Capítulo 15 - Querido Orwel, queime.

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Miller estava internado a dias e Rafael havia entrado com uma ordem judicial contra Orwel, por colocar um jovem aspirante a militar numa situação de risco além de ser o culpado pela morte das pessoas que não foram salvas no Afeganistão. Tudo o que Orwel fazia era ameaçar os jovens rapazes para que ninguém abrisse o bico, o que é claro funcionaria para poucos ali, a verdade era que ele era um babaca e todos estavam cansados de seu comportamento. 

⇀Acho mesmo que você não está em seu local de fala... ⇀Minhas palavras saíram afronte de seu bigode branco mal feito. Os garotos o viram ficar vermelho como nunca antes. 

⇀O que está dizendo, seu merdinha? ⇀Sua mão foi suspensa no ar assim que o mesmo tentou tocar meu rosto. ⇀Solte-me ou será pior! ⇀Sua carótida saltava e eu só queria rasgá-la. 

Meu corpo se moveu para frente e preguei meus dentes em seu pescoço, apertando tão forte que arranquei um pedaço, enquanto o velho gritava e perdia suas forças. Logicamente não atingi um local vital, mas foi bonito vê-lo assustado e sangrando, exceto que ele não era o único a estar assustado. 

⇀Quem não quer ser envolvido, pode se retirar. Os de mais podem apreciar o show, e eu garanto que vai valer o ingresso. ⇀Orwel se arrastava para trás como um cachorro enquanto os garotos assustados deixavam o estabelecimento. 

⇀O que está acontecendo aqui? ⇀A voz de Rafael ecoou no ambiente, e os caras que estavam ali se assustaram. 

⇀Fala logo e sai Miller, eu tenho contas a acertar aqui. ⇀Meus olhos pulsavam e eu não os tirava do velho. 

⇀É o Marcus... ⇀As palavras falhas de Rafael... 

⇀Ele... 

⇀Sim. Por favor John, termine logo com isso, limpe-se e suma. ⇀Olhei Rafael por instantes e seu rosto estava péssimo. 

⇀Por Miller... ⇀A sensação de queimação na garganta novamente... Ele pagaria. ⇀Vocês podem sair agora, espero que não tenham visto nada além de cães nesse lugar. ⇀Minhas palavras foram obedecidas de imediato, e logo eu estava sozinho com o imundo. 

Chutei seu maxilar com a minha bota, sentindo o estalo de seu rosto e sua mão que agora segurava aquela parte no lugar, o maxilar pendurado e os olhos chorosos. Caminhei lentamente até o velho adentrando meus dedos onde a mordida havia aberto um buraco, segurando o osso por dentro e o arrastando pelo lugar, cantarolando e assoviando "In the shadow of the valley of death", só para dar uma encobrida nos gritos agonizantes daquele demônio. Eu o olhava e meu rosto dava lugar à um sorriso ao invés das lágrimas que realmente precisavam sair. Eu estava mal, estava realmente péssimo, o meu irmão...

⇀Eu sou o mesmo demônio que te habita ⇀Eu olhei Orwel. Peguei a garrafa de Uísque que os meninos haviam escondido em uma das mochilas e o desperdicei no velho, o temperando com o álcool lentamente.

 ⇀Não podíamos beber aqui, mas que bom que nunca te obedecemos Orwel... Eu não sei o que é mais triste, saber que vai morrer sofrendo, ou morrer sabendo que sempre foi uma piada. ⇀Gargalhei, e então senti o buraco no meu peito se abrir.

 ⇀Se vocês humanos insolentes vão agir como demônios, eu serei pior, serei o ceifador dos demônios. ⇀Pisei na costela do desgraçado, apertando-a com força até ouvir ela fraturar e furar seu pulmão, o deixando com o ar escasso. 

Dei mais algumas voltas nele, dançando como um irlandês, dei um gole no uísque barato e voltei a jogar em seu corpo. Acendi um charuto do velho, que era realmente de marca boa. 

⇀Veja Orwel você vai morrer à ponto de ver um pouco do seu tabaco favorito ser queimado por mim, e ainda vai ter a chance de queimar igual a ele... ⇀Falei enquanto soltei o esqueiro de prata em cima de seus pés. O vi admirar de forma não feliz o fogo se alastrar em seu corpo desde as botas de couro até sua cara. O cheiro de sua barba e seu cabelo branco queimando me lembrava uma galinha sendo escaldada... 

Ele gritava e rodava no chão, segurando o maxilar com uma mão e a costela com a outra, mas que definitivamente não faria diferença. Eu tenho certeza que no meio do surto desesperado o ouvi clamar à Deus, o mesmo Deus ao qual ele proibiu ser citado dentro daquele campo de treinamento, não é lamentável? Até os demônios procurando por redenção, mas era justiça, ele estava sendo queimado assim como as mulheres e crianças que não foram salvas aquele dia. Eu também podia afoga-lo para lembrar a chuva que adoeceu meu irmão naquele maldito campo de treinamento. EU PODIA. 

⇀Você tá sentindo o fogo do inferno te queimando? 

Eu definitivamente estava satisfeito, até que eu o vi desmaiar com a dor, a hemorragia ou qualquer outra coisa que ele estava sentindo naquele momento. Apaguei o fogo de seu corpo com um dos cobertores e depois o arrastei para fora. Ali mais adentro da floresta, havia um buraco onde os garotos jogavam os baldes de merda que eram utilizados durante a noite. Não era tão fundo e nem muito grande, mas o joguei junto aos dejetos e vi seus olhos abrirem por breves instantes. 

⇀Agora sim, o grande final. Você no buraco a que pertence, sendo enterrado vivo. ⇀Obviamente logo ele estaria inconsciente, mas fiz questão de o enterrar por inteiro, o que não foi uma tarefa fácil, mas que valeu cada gota do meu suor sagrado. 

Apesar de agora me sentir vingado, foi como uma maré de sentimentos. Caí na real de forma tão drástica e fiquei desnorteado, como se uma segunda personalidade brotasse do nada. O menino do orfanato voltou, o sentimento de vazio, a dor da perda novamente se fazia presente. E eu corri em direção ao Jipe. Dirigi por uma hora até chegar no hospital onde Rafael ainda se encontrava. Já era noite, eu estava sujo e fedia, mas queria ver o corpo de Marcus. 

⇀Não, John....

⇀NÃO ME PRIVE DISSO! -Adentrei o necrotério com Rafael atrás de mim, e depositei minha cabeça no peito de Marcus. Ele estava coberto da cintura para baixo, acinzentado, gelado e duro. Cheirava a formol. 

⇀Porra John... ⇀Rafael parecia indignado comigo. 

⇀PUTA QUE PARIU RAFAEL, PORRA, VAI SE FODER MANO. CARALHO, QUE MERDA TÁ ACONTECENDO NESSE PLANETA DE MERDA? ⇀Meu fôlego fora gasto com palavras de ódio e indignação... 

⇀Fica calmo John. ⇀Rafael se apoiava em prantos sob minhas costas curvadas. 

⇀Adeus Marcus... Adeus... Eu te amo, cara... ⇀Eu chorava mais baixo. 

⇀Você o torturou? ⇀Senti os dentes de Rafael rangerem. 

⇀Tanto que nunca imaginei que fosse capaz. ⇀Ri baixo entre as lágrimas salgadas. 

⇀Obrigado, essa é uma dívida eterna... ⇀Ele se comprometeu. 

⇀Vou me lembrar disso Miller... 

E eu sempre me lembrei, assim como ele. 

PSICOPATA FRAGMENTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora