I
Amor!
Dizei-me de ti ― Aonde?
Por que me enaltece
E incontinenti te escondes?Onde me apareces ―
Nas preces,
Nos sonhos,
Nos montes?
Na vida, na lida,
Nos versos,
Nas fontes?Nas pontes
Que atraveso
Ou no moinho
De águas passadas?
Ou na minha curta vida,
Longa ela atrasada?Por que tanto te procuro
Se nem sei se existes?
Se portanto existes,
Por que tanto orgulho
Que a te esconder persistes?Estou tão triste;
e reviro, no escuro
por tudo quanto é canto,
mas nenhum barulho
encontro, portanto.Procurei-te à noite
Nos campos de Flores,
Na obscura alegria.
Nas claras tristezas do dia
Procurei por Ti,
Por Vós, Amores!II
Amor!
No canto,
No pranto,
No lamento
Dizem-me encontrar-te
Tanto como alento!Nobre sentimento
Cá dentro eu carrego!
Uma dor,
Um torpor
Ou amor
Cá comigo albergo!Vergo a escrever
Para ver se consigo
Comigo te ter,
Meu caro inimigo!Eu te respeito,
Com grado ardor,
Sem preconceito,
Meu louvado Amor!
IIIAmor!
Bateis acaso em meu peito?
Mas de qual lado ―
Esquerdo ou direito?Batei-nos descompassado,
Aos trancos e barrancos,
Aos solavancos
De ambos os lados,
Com desfavor,
Com fervor!Em mim,
O da esquerda
Sem perda,
O sangue bombeia;
E o da direita
Por desfeita,
Nos ares volateia
Sem fim...IV
Que dor!
Meu corpo langue
E debilitado,
Com apenas um coração;
Com a Razão:Onde estará
O meu emprestado?
Aonde andará
Minha exangue paixão?A educação
Exige que me devolvas,
Se não o meu,
Dê-me o seu coração ―
A outro o seu prometeu?Por que então
Para tão longe
Levastes o meu,
Se tinhas noção
De toda desilusão
Que afligiria meu Eu?Perfídia tua ação
Eu a chamaria
Se assim soubesse
De toda a história
Dessa triste paixão
Que ledo fim carece.V
Favor!
Tendo-me já mudo,
Dizei-me o que acontece
Sendo que nem tudo
Sede o que se parece.Contudo já minha indagação
Toda, se vai, se esvaece
Com a devida explicação,
Que tarda, mas aparece
do Amor:― Minha visão,
A vós todos não carece;
Vivei, por favor!Não tenho explicação,
Tenho sentimento,
Tenho vida!Estou na flor, sim senhor ―
Na Rosa tanto querida!
Sede eu no seu coração!
Sede eu na sua mente!Eu sou onisciente,
Onipresente!
Eu sou um de vós,
― Um dos seus!Estou dentro de ti,
Onipotente!
Não estais a sós,
― Eu sou Deus!
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Chuvas & Noites
PoesíaO livro em si fala das tristezas e súbitas alegrias do ser deprimido e ansioso. De uma escrita mais rebuscada e cuidadosa, beirando um ritmo alucinante em algumas de suas poesias, advinda dum estilo próprio que denomino "dinamismo" ― Uma tentativa d...