Capítulo 18 - Antes de dizer adeus

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Narrado por John

Eram sete horas da manhã, e eu já estava sentado na frente do computador tentando criar novas maneiras de render meu dinheiro.
Penélope adentrou o escritório já proibido diversas vezes, mas queria me entregar uma xícara de café.

⇁Eu sei que não posso estar aqui, mas tenho uma novidade! ⇁Ela sorria de maneira animada e eu não podia ser grosseiro tão cedo, ou podia?

⇁Você tem cinco minutos pra falar. ⇁Sorri fraco pegando a xícara de sua mão e dando um gole forte no líquido.

⇁Tenho uma entrevista hoje! ⇁Falou me fazendo focar totalmente na notícia.

⇁Onde? ⇁Perguntei ainda encarando seus olhos.

⇁Bom, um empresário quer que eu seja modelo na revista dele. ⇁Eu juro, poderia fazer várias piadas destrutivas naquele momento, mas ela realmente era muito bonita.

⇁Isso parece muito bom, parabéns!

⇁Sem piadas destrutivas?

⇁Nop... Mas seu tempo acabou, por favor encoste a porta ao sair. ⇁Sorri fraco me voltando para a tela. A garota beijou o alto da minha cabeça e saiu.

Eu pensei por diversos momentos quem poderia ser esse tal cara, e de qual empresa se tratava. Poderia pesquisar tudo sobre ele puxando apenas pelo cartão de visitas, mas não me pareceu uma ameaça para ela, e eu também não podia ultrapassar o limite de intimidade que eu mesmo estabeleci. Afinal, ela era sua própria ameaça, se não fosse morta pelas próprias mãos, eu nem sei como poderia acontecer.

Continuei meus afazeres até que tudo foi ficando entediante. Me levantei e notei que três horas haviam se passado, e eu estava faminto.
Fui até a cozinha e notei que ela havia deixado alguma sanduíches para mim, como de costume. Ela acreditava que era o mínimo que poderia fazer já que eu bancava tudo, e é claro que eu concordava com ela.

Peguei os sanduíches e os devorei junto a outra xícara de café quente, que era revigorante na primavera.
Olhei pela janela e percebi que o clima era bom para mexer na estufa de rosas.
Fui até lá, podei alguns galhos, reguei suas raízes e colhi algumas rosas maduras para colocar na casa. Lembrando sempre dos comentários de Penélope que insistia em dizer que a casa fedia a velório, e que rosas brancas eram deprimentes.

Ao terminar, carreguei o vaso até a sala principal o colocando na mesa de centro, que era toda decorada em madeira maciça.
Foi quando notei Penélope adentrar o ambiente com o alto da cabeça sangrando, lágrimas por toda a parte e as mãos arrebentadas.

⇁Que porra aconteceu contigo, Penélope? ⇁Eu obviamente estava espantado.

⇁Cala boca John, me deixa em paz! ⇁Ela subiu as escadas e logo em seguida os barulhos de passos estressados foram cessados pelo bater da porta, um grito estridente de mulher rancorosa pairou pelo lugar e eu só conseguia rir e fazer caretas tentando entender.

⇁Mas, que diabos foi isso? ⇁Me sentei no sofá admirando as rosas e percebi como tudo estava lindo. Me levantei buscando no armário do cômodo, uma câmera que vivia alí.

Tirei uma foto do belo vaso, como de costume e o guardei de volta, colocando a foto na pasta, era como acompanhar a evolução da minha jardinagem, cada foto mais cheia de flores e a diferença na beleza das rosas era visível.

Torno a ouvir passos desesperados no andar de cima, em menos de cinco minutos, ouço objetos serem arremessados. Outros gritos furiosos da jovem adulta, quebram a paz do meu dia. A porta se abre num rangido leve e os passos vão se fazendo mais presentes no cômodo que eu habitava.

⇁O que houve? ⇁Me sento olhando a garota apenas de top e shorts de dormir.

⇁Aquele filho da puta, disse que a revista era pessoal... Uma revista pornográfica. Queria me dar drogas como pagamento e tentou me comer a força.

⇁E como você se machucou?

⇁Eu soquei a cara dele e ele me empurrou, eu caí e bati a cabeça, mas arrebentei a mão naquele nariz nojento dele. ⇁Ela não era fraca.

⇁Qual é a parte ruim disso tudo? Quer dizer, sem ofender, mas tudo o que ele te ofereceu você tem feito nesses últimos meses, entende? Se prostituir, ser paga com drogas.

⇁Eu achei que era uma porta, sabe? Pra sair dessa merda toda e ser uma pessoa diferente. Eu nem to mais injetando nada. ⇁Ela se sentou no sofá ao lado e me encarou chateada.

⇁Primeiro, você precisa parar de faltar nas suas aulas e ser alguém. Terminar a faculdade e arrumar uma profissão, orgulhar seus pais. ⇁Eu ria enquanto falava, é obvio que parecia uma piada.

⇁Tem razão, e morar com você não vai ser a solução para os meus problemas. ⇁Ela se levantou, veio até mim e selou seus lábios aos meus, como uma despedida.

Eu achava que não duraria nem dois dias, era o máximo que Penélope ficava sem mim. A olhei subir as escadas demorar uns minutos e voltar de jeans, bota, blusa e uma mala com suas coisas claramente socadas.

⇁Obrigada por tudo!

⇁Pen, vai mesmo ir embora, de novo?

⇁Para sempre, John.

⇁Vou pedir Yakisoba, caso mude de ideia. ⇁Ela sorriu, mas logo seu rosto dava lugar às lágrimas e ao choro comovente, ela secou com a manga da blusa e saiu.

Voltou a abrir a porta uma ultima vez e gritou. ⇁Beijo na bunda, seu delinquente. Quando achar a Megan, fala para ela que eu ainda sou o verdadeiro amor da sua vida! Yup!

Eu ri, essa garota era realmente boa com dramas, e eu não acreditei nem por um segundo que ela ficaria tanto tempo longe.


(-)


Após três dias, voltando da faculdade muito tarde, resolvi passar na biqueira onde Penélope fumaça e injetava suas drogas. Alguns caras me disseram que ela estava morando em um apartamento abandonado na zona norte da cidade e eu fui busca-la, fazia ao menos ideia de onde era, foi da onde a tirei quase um ano atrás.

Subi o ambiente podre, rodeado com homens e mulheres consumidos pela fome e miséria. Bati na porta do apartamento, mas ela estava aberta. Quando tive visão da sala, fiquei abismado com a imagem. Pen estava ali, deitada no sofá, com os pés furados de agulhas, olhos arregalados e boca aberta. O ambiente todo fedia a bicho morto, e em sua mesa de centro notei um vaso com rosas brancas murchas, as quais senti falta na minha estufa.

Liguei para a polícia e o IML veio os acompanhando. Eles nem se espantaram com a imagem, até procuraram por outros usuários que poderiam estar mortos na área.
Acompanhei a garota até lá, queria saber o resultado da autópsia.

⇁A garota estava com anemia, não comia à alguns dias, injetou heroína, mas a droga continha veneno de rato, foi isso o que à matou. Provavelmente, algum serviço que ela prestou em troca das drogas... Sinto muito, a polícia está investigando o caso. Algumas mulheres morreram disso nos últimos meses.

Meus olhos e garganta ardiam, olha onde deixei Penélope morar? Eu não podia simplesmente ouvi-la?
Estava amaldiçoado com tantos corpos ao meu redor durante toda a minha vida.

⇁Drogas como pagamento...

Voei até em casa, corri até o escritório e acendi a luz, no meio de toda a papelada encontrei, o cartão de visitas do maldito homem que machucou Pen. Aquele maldito teria sua dívida bem paga...

PSICOPATA FRAGMENTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora