15 ••• preciso dizer...

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DULCE MARIA

Alguns dias se passaram. Estávamos até que nos dando bem. O único problema eram as atitudes dele com as pessoas. Eu não gostava de presenciar, nem de imaginar ele fazendo mal a alguém.

Eu sei, o conheci assim, mas não conseguia crer que o mesmo que me amava na cama era o mesmo que tomava dos outros pra se enriquecer. Christopher poderia se tornar alguém melhor. E era nisso que eu queria focar, e se isso não acontecesse, então seria o fim.

Acordei bem cedo, era manhã de sexta, meu pai teve alta no hospital. Fui buscá-lo depois de quase 20 dias de internação. Graças a Deus correu tudo bem nesse período e só o que resta e terminar de se recuperar em casa.

E por falar em casa, eu tinha que conversar com meu pai. Porque quando ele se acidentou, ainda estávamos na pensão. E foi só pelo custo do hospital que eu me encorajei a procurar Christopher, que na época era a melhor saída.

(...)

— onde estamos indo? Por que o Henrique está nos levando? Não me diga que ainda está com aquele agiota? — meu pai perguntava no carro.

— segura a onda vovô, só estou fazendo meu trabalho. — Henrique diz.

— disso eu sei, meu caro. Eu não sou vovô. — meu pai se irrita.

— pai... quando chegar lá nós conversamos. — digo seria.

— chegar onde? Na casa do Christopher? Tudo que eu que te pedi filha, foi que não voltasse pra ele. — meu pai estava com ar preocupado.

— pai por favor, aqui não. — digo olhando de lado para Henrique no volante.

Sim, Christopher pediu que eu levasse meu pai pra lá, já que era lá que eu estava morando nos últimos tempos. Era estranho, porque apesar de estar gostando de estar com ele, não tínhamos um compromisso de fato, ou um namoro. Só estava ali, e não fazia a mínima ideia de como ficariam as coisas depois que acabasse o contrato.

Chegamos na mansão e Henrique me ajudou a colocar meu pai na cadeira de rodas, era mais fácil assim do que ele ficar com as muletas pulando, ainda era recente a operação.

Meu pai teve um quarto só para ele, inclusive contratou uma pessoa só para ajudar meu pai, um enfermeiro que iria ajudá-lo no banho diário. É muito inusitado ver que a pessoa que a tempos atrás estava querendo nós tomar tudo, e hoje está justamente nos suprindo com tudo.

Depois que meu pai se instalou, deitou na cama eu o deixei vendo tv por um tempo. O mesmo estava inquieto, e só se acalmou depois que tomou o remédio das dores.

Christopher não apareceu na hora do almoço, tinha comida pronta e eu mesma esquentei. Enquanto meu pai dormia Maite adentrou com alguns papéis em mãos.

— Oi Dulce.

— Oi Maite.. — sorrio — quer almoçar comigo? — pergunto.

— eu adoraria se não estivesse cheia. Comi tem pouco tempo. Mas me diz. Como está seu pai? Henrique me disse que teve alta hoje e que já se instalou.

— está bem... na verdade ele já está até dormindo. Por efeito do remédio...

— ah, sim. Mas... e sobre Christopher, ele entendeu que agora vocês estão se curtindo?

— Ainda não pude conversar com ele sobre. Mas já percebi que não será fácil. — digo seria. — amiga eu não sei o que fazer, juro. Gosto de estar com Christopher, ele é ótimo pra mim agora, só que essa vida dele, todos esses problemas do passado que tivemos, meu pai nunca aceitaria e isso pesa muito.

— seu pai precisa entender que isso tudo foi em decorrência de uma má escolha dele. Colocando você nas mãos de um desconhecido tudo poderia acontecer. E devia dar graças a Deus que vocês se gostam, não acha? — ela ergue as sobrancelhas.

— é, você está certa. Mas vai dizer isso a ele... a coisa não vai fazer tanto sentido mais. — lhe encaro.

— você precisa ser franca, abre o jogo mesmo.

— é... eu vou conversar com ele... — suspiro. Vou olhar as panelas e já volto. — sorrio e me levanto.

Alguns minutos se passaram. Maite foi embora e eu almocei. Meu pai acordou e começou a chamar por mim, era hora deu contar tudo.

(...)

— você demorou... — ele disse quando entrei e fechei a porta.

— eu estava colocando as louças na lava louça.

— filha, não me diga que está tendo uma vida normal aqui? — ele me encara.

— pai, estou sim. E ainda bem, não acha? — digo.

— como assim? — ele franzi a testa.

— vai me dizer que queria que eu continuasse feito uma prisioneira aqui? Quando as coisas não estavam bem, e eu estava sofrendo o sr não demonstrou tanta preocupação comigo, aliás, nem quando me envolveu em suas apostas. — meus olhos se enchem de lágrimas.

— está me culpando novamente, filha? Eu já pedi desculpas...

— mas pra mim não é o bastante. Olha, se eu tivesse sofrendo agora, provavelmente não estaríamos nos falando. Eu fingi que não estava magoada, quando na verdade eu estava... — a lágrima cai.

— e porque não me disse antes?

— você não iria poder fazer nada, ou iria? Pai... a diferença agora é que eu consegui dar a volta por cima. Eu estou bem.

— você gosta dele? É isso?

— é... a gente... aprendeu a se gostar, não vou negar que teve atração, e foi o que facilitou. Mas o sentimento foi o que foi inevitável, entende? E quando eu o procurei, percebi que era mútuo. Porque no primeiro momento ele pediu que eu voltasse, como desculpa o pagamento do hospital, claro. Mas eu já percebia que ele estava interessado, como eu. E foi acontecendo. — lhe encaro.

— e você quer que eu concorde com isso? Quer que eu a parabenize, por ter gostado de um agiota?

— pai, ele pode ser o que for, mas se a sua perna está boa, se o Sr está vivo, e se está agora deitado em uma cama quentinha e não um lugar fudido como era a pensão, deve a ele, sinto muito. — Nem termino de dizer e a porta se abre.

— com licença... — Christopher entra.

— ah, céus! — meu pai suspira.

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Jogo Perigoso | Vondy Onde histórias criam vida. Descubra agora