Lâmina

325 35 174
                                    

Por Thiago

Mesmo do outro lado da sala o seu olhar às vezes encontrava com o meu. Ela conversava animada com a Daisy e o Pietro, e fiquei feliz por ela estar conseguindo se enturmar com a equipe, apesar de parecer ter receio disso em alguns momentos. A Urquiza parecia ser alguém retraída, fechada em seus próprios pensamentos, mas tinha algo errado, não parecia ser algo dela, e seus breves momentos totalmente livre mostravam isso, antes dela se fechar novamente.

Ela estava apoiada no braço de uma das poltronas, equilibrava a embalagem da comida chinesa em uma das mãos enquanto ria de algo dito pelo Pietro. Seu sorriso leve trazia com ele uma parte da Ana Urquiza de verdade, e devolvia por um breve segundo o brilho dos seus olhos. Foi apenas pensar no seu olhar que ele desviou até mim do outro lado da sala.

Seu sorriso não se desfez, apenas se transformou em algo novo, completamente hipnotizador. Meu cérebro não estava ligando para o fato de registrar o que se passava em volta, mas meu ritmo cardíaco deu uma leve escorregada. E eu estava preocupado com o que isso significava. Um barulho em uma das telas da Pixie chamou nossa atenção atraindo nosso olhar para a imagem no Guillermo ainda na cela do porão, dessa vez acordado e gritando insultos para a câmera de segurança.

Pietro: Ninguém merece – olhou sem paciência para a imagem – A gente não pode nem jantar em paz?

Luan: Quanto tempo ele vai ficar por aqui? – disse não ligando para o comentário do Pietro.

Thiago: Só até conseguirmos alguma resposta – deixei o resto do jantar sob a mesa de equipamentos – Vou ter uma conversa com ele, talvez facilite as coisas.

Daisy: O Guillermo? Acho difícil.

Ana: Vai precisar de ajuda?

Thiago: Por agora não – me dirigi até a porta da sala – A primeira conversa é mais pra decidir se ele vai preferir cooperar ou vamos ter que obriga-lo. Talvez ele coopere sem nem ao menos perceber. Fiquem de olho na cidade por enquanto.

Eles concordaram enquanto eu me dirigia até o elevador. Pressionei o botão que levava até o porão e logo as portas se fecharam. Uma música de discoteca começou a tocar de fundo, me fazendo revirar os olhos e lembrar de nunca mais deixar o Pietro ficar entediado ao ponto de fazer uma playlist exclusiva para o elevador. Quando entrei no porão as luzes automáticas do amplo corredor se acenderam, quatro celas fechadas dividiam uma parte do lugar. O interior das celas tinham paredes acolchoadas brancas e uma pequena cama, mas a única forma de ter uma visão lá de dentro era pela pequena janela na porta.

Me aproximei dando uma leve batida na porta de metal, chamando a atenção do Guillermo. Ele estava sentado na cama, mas logo que me viu praticamente voou até a porta com violência, apesar de seu rosto não transparecer nenhum resquício de raiva ou preocupação.

Guillermo: Quanto tempo pretende me deixar aqui?

Thiago: É só me falar o que eu quero saber e eu te solto daqui – me escorei na porta.

Guillermo: Vai me deixar ir?

Thiago: Claro, direto para a cela no departamento de polícia e depois um passeio até a penitenciária da cidade – ele deixou um sorriso escapar.

Guillermo: Você com certeza não sabe fazer negociações.

Thiago: Não vim fazer negociações – foi minha vez de deixar escapar um sorriso sarcástico – Você vai me contar o que eu quero saber.

Guillermo: Ou...?

Thiago: Não tem 'ou'. Você vai contar o que eu quero saber, e é só – seu rosto continuava sem expressar reações, ele sabia o que fazer – Pode começar me falando sobre o Marcos Golden.

ScorpionsOnde histórias criam vida. Descubra agora