Corações

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Por Ana

Ás vezes sentimos medo dos nossos próprios sentimentos, o que chega até ser cômico porque isso acaba sendo consequência de um sentimento que te impede de experimentar outras sensações. O medo age como uma trava, te lembrando do que já aconteceu e criando em sua mente milhões de possíveis situações que faz com que você apenas aceite o medo. É difícil se livrar desse sentimento, da sensação sufocante que te faz ficar estagnado no lugar, mas existem pequenas coisas que te empurram contra a maré, que te mostram o que você está deixando de viver e o que você ainda pode viver. São coisas simples que te mostram que o mundo não é apenas um lugar hostil, e que em frente aos seus olhos estão inúmeras oportunidades de experimentar os mais belos sentimentos.

Quando nos permitimos dizer um 'Eu te amo', sentimos o coração leve por finalmente colocar em palavras tudo o que já tinha sido expressado por gestos e olhares. Apreciamos o sorriso bobo no rosto após dizer essas três palavras, e experimentos uma das melhores chuvas de emoções quando o sentimento é reciproco. É se permitindo sentir que percebemos o quanto vale a pena ganhar do medo. Mesmo que ele reapareça constantemente em situações que você não tem controle.

Respirei fundo sentindo o ar gelado e a sensação de que algo estava errado. Bastou uma fração de segundos para que viesse o primeiro toque sob a minha pele. A repulsão fez o meu estomago revirar, enquanto eu tentava escutar as palavras que saiam da minha boca, mas minha língua parecia pesada demais para conseguir formular alguma frase. O meu coração disparou enquanto eu tentava me soltar, tudo a minha volta não passava de uma completa escuridão fazendo os meus outros sentidos ficar alertas. Senti os seus beijos em meu pescoço e o seu timbre de voz próximo a mim, tudo nele me fazia querer correr, mas seu braço ainda me mantinha presa.

Escutei a sua risada fria, próximo ao meu ouvido, segundos antes de escutar o disparo. De repente eu não estava mais presa, não existiam mais toques ou sussurros, mas a dor no peito piorou ao sentir algo frio em meus braços. E como uma nevoa a escuridão foi embora, revelando um Víctor Gutierrez à distância, com um sorriso vitorioso no rosto. O ar escapou dos meus pulmões no momento em que me vi ajoelhada no chão, com o peso do corpo frio sobre os meus braços e o olhar sem vida do Thiago em minha direção.

Meus olhos abriram de repente encarando o teto do quarto. O silêncio foi preenchido pelo som da minha respiração acelerada, quase tão descompassada quanto às batidas do meu coração. Sentei na cama sentindo o nó na garganta e tentando forçar a minha mente a acreditar que só passava de mais um pesadelo. Mesmo depois de tanto tempo, de tantas noites sem dormir, é difícil não sentir o medo quando sua mente te guia entre os seus sonhos para momentos que você não quer lembrar ou que tem medo que aconteça.

Olhei para o quarto a minha volta reconhecendo o ambiente, e tendo a certeza que tinha sido uma péssima ideia tentar dormir. Joguei o meu corpo para trás o fazendo se chocar contra o colchão da cama, minhas mãos foram até o meu rosto tentando afastar os fios de cabelo, assim como afastar o resquício do sono. Mas os flashes em minha mente eram o suficiente para me manter acordada. Os toques, a risada, o frio, e então os olhos sem vida que fazia o meu coração se despedaçar. Droga.

Antes que eu me desse conta já tinha levantado da cama, pegado um casaco qualquer e jogado sobre o top, e ainda com a calça de moletom deixei o pequeno "apartamento" Urquiza para trás. Não registrei a presença de tantos agentes pelos corredores da base enquanto eu entrava no elevador e seguia até o piso quatro. Minha mente só voltou a registrar as minhas ações depois que um Thiago com cara de sono abriu a porta e por alguns segundos me encarou confuso.

Tudo bem, talvez tudo o que eu precisasse era saber que ele ainda estava aqui, e então tirar da minha mente a imagem dos seus olhos sem vida.

Ana: Eu... – minha voz embolou enquanto buscava uma explicação – Só precisava saber se você estava bem.

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