• XXXVIII

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Christopher Velez

Fazia mais de um mês que Amélia e eu vínhamos ficando juntos praticamente todas as noites. Digo praticamente pois, por conta do novo álbum que começamos a trabalhar, eu saia cedo de casa e chegava quando ela já estava dormindo.

Estávamos trabalhando separados durante muito tempo, desde então. Ela passava a maior parte do dia com a Clara na WK discutindo sobre o visual da banda e eu ficava enfurnado dentro daquele estúdio, não saindo nem para almoçar e jantar.

Geralmente ela deixava algumas marmitas no congelador para que eu levasse comigo e fizesse as refeições porque sabia que eu sempre me desligava de tudo quando estava trabalhando, principalmente do fato de ter que me alimentar.

Esse tempo afastados estava me causando certa frustração, já tinha sido um tanto quanto complicado chegarmos onde estamos e agora isso. Quanto mais ansioso eu ficava pra voltar pra casa mais as horas pareciam teimar a passar. Isso era algum tipo de piada com a minha cara?

Hoje não seria diferente. Passava de duas da manhã quando finalmente entrei no elevador e apertei o botão para o andar dela. A minha chave cópia já balançava por meus dedos, ansiosos, pra abrir a porta.

Dei de cara com uma garota de meio metro deitada toda torta no sofá com um caderno aberto caído no chão. Abaixei para pegar o objeto, na página a música tinha um título que parecia ter sido rabiscado muitas vezes com as palavras Honey Boo. Parecia não ter sido terminada, mas já estava próxima da conclusão.

Fechei-o e coloquei em cima da mesa, caminhando até ela pronto para levá-la ao quarto. Assim que envolvi minha amiga em meus braços, ela despertou.

— Meu Deus eu dormi, me desculpa! — ela levantou rapidamente.

— Tá tudo bem. — ri da cena — Vamos deitar.

— Eu fiz o jantar e decidi esperar você chegar pra comermos juntos.

A morena caminhou em passos rápidos até a cozinha, abrindo o forno e tirando de lá algumas panelas.

— Vou esquentar rapidinho, você pode arrumar a mesa? — assenti indo em busca dos pratos e talheres — Era pra ter sido uma surpresa, sabia? Era pra você ter me ligado como sempre faz quando sai do estúdio.

— Não ia te ligar duas da manhã, não sou nem louco de mexer com a fera. — baguncei seu cabelo — Mas achei fofo o negócio da surpresa.

— Eu me sentei para compor e adormeci. — bufou — Um dia eu ainda vou te fazer uma surpresa muito boa.

— Aposto que sim. Mas vai ter que aprender a mentir primeiro. — mostrei a língua.

Nos sentamos e tivemos um jantar muito agradável por mais que estivesse acontecendo no meio da madrugada. Os olhos de Amélia lutavam para continuarem abertos e ela bocejava a cada 5 segundos.

— Vamos pra cama. — puxei-a pela mão — Amanhã prometo que saio mais cedo e a gente aproveita mais o nosso tempo.

— Não tem problema você chegar tarde contanto que você sempre venha pra cá.

A menina se aninhou em meu peito como sempre fazia todas as outras noites e logo pude sentir sua respiração pesada indicando que ela havia pegado no sono. Não demorei muito a adormecer também.

Em poucas horas lá estava eu acordando cedo novamente. Sai da cama com a maior delicadeza para que ela não acordasse, passei um café com rapidez e sai do apartamento.

Passei em casa para trocar de roupa e tomar um banho rápido enquanto meu celular apitava com mensagens do Erick dizendo que precisaria de carona. Assim que cheguei em seu endereço ele entrou esbaforido no carro.

— Que demora! — o cubano reclamava.

O mau humor do período da manhã era evidente em todos, menos para mim. Eu não tinha o menor motivo para não achar que todos os dias eram incrivelmente lindos e maravilhosos. Me sentia em um daqueles filmes bem clichês onde os pássaros cantam uma determinada melodia e hoje eu diria que eles cantarolavam Tutu de Camilo. O que também me lembrava dela porque Amélia sempre tinha sido a fã número um dele.

— Credo, você tá com esse bom humor há dias, o que tá acontecendo? — ele me encarava enquanto eu batucava os dedos e assobiava a tal canção.

— Nada, Erickin. Só a vida, a vida é linda, belíssima, deve ser apreciada, papi. — respondi alegre.

— Com quem você tá ficando? — me olhou sério.

— Com ninguém. — menti sem olhar para ele.

— Christopher, você acha que eu não te conheço né? Desembucha.

— Não é ninguém! — ele mantinha os olhos fixos em mim — Tá, você venceu. É a mulher mais incrível que eu já conheci na vida. Tudo sobre ela me faz sentir borboletas no estômago, o coração quase sai pela boca e cada detalhe dela me faz querer amá-la ainda mais.

— Eca, que breguice. Alguém já te disse como você é cafona? — ele fez uma careta e em seguida me deu um soco forte no braço — MAS E A AMÉLIA? SEU CANALHA!

O olhei confuso e assustado.

— TAVA AQUI FAZENDO TUDO ISSO PRA RECONQUISTAR ELA E TÁ APAIXONADO POR OUTRA?! CHRISTOPHER SE VOCÊ NÃO ESTIVESSE DIRIGINDO NESSE EXATO MOMENTO EU TE QUEBRAVA! — Erick gritava no carro e aquilo me fazia rir — TÁ RINDO DO QUE? BABACA! VOCÊ É UM BABACA, HORA QUE DESCERMOS DESSE CARRO VOCÊ NÃO VAI APANHAR SÓ DE MIM NÃO, O RICHARD VAI TE ARREBENTAR, O JOEL TAMBÉM E O ZABDIEL.... BOA SORTE, PORQUE QUANDO O ZABDIEL SOUBER DISSO...

— ERICK — chamei sua atenção — eu tô falando da Amélia.

O mais novo parou por um instante, abriu a boca várias vezes e só gaguejava. Aquilo me fazia rir ainda mais.

— Pane no sistema? — gargalhei.

— Como assim? Você e a Lia? Desde quando? — ele estava atordoado com a informação.

— Já faz mais de um mês. Mas por favor não conta pra ninguém.

A verdade é que eu sabia que esse segredo não duraria muito nas mãos dele. Erick simplesmente jogaria a novidade na roda uma hora ou outra sem nem ao menos perceber que o fez, então tudo iria por água abaixo. Eu precisava alerta-la sobre isso o mais rápido possível.

"Erick descobriu sobre nós, precisamos contar pra eles logo."

"Erick descobriu ou você deixou escapar? Hahaha, tudo bem, vamos contar juntos."

"Em minha defesa ele me pressionou muito!"

Erick não estava conseguindo disfarçar que tinha alguma coisa acontecendo, estava agindo tão estranho que eu quase o soquei em alguns momentos.

— Chris, não sei se vou aguentar. — ele confessou quando ficamos a sós.

— Segura essa língua! Não vamos demorar pra contar, só tenta esperar mais um pouco. E se te ajuda, o Zabdiel também já sabe. — tentei amenizar o peso do segredo.

— NÃO AJUDA. Agora vou querer fofocar com ele. — cruzou os braços.

— Forças, ícone. — sai da sala para atender meu celular — Oi Lia, aconteceu alguma coisa?

— Na verdade não, só liguei pra saber o que você quer jantar hoje. — sorri com aquilo.

— Vamos sair para comer fora hoje, passo aí às seis.

Seis? Isso não é muito cedo pra um jantar?

Vamos dar um passeio antes, fazer coisas diferentes.

Tipo um encontro?

Tipo um encontro. — ouvi sua risada do outro lado da linha e ri também — Te ligo quando estiver saindo daqui.

Agora eu precisava bolar um plano de sair desse estúdio até as seis.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora