Capítulo 19 - Doce Itália

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Apesar de todos os problemas com Penélope, e de como aquilo tudo foi um grande incomodo para mim, eu não podia ficar bancando o justiceiro. Pen escolheu aquele caminho e eu só podia aceitar que nem tudo poderia ser um mar de rosas na minha vida e nem na vida das pessoas, mesmo que tudo fosse devastador. Eu estava aprendendo a não mais chamar a atenção, muitas investigações foram abertas com a morte de Orwell, acabei abrindo várias empresas fantasmas durante aquele mesmo ano em vários países, o que resultou no meu banimento em vários lugares.

Após muitos de meus esquemas, resolvi visitar meu pai e Nicolas antes de finalmente me aproximar de Megan. Apesar dessa minha ficha tão extensa, eu ainda não havia desistido de reencontrá-la. Com a proteção de Rafael Miller e de alguns amigos que migraram do exército para a polícia, eu tinha muitas vantagens, alguns dons que poderiam me salvar. Ainda mais em uma cidadezinha onde todos foram deixados a deriva de golpistas políticos.

Confesso, olhar para meu pai e meu irmão após tanto tempo, não era bem como eu esperava. Era algo como reencontrar um melhor amigo que te decepcionou e coisas do tipo, alguém por quem você daria a vida e que agora já não faz nem parte dela. A recepção também, não foi lá um mar de rosas. Eram uma troca de olhares que mais diriam "O que você faz aqui?" ou "Você tá mesmo vivo?" o que era genuíno.

–Vocês podem ao menos sorrir por educação? –Falei deixando a mochila no chão.

–Ah, entra John... – Meu pai falou sério e me encarando como se eu nem fosse mesmo real. Adentrei a casa antiga que tinha o mesmo cheiro amadeirado do qual eu me lembrava. Larguei a bolsa num canto e voltei ao centro do lugar, admirando tudo por partes.

– Esse lugar não mudou nada mesmo, hein? – Sorri forte tentando disfarçar o quão incomodado eu estava.

– É, não mexemos em muitas coisas. Bom, vejo vocês de noite, vou trabalhar! – Meu pai caminhou até a porta e sorriu. – John, bom ver você, filho.

– Bom ver você, pai. – Eu também, não sabia se era sincero.

– O que faz aqui? – A voz de Nicolas ecoou meio irritada pelo cômodo da casa.

– Sou seu irmão? Eu realmente não sei se deveria ter uma resposta para essa pergunta. – Eu fazia piadas para descontrair, mas estava perdido.

– Depois de tudo o que fez... – Ele cerrou os olhos indignado.

– Você é patético por ser imaturo e remoer coisas do passado que nem significam nada agora. – Respirei fundo.

– Você é ridículo por aparecer depois de anos sumido, sem dar satisfação e ainda agir como se nada tivesse acontecido.

– E nada aconteceu...

– Mamãe morreu, Megan se foi, e você tentou me matar? – Ele se aproximou erguendo o tom de voz.

– Caralho, e essa ficção que você criou? – Era fácil deixar ele irritado.

O jovem adulto me pegou pelo colarinho e ficou vermelho automaticamente, enquanto eu sorria sem ter muitas expressões para lhe apresentar durante seu surto.

– Eu queria arrancar esse sorriso idiota do seu rosto. – Ele quase bufou como um touro.

– Tenta...

As palavras foram motivadoras, mas ele não mexeu sequer um músculo.

– Não sou como você! – Ele tentou sair por cima.

– Não mesmo, precisa ser muito corajoso para isso. – O empurrei fortemente e dei uma piscada.

– Estou saindo para o trabalho. Vê se não mata ninguém enquanto isso. – Ele tentou.

– Não garanto nada, se eu ficar muito entediado, quem sabe? – Falei pegando a bolsa no canto e subindo para meu antigo quarto.

– Ninguém mexeu naquele cômodo desde que você saiu. – Ele riu.

– Bom mesmo, eu sei cada lugar onde deixei minhas coisas. – Brincar com Nicolas de quem é o mais sagaz nas respostas, era uma mania.

Ouvi a porta bater com a saída do mais novo, subi as escadas e automaticamente vi e ouvi a voz de minha mãe ecoar por todos os lugares, e me senti angustiado. A saudade de todas aquelas pessoas com as quais eu esbarrei na vida e perdi para a violência, era tão assustador. O monstro que havia dentro de mim crescia a cada minuto, e eu o alimentava sem perceber.

Abri a porta do quarto e agora eu entendi porque Nicolas se sentia animado ao dizer que ninguém nunca havia entrado ali. O lugar fedia a mofo e a poeira dominava até o chão. O guarda-roupas estava totalmente cheio com minhas roupas de criança, era até engraçado olhar o tamanho das camisetas e lembrar de quando as ganhei, onde as usei, o quão grandes ficavam em mm e que agora não serviam para nada.

– É, mãos à obra!

Fui até um mercadinho que ainda existia ali por perto. Comprei alguns panos de limpeza, desinfetante e bucha. Voltei para casa e fui até a lavanderia, realmente nada havia mudado. Peguei a vassoura e o rodo, subi novamente ao quarto dando uma verdadeira faxina.

Coloquei as roupas todas em sacos pretos e levei para frente, colocando ao lado do container de lixo. Voltei para o quarto e lavei todas as colchas de cama e cobertores. Enquanto tudo secava na secadora eu fui até a cozinha e preparei um café. Me sentei e me veio uma memória de minha mãe, cantando e dançando ao redor da mesa com um sorriso forte, e eu a olhava como criança e sorria junto, também cantava com ela quando me lembrava da letra, e era disso que eu sempre senti saudade.

Enquanto me sentia saudosista, me lembrei de um dos meus favoritos da casa, o jardim de rosas brancas que eu tanto amava e a varanda que dava quase de frente com a varanda do quarto de Megan. Me lembrei de todas as intromissões da garota à minha privacidade e sorri. 

PSICOPATA FRAGMENTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora