Férvida Mente

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Já não posso com a paixão.
Como que se um dia eu pude!
E esse sentimento tão insano
Que minha sanidade confunde.

Já não posso dormir à noite;
E insônia agora tanto eu tenho.
A alimentar a chama o lenho
De pensamentos, minha paixão.

Esconde a paixão os seus segredos!
A decifrá-la vou receoso e com medo,
Procurando meu estro, boa ventura
Encontrar nestas formas inseguras.

Postos que amo e isto é fato!
Mas será que há neste mundo
Alguém que por mim suspire
Fundo, com ares sensatos?

Como alguém insciente,
Querer pode alguém inocente,
Que o ame simplesmente
Sem hálito e ai incandescente?

Se eu sou o mais férvido de todos?!
Se sou eu que mais me inebrio?!
Se sou eu que fácil me arrepio
Com um leve bafo de sopro?!

Emudecer-me ao vê-la falar!
Esmorecer quando estás a passar!
Suspirar quando calado, eu te ver!
Cantar quando sem ar, com o teu dizer!

Crer no amor puro e simples, creio!
Ensandecer ao deleite do teu seio!
Enternecer-me à tua imagem feérica!
Ter-te terrena sendo tu angélica!

Perder-me no teu lânguido olhar!
Viver amando, eis minha sina!
Delirar por esta quimera-menina!
Segurar meu alento e lhe entregar!

Amar como ama o jardineiro as flores!
Suspirar como suspira o vento!
Cantar um cantar de acalento!
Chorar para dentro minhas dores!

Soçobrar nesse mar de lágrimas
Meu ser apaixonado e amante.
E depois que passar a embriaguez,
Descansar o coração um instante.

Refleti os revezes da paixão,
Compreender o incompreensível.
Amar apenas o que se está visível
E controlar a minha imaginação.

Chuvas & NoitesOnde histórias criam vida. Descubra agora