Sol quente, ruas bem iluminadas e o terror que ninguém esperava em um bairro tão monótono.
Uma mulher destroçada, com cortes profundos e seu crânio rachado. As calçadas com sangue seco e uma poça bem ao meio da rua. A bicicleta intacta jogada um pouco ao lado. O cheiro de ferrugem e a orla de curiosos traumatizando os próprios olhos e lembranças de um dia tão incomum.Viaturas passeavam por entre os bairros, nenhuma câmera encontrada no lugar, nenhum vestígio de freada, nenhum animal por perto e emissoras aos montes deduzindo coisas tão ridículas.
Eu estava sentado, tomando um café, mas em um lugar totalmente incomum. Estava acampado do lado de fora da casa de Megan, sentado no jardim a pouco menos de uma hora. Esperando para brincar com o controle universal de televisão.
Limites? Eu não sabia mesmo quais eram, mas estava disposto a descobrir em que momento essa ruiva desistiria de fingir que tudo continua igual, a mesma bolha segura de alguém de classe média, passeando por uma vida de regalias. Almoçando e Jantando em família, sem contar nada a ninguém. Sinceramente, as pessoas tem uma mania individualista de não preocupar ninguém com seus próprios problemas, e isso na maioria das vezes é o que acaba os matando. O egoísmo e a falta de confiança.Ouvi a garota conversar logo após terminar meu café. No meu celular, estava observando quando o jornal da manhã começaria. Matar aquela mulher daquela forma, não foi intencional, mas minha paciência havia chegado ao limite, e qualquer sinal de afronta, naquele momento, me fervia o sangue.
Assim que avistei a garota ao longe, liguei a TV com o controle multifuncional, e enquanto ela lutava para desligar ele e abaixar o volume, eu brincava de fantasminha camarada.
Como ela era ingênua, chegava a ser fofo que ela nem cogitou olhar pelas janelas e sacar a brincadeira. Ou talvez, ela só estivesse com medo mesmo de olhar.
Desistiu da luta e assistiu ao noticiário, essa era a coisa que eu mais queria. Por mais que não tivesse sido proposital, serviu como uma lição para a garota, que eu esperava que se culpasse por não ouvir aos meus chamados.Assim que terminei a missão, me levantei e saí de fininho, voltei ao meu carro em outro quarteirão e quando adentrei o veículo, notei que alguém estava no banco de trás.
– O que você pensa que está fazendo aqui, John? – A voz irritada de Rafael ecoou como um sussurro.
– Estou sentado no banco do meu carro? – Sorri o encarando pelo retrovisor.
– Não sabe que houve um assassinato aqui tão perto? – Franziu as sobrancelhas grossas.
– Fiquei sabendo hoje de manhã... Trágico!
– E você sabe como aconteceu? – Ele disse esticando a mão com um vídeo no celular, era meu carro, por sorte meu rosto não aparecia.
– Eu ia mesmo denunciar o roubo do meu carro, mas como ele apareceu hoje de manhã... – Antes de terminar a frase o homem me agarrou pelo pescoço me prendendo no banco, e chegou bem perto da minha orelha.
– Acha que vai poder brincar de Stalker a vida toda atrás dessa garota? – Ele estava mesmo muito furioso.
– Essa mulher veio me infernizar, eu não bati nela como você pode ver, mas ela quis manchar meu nome para me extorquir.
– Ela não ia manchar, estava sendo procurada pela polícia local por esse motivo. Mas, você achou que foi o suficiente para TIRAR UMA VIDA? – Gritou.
– Fica calmo, cara. Eu não vou fazer mais isso! – Respirei fundo soltando um riso ladino. O que parece ter piorado a situação. Ele me soltou de maneira bruta e recostou no banco.
– Você tem no máximo, um mês para deixar essa cidade. – Avisou.
– Um mês? E a faculdade?
– Que porra de faculdade, sabemos quais são seus interesses aqui, seu imbecil.
– Rafael, em um mês eu não consigo realizar os planos de toda a minha vida! – Me virei para trás para olhar o homem.
– Foda-se se levou uma vida ou duas para resolver suas maluquices, acontece que eu já fiz muita vista grossa para suas bobagens, e dessa vez eu vou te caçar como o animal que está sendo! – Ele se voltou para a porta, para sair.
– Vai continuar fazendo vista grossa dentro desse um mês pelo menos? Eu te juro que vou sumir da sua vida!
Assim que terminei a frase, escutei apenas o bater da porta, o homem estava lá fora. Veio ao vidro do motorista para me responder.
– Você só tem um mês, e eu vou te levar se não sumir!
– Vou entender como um "sim"! – Sorri para ele, que se virou e sumiu em seu carro num piscar de olhos. – Desgraçado!
Respirei fundo, não tem mais como estender essa merda, agora que tudo parecia caminhar nos eixos, esse desgraçado resolveu dar um basta. Eu não fiz nada de mais... Nada!
Por mais que eu soubesse de muitas coisas, eu ainda precisaria de algum plano B, para poder controlar o Rafael, apesar de tudo o que houve e das dividas que ele custava em dizer que já quitou, eu não podia mais pisar fora dos trilhos sem ter nada como garantia.Rafael era um homem de família e já estava casado, tinha uma filha pequena. Talvez aquele fosse meu passaporte para a felicidade. Eu não queria ter que chegar a tal ponto, e mesmo que eu fosse apelar pra isso, ameaçar uma família, ainda mais de um detetive, eu precisava ser bem convincente. Rafael me acompanhou a vida toda, ele sabia como era meu jeito e como eu funcionava, mas ainda era receoso pelo que não sabia sobre mim, e agora, para ele, eu provavelmente era um louco que não dava pra brincar muito.
Bom, a insanidade estava em dia, eu só precisava focar no meu plano B, enquanto a Ruivinha fugia para seu passado sombrio. O que eu realmente fui tomado de surpresa, devo admitir.
Júlia me ligou para dizer que o plano provavelmente tinha fracassado, já que Megan saiu correndo sem que ela terminasse de dizer o que precisava. Entretanto, apesar de não estar nos meus planos ouvir (de sua sacada) que ela iria para a Itália e reencontraria Nicolas, que também, já foi um amor do passado, eu não podia largar tudo e ir atrás dela, o que era muito cruel.
Assim que a família feliz jantava no conforto de sua casa, e discutiam sobre essa viagem, eu dei um tempo para que pudessem se ajeitar.
Passeei pelo centro, comprei mais rosas brancas para presentear Megan na manhã seguinte ao seu embarque.
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PSICOPATA FRAGMENTOS
Mystery / ThrillerVOLUME 3/3 1 PSICOPATA 2 PSICOPATA - NAS SOMBRAS 3 PSICOPATA - FRAGMENTOS ↬ Antes de John ser o que é, ele foi humano. Teve sentimentos, preocupações e também se apaixonou. John era uma criança, mas nunca foi tratado como tal. Onde foi que as coisas...