Capítulo 13 - Encarcerado

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Medo, o escuro era medonho. Os barulhos eram medonhos. O frio, o cheiro, eram insuportáveis. Eu nem sequer estava em um lugar adequado, mas só assim os sentidos humanos ficavam alarmados.

⇀A senhora não pode contar ao meu pai sobre isso, ele me buscaria no mesmo instante! ⇀Eu implorava para tia Margareth.

⇀John, olha onde você está! ⇀Ela tentava de todas as formas me convencer.

⇀Eu não quero voltar. Eles vão me liberar depois que eu explicar tudo, vou ficar aqui, vou me comportar e serei solto, não vai demorar tia, foi legítima defesa. ⇀Nem tudo precisava ser verdade.

⇀Olha, vou deixar que dessa vez seja a sua maneira, mas John, que não haja uma segunda vez, ou você voltará pra lá mais rápido do que imagina. ⇀Ela falava preocupada.

⇀Obrigado tia, a senhora não vai se arrepender, eu prometo! ⇀Sorri tocando suas mãos pelas grades.

Após alguns minutos nossa visita estava finalizada e minha tia se foi. Enquanto eu voltei a encarar meu próprio vazio, e me perguntava o porquê de tudo voltar a tona sempre que eu estava sozinho.

Eu não queria lembrar, não queria pensar em Hinna. E foi como se o cheiro de seu corpo que começara a se decompor voltasse aos poucos para me assombrar.
Mais ao canto da grade, eu via sua forma, e seus cabelos afros tão rebeldes. Sentia novamente aquele desespero de tê-la a encontrado.

⇀Não acredito que não me despedi, senhorita. ⇀Respirei fundo, mas fui incapaz de deixar que as lágrimas me dessem o devido conforto que eu precisava.

⇀Hey, Garoto? ⇀A voz grossa de um jovem homem se estendeu pelo silêncio.

Assim que olhei mais a frente, um policial estava na grade, me olhava com certa pena, e me chamava com os movimentos das mãos.

⇀Você será ouvido, venha! ⇀Eu me aproximei das grades que foram abertas me dando espaço para me esgueirar do lugar assustador.

O homem me acompanhou até uma sala da qual me parecia ser um interrogatório, e eu tive medo de dizer coisas que pudessem me manter mais tempo ali.

⇀Olá John, sente-se, vamos conversar! ⇀Um homem também não muito velho, me sorriu gentil e parecia cauteloso. Me sentei de frente com o mesmo que queria ouvir toda a história, desde o início.

(-)

⇀(...) Então quando o interroguei, ele foi sarcástico e eu segurei suas mãos com força, mas ele rodou de mal jeito e acabei o machucando. O outro veio pra cima de mim e eu lhe dei um soco, que resultou no nariz. ⇀Eu falava como se estivesse chocado. ⇀Abri o capô do carro e vi o corpo de Hinna... ⇀Chorei exagerado. ⇀Ela já estava morta, sua pele... Estava tão triste. Então foi quando Miller me segurou e então...

⇀Espera, Miller? ⇀O detetive parou.

⇀Sim, Marcus Miller, meu amigo. ⇀O olhei se assustar e no mesmo instante ele me pediu pra parar. Se levantou e saiu da sala.

⇀Por favor, não posso voltar pra lá, estou tão assustado... ⇀Eu ainda falava em prantos, era uma das coisas as quais os adultos ficavam comovidos. ⇀Eu nem me despedi de minha amiga...

⇀Tudo bem, você vai ficar na ala médica, lá é mais iluminado, você vai se sentir melhor. ⇀O carcereiro me acompanhou gentilmente, mas manteve um "enforca gato" em meus pulsos para que eu não "causasse problemas".

Me sentei em uma das macas do quarto branco, ele era trancado por fora, mas tinha uma cama, iluminação e cobertores. Então me deitei e me cobri, até que alguém pudesse me explicar tudo o que acontecia.

Eu não sabia por quanto tempo fiquei ali pois acabei cochilando, mas logo o detetive voltou e me deu um forte abraço, estava grato por alguma coisa.

⇀Meu nome é Rafael Miller, sou o irmão mais velho de Marcus. Ele esteve perdido por alguns meses, se não fosse por você, eu nem sei o que faria. ⇀Sorriu ainda me olhando e eu realmente ainda estava processando a informação. "Como um detetive não achou o próprio irmão?"

⇀Eu não sei o que dizer, mas o que vai acontecer comigo? ⇀Fiz cara séria e me questionei internamente.

⇀Você vai pra casa, o Marcus disse que você só se defendeu, basicamente a mesma versão da história. ⇀Caminhamos pelo corredor até ver Marcus.

Fui até o garoto e o abracei, mas voltei a chorar para que fosse mais convincente. Marcus me ajudou, ele chorou junto comigo, e apesar de já ter o visto me encarar com medo, agora sentia que voltamos a antes de tudo isso.

⇀Hinna será enterrada amanhã cedo. ⇀Marcus falou cabisbaixo.

⇀Não acredito mesmo que a perdemos. ⇀Respirei fundo.

⇀Ela era engraçada, minha companheirinha. ⇀Respirou.

Cada um de nós voltou para casa, e minha tia não precisava mais se preocupar, afinal de contas eu não havia ficado nem 24 horas na prisão juvenil. Claro que eu teria que fazer umas sessões de terapia para convencer a psicóloga de que eu não era um problema para a humanidade.

No dia seguinte, todos estávamos reunidos ao redor do caixão pequeno de Hinna. Eu, Marcus, Rafael, e todos do orfanato, todos em pranto e tristeza.

Caminhei até o caixão colocando em cima do mesmo um ramo de botões de rosas brancas. Era o meu favorito, ele significava o amor pra mim, mesmo que na verdade eu não soubesse o que o amor fosse. Eu ainda o via apenas como um botão de rosa que não se abria.

⇀Sinto muito por não chegar a tempo, senhorita. Os botões são como você. Jovens e não puderam desabrochar. ⇀Sorri fraco.

⇀Sinto muito por não te achar a tempo, e negar o vigésimo terceiro abraço antes de você dormir. Espero que ganhe milhões deles de seus pais e irmãos, e que se lembre dos nossos rostos e cheiros. ⇀Marcus falou em lágrimas, mas riu de suas próprias palavras.

⇀E de que eu sou o irmão mais bonito. ⇀Sorri apoiando meu braço ao redor de Marcus.

⇀Eu sou o irmão bonito por dentro. ⇀Ele me olhou com um riso forçado.

O funeral não durou muito, e logo eu já estava em casa. Não tinha nada para me recordar de Hinna, a não ser o significado de seu nome.

⇀Vou te carregar pra sempre, Hinna. ⇀Falei aos quatro ventos.

Me sentei na janela de meu quarto e acendi uma vela. Era uma forma de mostrar a ela que eu estava sempre aqui. E que a janela estava aberta caso ela quisesse me visitar. Uma grande bobagem que fazíamos para tapar o buraco da saudade, mas era isso.

⇀Rafael Miller, detetive... ⇀Aquilo era vantajoso, eu precisava fazer isso ser minha ponte para entrar e sair de qualquer lugar sem ser visto e era exatamente o que eu faria...

PSICOPATA FRAGMENTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora