour pelo apartamento ele finalmente me devolveu à cama.

— Isso é covardia, sabia? — respondi tentando me levantar sendo impedida por uma mão gigante — Me deixa ter minha chance de revanche, eu exijo!

— Santo Deus... vai, tenta a sorte.

Me levantei na cama mesmo, cambaleando numa tentativa frustrada de usar métodos de auto defesa, assim que fiz o primeiro movimento, Zabdiel me pegou pelos pés e me derrubou na cama novamente.

— Pronto, sua revanche fracassou. Podemos, por favor assistir o filme? — me dei por vencida assentindo.

— Mas você tem certeza que quer ver "A fuga das galinhas"? Escolhe outro. — reclamei sabendo que estava mexendo com o restinho de paciência dele.

Depois de alguns minutos ele decidiu que iríamos assistir Harry Potter, de novo.

— Coloca o mais bobo, porque eu quero dormir no meio e não quero sonhar com esse feio do Voldemort. — ele acatou meu pedido, colocando o primeiro filme da saga.

— Esse é o mais bobo! Agora deita aí, presta atenção no filme e dorme, tá?

Fiz que sim com a cabeça, ele se acomodou em seus travesseiros, levando os dois braços atrás da cabeça. Harry estava entrando no castelo pela primeira vez quando fechei os olhos e cai no sono.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora