Família

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Por Ana

Eu não sabia ao certo o que pensar.

Tudo girava em torno de uma simples palavra: Confiança. Repeti na minha mente que horas antes estávamos em um lugar que corríamos perigo, mas agora estamos bem, nós vamos ficar bem, e estamos rodeados de pessoas que querem fazer o que é certo. Não é? Podemos confiar, não podemos?

Olhei para a pessoa parada ao meu lado, seu olhar encontrou o meu vendo ali a confusão que minha mente construía ao tentar responder uma pergunta feita um pouco antes. O que eu responderia para ele? Que não podia confiar nos Gutierrez? Nem eu mesma sei o que devo fazer. Eu conheço a Paula, uma mãe carinhosa que ama os filhos e uma agente impecável, assim como conheço os garotos. Meus olhos desviam para a Bia e o Manuel sentados próximos, o sorrisinho de canto toda vez que eles se olham, e então minha mente me prega uma peça. Fecho os meus olhos por um momento e respiro fundo. 'Ele não é o Víctor', preciso lembrar disso. 'Ele é o Manuel, nunca faria mal para a Bia, você o conhece'. Mas eu também pensei conhecer o Víctor...

Droga.

Thiago: Ana – ele se aproximou preocupado e eu abri os olhos voltando para a realidade – Tudo bem? – olhei para ele por alguns segundos até balançar a cabeça concordando, e ele ergueu uma sobrancelha nada convencido – Eu sei quando você está mentindo, ruivinha – deixei um pequeno sorriso escapar.

Ana: Eu só estava pensando na resposta para a sua pergunta.

Thiago: E...

Ana: E eu acho que temos que entrar logo na sala – tentei colocar um sorriso convincente no rosto, mas eu não queria falar sobre aquilo ali.

O Thiago me olhou por um tempo, talvez entendendo até que ponto tudo chegava. Ele balançou a cabeça concordando e nós entramos na sala. Eu não queria discutir sobre aquilo ali, com qualquer um podendo escutar. Era pessoal demais para ser compartilhado com outras pessoas, era minha mente pregando peças e tornando-se minha fraqueza, se unindo a coleção de várias outras, e só uma pessoa as conhecem bem. Conhece a agente forte que sabe atirar muito bem, e a garota que às vezes sente suas cicatrizes se reabrir e dá dois passos para trás. Só uma pessoa conhece cada ponto, cada fraqueza, e é essa mesma pessoa que disfarçadamente entrelaça seus dedos nos meus enquanto escutamos a Paula explicar sobre a base Beta para a equipe de Buenos Aires, e a equipe de Bahía Blanca.

Eu precisava explicar muitas coisas para o Thiago, mas naquele momento permanecemos ali, porque era o suficiente e mesmo sem informações sólidas ele confiava em mim para guiar por um tempo. Conhecer alguém vai muito além de conhecer fatos que interligam a vida desse alguém, trata-se de conhecer aquelas coisas simples que fazem o dia dessa pessoa mudar, o que a faz sorrir, os sentimentos que carrega no coração, e também é conhecer todas as versões desse alguém. E de alguma forma o agente sério ao meu lado conhece, assim como eu conheço a covinha que se forma em sua bochecha quando sorri, ou o fato do seu coração acelerar tanto quanto o meu quando estamos próximos. E se um dia me perguntarem em que momento eu decidi deixar o Thiago entrar na minha vida ao ponto de conhecer todos os meus lados, eu não vou saber responder.

Alex: E como estão as coisas em relação ao pai? – perguntou após a Paula terminar de explicar sobre as regras de convivência da base.

Paula: Iremos falar sobre isso mais tarde, a Alice explicará como anda tudo – falou um pouco séria, se isso a afetava ela não deixava claro.

Manuel: O Víctor tá envolvido nisso tudo mesmo?

Lucas: O Víctor é idiota o suficiente para fazer isso.

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