Continuação de capítulo (24)

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Os dias que se seguiram eram cada vez mais embaraçosos. Eu via Érica pelos lugares, mas não tinha coragem de me aproximar dela, e de alguma forma fui criando uma obsessão por apenas olhar ela de longe. Eu via aquilo como um tipo de cuidado, quando você sempre está por perto, mesmo que pareça que em algum momento seja um incomodo, você não deixa essa pessoa sozinha.

Foi, então, em uma tarde de Sexta-feira, quando os rapazes novamente insistiram para que eu fosse para uma droga de festa de fraternidade. Era uma fraternidade dessas que cobram a entrada para que consigam manter o aluguel do lugar porque ninguém pensa em arrumar um emprego decente sem ser vender drogas ou camisetas personalizadas.

Enfim, sem muitas delongas, acabei percebendo que seria uma boa ideia sair um pouco daquele lugar e apesar de ser em outra cidade, tecnicamente perto da praia, se tudo estivesse um porre eu poderia simplesmente correr para o mar e pedir para que as ondas me arrastassem para o fundo e eu terminasse de uma vez por todas com a minha vida miserável.

Tá, é de se notar que meus dramas atuais estão ganhando mais vida com o passar do tempo, talvez fosse a companhia super ativa de homens tão deprimentes quanto esses caras, e era como se eu gostasse daquilo, ou, eu gostava mesmo, o que era ainda pior, principalmente às quartas quando eles se sentam em roda pra ver jogo e no fim da noite vira uma roda de terapia com conselhos horríveis de um para o outro como se fossem experts no assunto, e eu não podia deixar de achar aquilo super engraçado. Não tinha como não ser, eu juro!

Enfim, focando novamente na história que vai nos levar ao momento fatídico em que eu perco totalmente o controle das minhas ações, algo que vem acontecendo comigo durante toda a minha existência e sem um ano de paz...

Entrei no carro super apertado de Jos, que insistia em fumar cigarro enquanto dirigia, o que tornava tudo mais complicado.

-Enfim caras, é open bar de sucão, ou seja, 15 dólares para beber o quanto vocês acharem que aguentam! -Não sei porque, mas os gritos de alegria dos caras e as olhadas entre eles me fizeram ter um pouco de receio.

-Que porra é open de sucão? -Eu já falava igual.

-É suco com vodca! -Jos respondeu gargalhando logo em seguida.

-E vai ter cerveja ou whisky? caso contrário já me deixem aqui mesmo. -Falei simulando um salto pela janela.

-Vai sim, é que esses drinks aí não entram no open bar e são bem mais caros a parte... -Spencer respondeu com sorriso ladino muito estranho.

-Tá, não ligo para isso. -Respirei fundo a noite seria longa.

Chegamos no lugar e por incrível que pareça a mansão era gigante, digna de popstar. Tinham seguranças e bombeiros no lugar, e cada quarto devia conter um espírito de Snoop Dog, porque a fumaça estava solta.

Após mostrarmos os documentos e entrarmos com as pulseiras vagabundas de papel sulfite colorida, os desgraçados não me avisaram que precisava levar seu próprio copo ara consumir bebida e então entrei numa fila gigantesca para comprar um copo de alumínio gigantesco com uma cordinha de pendurar no pescoço.

Tá eu admito, parecia aqueles boyzinhos chatos que vem pra esses lugares pra ficar em evento de quadros e vinhos. Respirei fundo e tentei aproveitar cada momento. Após adquirir o copo por 28 dólares, notei que se eles quisessem ficar ricos com aquela festa, não poderiam contar comigo.

Entrei a fila da bebida do sucão e os caras gritavam de exaltação.

-Esse é meu garoto! -Jos me fazia passar vergonha. Sorri e acenei como quem não quer nada, e em instantes os caras já estavam dentro da piscina com uma bermuda que eu nem fazia ideia de onde haviam tirado.

O sol estava escaldante e aquela fila era um inferno, até pensei em arrumar confusão com gente furando a fila porque eu não estava mais com tanta paciência. E quando respirei fundo, deixei de ser novamente tão arrogante. Fiz amizade com um casal que me aconselhou a pegar meu copo e voltar pra fila, pois ao fim dele eu já estaria reabastecendo.

Enfim, começo da fila, pedi para encherem meu copo, e pedi umas garrafas de cerveja o que eu não sabia era que vinham em copos plásticos e eu não precisava ter gasto nada. Voltei aos meus amigos asquerosos que a essa altura já estavam bêbados e eu juro que naquele momento senti inveja.

Bebi metade do tal sucão e o negócio só tinha gosto de gelo e suquinho artificial, nada de álcool. Eu até pensei que fosse coisa da minha cabeça, mas realmente eu não sentia nada.

Bebendo lentamente ouvindo pop aleatório, conversando com os caras e virando minha cerveja, em alguns minutos eu percebi que estava dançando e rindo das piadas idiotas deles. O que sinceramente não fazia sentido.

-Porra, eu bebi tanto assim? -Talvez fosse a fumaça das drogas que estavam ao redor, era quase como uma rave russa.

-Segura a onda aí Batman... -Jos falava enquanto ria, chorava de rir, Spencer me olhava prendendo o riso, mas nem nós podíamos conter aquilo.

A sensação era diferente, eu estava com os braços um tanto quanto dormentes e as palavras saíam arrastadas dos meus lábios. Olhei bem ao redor e notei que todos estavam agindo da mesma maneira, ninguém sóbrio, todos altamente sem noção.

-O sucão tá batizado? -Era como nós dizíamos quando havia droga dentro de alguma coisa.

-E você só percebeu agora? -Spencer respirava fundo para não rir enquanto proferia as palavras.

-Não acredito que me deixaram beber isso! -Minha voz de indignação não tinha poder algum enquanto deslizava sem força.

-Olha lá a Érica... -Jos apontou para a garota que estava sentada à beira da piscina, com um biquíni preto deslumbrante e um copo de cerveja.

Naquele momento eu tentei manter a pose de rapaz decente, o que não fazia sentido algum porque ela também estava ali em um lugar tão deprimente. E foi ai, então, que meus pensamentos começaram a ganhar proporções que eu sinceramente não tinha controle.

Me vi sentado no chão no canto escondido conversando abertamente com uma garota argentina que estava chorando. E eu juro, não sei quanto tempo fiquei ali sentado, enquanto meus amigos se embebedavam, eu só queria que essa maldita vibe passasse. Até que começou a chover... O casarão era grande, mas não tão grande a ponto de abrigar todos os convidados de uma só vez na sala.

Foi quando senti minha cabeça ser coberta por uma boia de piscina no formato de um telefone dos anos 80 e a garota de cabelos vermelhos com o sorriso largo me salvar das gotas geladas que, agora, graças às sensações das drogas, pareciam cair lentamente enquanto ela falava e eu não conseguia prestar a atenção...

-Você tá bem mesmo? -Ela falava e dava risada e eu nem sabia se já tinha respondido.

PSICOPATA FRAGMENTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora