Capítulo 21 - Realinhando

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Eu nem sei como começar. 

Uma hora eu estava feliz apenas sendo criança e agora é como se tudo tivesse sido roubado de mim. Todas as situações que me ocorreram, eu não sei bem se sou bom ou se sou um monstro, mas na minha cabeça tudo teve um motivo que me fez chegar ao que sou agora. 

O meu amor doentio por alguém me fez viajar por milhas e fazer coisas, sonhar coisas e ao final do dia quando deito a cabeça no travesseiro eu não sei há quem eu posso culpar pelas milhas escolhas. Todas as pessoas que eu perdi, todas as pessoas que me deixaram ou que mentiram para mim, era revoltante. A forma como eu me fiz ser visto, como alguém frio e obsessivo ou doente e na verdade eu só queria mesmo ser feliz, através dos meus próprios motivos. 

Hinna se foi pela ganância e covardia de crianças pobres e vazias, mas que também tinham uma falta gigantesca do amor familiar, e eu acho que no fim das contas se trata disso, dessa falta de amor e de afeição. Marcus se foi porque alguém queria que ele desse o seu melhor, mas esse alguém não sabia que cada pessoa tem sua limitação, e por mais que tenhamos essa diferença, não adianta só compreender, precisamos tentar nos colocar naquele lugar. 

Eu estava ali, dentro de um avião, olhando para baixo, vendo o céu de seu próprio meio, as nuvens que mais pareciam fumaça, e junto a alegria de estar indo encontrar minha verdadeira fonte da vida, um vazio me acompanhava fielmente. Não é como se eu não soubesse que talvez minhas intenções e desejos poderiam perder o controle, mas após passar por tudo o que passei, eu sentia que alguém me devia isso, algum cosmo, Deus, poder omnisciente deveria estar ao meu lado, se é que isso existisse. 

Não é como se eu estivesse feliz, eu estava motivado a não ser a pessoa boa que acaba como todos os outros que eu conheci durante toda a minha vida. Dentro do capô de um fusca ou internado até a morte num hospital, muito menos vitima de homicídio e que todos apenas acatam como suicídio. NÃO!

Era incomum, um vazio incomum que por mais que eu colocasse músicas boas para tocar no meu fone, eu me enchia de ódio e tristeza. Eu queria atingir alguém, ferir algum, queria que minha dor fosse ouvida, queria que sentissem o que eu sentia, chamar a atenção de alguma forma a essa criatura diferenciada que eu era. Mas não queria ferir meu corpo ou meu intelecto, não queria ser um viciado ou um suicida, eu só queria ser visto. 

Anos após tudo isso eu seria ouvido, através da minha arte e quem me faria ser ouvido era também o amor da minha vida, a fonte da minha alegria, mas a quem eu e meu problema fizeram tão mal. A garota ruiva, com cara de boba e que tinha um sorriso sincero e acolhedor. 

Tá, me desculpa despejar toda essa insanidade no meio do nada, durante um voo bobo de avião  até o que nós sabemos, seria o ponto de encontro mais sanguinário que eu reuni em toda a minha vida. Um jovem adulto louco com sede de vingança, cheio de energia e disposição. Eu nem sei como definir todo essa surto, mas tenho certeza que vocês se lembram... 

Finalmente, a Califórnia!

Poluída, não era meu querido Texas, manchado de barro, e muito menos minha Itália colorida. Era apenas um lugar cheio de asfalto, com jovens bobos, cheios de vicio e problemas psicológicos, buscando orgulhar seus pais ou simplesmente treinando para ir a Hollywood ser ator ou atriz. Coisas das quais me orgulho imensamente em nunca ter me deixado acreditar. 

Caminhando pelas ruas da grande cidade que ficava há alguns minutos da cidade de Megan. Cheguei ao hotel cedo, em torno de umas oito horas da manhã, sem fome alguma pois havia comido alguns sanduíches no avião. 

Fiz meu cheking no hall de entrada e subi o elevador, escolhi estar no último andar caso eu quisesse desistir do plano e me jogar pela janela ou simplesmente jogar alguém do terraço (isso não era verdade), pelo menos, não que eu acredite fielmente.

Guardei minhas coisas, peguei o celular modificado com rastreador e escuta. Por incrível que pareça, uns meses antes "sorteei" Megan em uma loja de sua cidade e enviei o celular modificado, nada muito complicado eu admito, mas o celular era tão caro quanto um carro usado, talvez ela não negasse, e eu estava certo. 

Passeei na cidade de Megan durante a tarde, e deixei com que  destino me guiasse até ela, não era como se eu não tivesse decorado toda a programação da garota numa sexta-feira, mas se o rastreador está desligado eu não tinha motivos para acreditar nisso.

Resumindo um pouco o meu dia, passei a tarde toda procurando a garota nos lugares que ela costumava ir, e quando estava quase desistindo, resolvi tomar uma bebida em uma whiskeria. A qual eu acreditava que era o único lugar que eu realmente teria ido sem ser sob a influência da ruiva. Era um dos lugares mais badalados de sua cidade e eu amava whisky. 

Sentar naquela mesa de pub, com um ar sem julgamentos só eu e minha solidão e todos aqueles devaneios anteriores sobre a humanidade degradante e todas aquelas grandes desgraças que me cercavam. Eu estava sozinho, sozinho com minha pilha de nervos e decepções. Estava sozinho até ouvir a voz, aquela doe voz ecoar para o barman. 

_Uma gim de morango com tônica, por favor! _Peculiar, até pra você, Megan! 

Sorri baixo dando um gole no whisky gold envelhecido. Eu não queria ser previsível como todos os homens desesperados, então só a olhei de volta quando senti seu olhar e sorri fraco. Me virei para olhar a banda cover de Pearl Jam e cantei uns trechos do som dos rapazes. 

_Você é daqui? _A voz da garota ecoou quando a vi sentar em minha mesa, que era ao lado do bar. 

_Porque a dúvida? _Respondi ainda com o sorriso ladino. 

_Acabei de perder uma aposta que nunca perdi. Geralmente os homens dessa cidade são desesperas por atenção ou por uma paquera. Achei que te olhar seria o suficiente para pedir meu número... to falando de mais, né? Desculpa! 

A garota corou como nunca... Mal sabia ela que eu nem precisava pedir seu número, afinal de contas, eu era sua sombra viva!

_Bom, você acertou, eu não sou daqui. Prazer, Adam! _Estendi a mão. 

_Prazer Adam, eu sou a Megan! _Ela sorriu apertando a minha mão com um olhar meigo. A garota de sempre com muita atitude e impulsiva até demais. 

A Meg de sempre! 

PSICOPATA FRAGMENTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora