Bolha de culpa

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Por Ana

Senti a brisa do mar bater em meu rosto, e ainda com os olhos fechados deixei um pequeno sorriso se moldar em meus lábios. Ao longe meus ouvidos captavam risadas, talvez crianças brincando na areia, além das conversas daqueles que estavam em volta. Não me preocupei em me certificar se existia alguma ameaça, ou se eu tinha pelo menos alguma arma por perto caso fosse necessário. Meu corpo permaneceu relaxado, aproveitando a paz do lugar e aquela estranha sensação que tomava o meu coração. Talvez fosse a calmaria, ou o fato de estar longe de tudo, longe de toda a bagunça, da luta, das estratégias diárias, das missões, dos tiros...

Esse último era o que mais me preocupava, e minha mente repassou que tudo estava bem, eu não precisava ficar com medo de nada. Mas foi impossível impedir a repentina sensação de que tinha algo errado. Escutei o barulho da onda do mar, antes de uma voz chamar minha atenção. Qualquer sentimento ruim foi embora no segundo seguinte, a calmaria estava de volta, e eu não queria sair dali.

Abri os olhos vendo o dia ensolarado, a praia não estava tão cheia e tudo parecia em seu devido lugar, um dia perfeito e tão esperado. Olhei para a pessoa que se aproximava, o dono da voz tão melodiosa que fazia o meu coração acelerar sempre e o meu sorriso aumentar. Sua expressão estava suave, ele estava com short de banho e trazia na sua mão um tubo de protetor solar me fazendo rir.

Thiago: Eu disse que não ia esquecer – ele sorriu divertido enquanto se aproximava e sentava na espreguiçadeira do lado da que eu estava, embaixo do guarda-sol.

Ana: O que eu faria sem você? – ergui o meu corpo ficando sentada na espreguiçadeira.

Thiago: Com certeza seria o pimentão queimado mais lindo da praia – disse com a voz doce, mas com um sorrisinho travesso que já esperava o meu olhar emburrado. Ele soltou uma gargalhada quando o olhei séria e me passou o tubo de protetor solar.

Ana: Me ajuda? – perguntei me referindo a parte das costas.

Thiago: É claro que sim ruivinha.

Virei de costa, coloquei um pouco de protetor em minhas mãos e passei o tubo para o Thiago. Comecei a passar o creme branco nos meus braços, enquanto aos poucos sentia o Thiago passar nas minhas costas. Me certifiquei que tinha espalhado bem o protetor e então olhei para o lugar em volta, respirei fundo aproveitando tudo aquilo. Eu não queria sair dali.

Ana: Podíamos ficar aqui para sempre – disse baixo.

Thiago: Podíamos – ele terminou de passar o protetor e apoiou seu queixo em meu ombro – Mas sabe que não podemos.

Ana: Por quê? – senti ele deixar um beijo em meu pescoço.

Thiago: Por que você precisa enfrentar o que ainda estar por vir – senti as lágrimas chegarem aos meus olhos sem nem mesmo entender por que.

Ana: E se eu não conseguir? – senti o meu coração apertar.

Thiago: Você é a pessoa mais forte que eu conheço – sua voz soou confiante – Você vai conseguir – me afastei o suficiente para poder virar e ficar de frente para ele.

Ana: Eu não quero ter que enfrentar mais nada – segurei as lágrimas – Como eu vou fazer isso? Eu só quero ficar aqui – senti o nó na garganta – Com você – ele deu um sorriso triste, enquanto sua mão subia até o meu rosto deixando um carinho em minha bochecha enquanto ele se preparava para falar aquilo que eu não queria escutar.

Thiago: Você sabe que eu não estou aqui, ruivinha.

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Foi como acordar de um pesadelo, mas não porque as imagens que passavam em minha mente eram ruins, mas por lá no fundo eu saber que aquilo nunca aconteceria. Senti o meu corpo despertar quase que em um susto, minha visão ainda embaçada e o meu coração acelerado. Puxei o ar com força tentando colocar minha cabeça em ordem, mas tudo o que eu sentia e pensava era na dor. Não na dor física, essa parecia tão pequena comparada ao desespero que consumia o meu peito. As últimas imagens que eu lembrava repassavam em minha mente sem parar, fazendo com que as lágrimas se acumulassem em meus olhos.

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