• XXII

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Amélia Rodriguez

Fui a primeira a levantar, fiz minha higiene e corri até a padaria para comprar nosso café, já que tínhamos chegado muito cansados e não tinha um farelo sequer nos armários do meu amigo.

Assim que terminei de arrumar a mesa, Zabdiel abriu sua porta, todo descabelado. Meu celular tocava Camilo no máximo me fazendo dançar e ele sorriu.

— Acordou de bom humor? — se sentou ao meu lado se servindo.

— O dia tá tão lindo, chega de tristezas! E é impossível ouvir Camilo e ficar de mau humor.

— Concordo plenamente. Tenho que passar o dia no estúdio hoje, tem planos para o dia? — ele parecia muito concentrado em passar a manteiga no pão e eu ri vendo a cena.

— Vou procurar por um apartamento. — Zabdiel parou de prestar atenção no que estava fazendo — Vou, sim senhor, nem adianta fazer bico. E Christopher quer me encontrar no estúdio às sete, por acaso você sabe o que ele tá aprontando?

— Não faço a menor ideia, Lia. Você quer ir? — assenti — Então vamos ter que esperar até as sete pra descobrir.

O loiro saiu do apartamento logo depois de terminar de se arrumar, eu aproveitei para fazer uma faxina geral na casa antes de sair para almoçar.  Assim que sai do restaurante procurei pelo bairro alguns apartamentos disponíveis, poucos foram os que me agradaram e eram próximos dos meninos.

No final da tarde passei rapidamente no mercado para que não morrêssemos de fome, porque se dependesse do meu colega de apartamento, isso aconteceria em breve. Por sorte Zabdiel tinha ido de carona com Christopher então pude pegar seu carro emprestado para fazer tudo isso.

Entrei em casa cheia de sacolas na mão mas recebi ajuda o mais rápido possível. Juntos guardamos toda a compra nos armários e na geladeira, antes que eu me desse conta, o relógio já marcava seis da tarde.

— Lia, acho bom você ir se arrumar, já são seis horas. — Zabdiel disse e eu me assustei.

Corri para o banho enquanto tentava pensar em uma roupa, decidi usar um vestido com estampa floral de alcinhas e uma rasteirinha. Sequei meus cabelos e passei uma maquiagem leve, nada muito especial.
Me olhei no espelho por alguns minutos procurando alguma coisa fora do lugar e aparentemente tudo estava ok.

Zabdiel me levou até o estúdio, minhas mãos estavam geladas, minha barriga parecia estar em conflito, minhas pernas tremiam e eu não conseguia formular uma frase. Me despedi depressa entrando naquele lugar onde já havia me cansado de passar dias a fio com eles.

— Oi. — Christopher disse sentado no chão em frente à algumas barcas de sushi.

— Oi. — respondi me sentando de frente para ele.

O clima estava estranho, ele estava sem graça e eu não tinha muito o que dizer. O silêncio era constrangedor para ambos. Minha mente martelava o fato de que antes éramos tão tagarelas juntos, não havia um momento em que estávamos quietos como agora. Christopher e eu éramos semelhantes em todos os aspectos, tínhamos o riso fácil, a simpatia era nossa maior qualidade, sempre tivemos facilidade em nos comunicar com qualquer um, quem diria que viveríamos um momento onde não conseguiríamos nos entender por falha da nossa própria comunicação.

— Lia... eu sei que qualquer coisa que eu faça agora não vai mudar o que fiz quatro anos atrás... — ele começou e engoli em seco — Também sei que não existem palavras que descrevam o quão babaca eu fui com você. Eu soltei sua mão no momento em que você mais precisou de mim, eu menti, fingi, fugi, me distanciei de você e nada no mundo justifica isso. Eu poderia escrever mil músicas e cartas, poderia rodar o mundo atrás do melhor pedido de desculpas e nada disso chegaria perto de te mostrar quão arrependido me sinto e não apagaria o sofrimento que te causei. Mas eu ainda assim queria te pedir desculpas. Eu te amava naquela época e continuo te amando, mas pensei que estragaria tudo entre a gente. Sua amizade era minha luz, minha salvação, você me mantinha onde eu tinha que estar. Só de sonhar com a possibilidade de não ser seu amigo e não ter sua companhia, me arruinava, e eu tomei a pior decisão da minha vida e causei o que me aterrorizava, te afastei de mim. Mil desculpas. — e então mais alguns segundos de silêncio me indicaram que ele tinha terminado.

— Christopher, eu nem sei o que dizer. Eu te perdoo, mesmo com todas as mentiras, te perdoo porque é o que meu coração me pede pra fazer. Te conheço desde que me entendo por gente, sempre te admirei e apoiei, sempre te amei e ainda te amo.— ele arregalou seus olhos — Mas não do mesmo jeito que costumava amar. Não depois de tudo isso, quinze dias não apagaram minha memória, nem a dor e muito menos o vazio. Podemos continuar sendo amigos, nada mudou, mas não me sinto confortável confiando meu coração a você nesse momento.

Ele assentiu com a cabeça e logo sorriu fraco, automaticamente retribui. Senti que as coisas voltariam a ser como eram, aos poucos, mas voltariam. Ficamos quietos assim que começamos a comer, mas aquilo estava me deixando angustiada.

— Você podia ter me convidado pra jantar no seu apartamento, seria tão bom comer em cima de uma mesa. — ri enquanto apanhava para pegar um hot roll.

— Tava uma bagunça. — passou a mão na nuca envergonhado.

— E você lá tem vergonha de mim? Eu conheço sua bagunça há anos. Eu arrumava ela na maioria das vezes! — respondi gargalhando.

— Eu não queria passar uma má impressão, depois que você saiu eu meio que abandonei todas as responsabilidades do lar. — ele estava começando a ficar vermelho e eu não acreditava que realmente estava se sentindo envergonhado.

— Tem saudades de quem botava ordem lá né?

— Sim, o tempo todo. — nos encaramos rapidamente — Escuta, esses dias vi uns vídeos seus cantado Dejaria Todo e conversei com os meninos e fizemos isso. — apertou um botão no mesmo instante.

Dejaria Todo começou a tocar numa versão diferente, mais agitada, a voz de Joel ecoou pelo cômodo me fazendo levantar com tamanha surpresa.
Ouvi cada estrofe atentamente com as mãos na boca, chocada com aquilo. Era literalmente a música mais linda que eu já havia escutado em toda a minha vida, as vozes, a harmonia, eles.

— E aí, o que achou? — Christopher se aproximou com um sorriso tímido.

— Ficou tão linda, perfeita! É a minha música favorita e vocês deixaram ainda melhor. — o abracei.

— Fiz isso pensando em você, na verdade. Vamos considerar como um presente de boas vindas. — piscou.

— É um bom presente de boas vindas, eu esperava um bolo e uma faixa pendurada no apartamento do Erick com todos vocês atrapalhados estragando uma possível surpresa pra mim.

— Esse era o plano. Sendo sincero, tem uma festa te esperando no apartamento do Erick nesse exato momento e eu tenho que te levar pra lá em 15 minutos. Eu só queria um tempo a sós com você para conversarmos sobre nós. — ele respondeu tranquilo e eu dei um tapinha leve em seu braço por estragar minha surpresa.

— Você me fez comer um monte de sushi e ainda tem um bolo me esperando? Christopher Velez, você não muda nunca?

Juntamos toda a bagunça que deixamos no chão e saímos apressados para minha festa surpresa que já não seria mais tão surpreendente assim graças ao meu amigo tagarela.

— Por favor, finge que é surpresa. — Christopher juntava as mãos suplicando — O Richard vai me bater mesmo se ele souber que eu te contei da festa.

— Pois que apanhe, ninguém mandou me contar isso. — ri alto no elevador.

— Você não tem dó de mim? — fez uma expressão dramática enquanto eu negava com a cabeça — Por favor, Lia!

— Não sou atriz, Velez, mas vou tentar o meu melhor.

Ele abriu a porta do apartamento do nosso amigo que estava um breu e me beliscou de leve para que eu falasse alguma coisa. Eu não era boa em fingir que não sabia de algo mas juro que me esforcei.

— Christopher? O Erick esqueceu de pagar a conta de luz? — falei alto segurando o riso.

As luzes se acenderam mostrando ali muitos rostos amados por mim gritando "BEM VINDA DE VOLTA, LIA" num coro. Abri a boca ao mesmo tempo sorrindo tentando esboçar algum sinal de surpresa e acho que disfarcei bem.

Olivia foi a primeira a vir me abraçar e me levou para a varanda onde tinham alguns petiscos e drinks, a noite seria ótima, nunca tinha sentido tanto amor assim.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora