Em Pedaços

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Por Ana

Respira...

Conta até três...

Expira...

A sensação de afogamento parecia dominar o meu peito, e eu já estava cansada disso. Cansada de tentar nadar até a borda, ou de ter que lidar com cada um dos sentimentos conflitantes que tinham como objetivo apenas me puxar para baixo. Puxei o ar para os meus pulmões mais uma vez. Eu só precisava focar nisso. Continuar respirando, e tentar impedir que o resto do mundo desmorone sobre mim.

Desci da moto no momento que o portão da garagem se fechava, e de repente aquelas paredes pareciam me trazer a sensação de claustrofobia. Essa é a base dela, esse é o lugar dela... Ou era. Pisar os pés na Base Beta sempre foi sinônimo de ser recebida com um abraço caloroso, com um sorriso carinhoso e a sensação de casa. Então quando o Thiago me perguntou para onde eu queria ir eu não tinha escolha a não ser responder: Casa. Mas a "minha casa" também era o lugar onde uma agência desmoronava, onde uma das agentes mais bem treinadas tinha sido morta, e onde todos me olhavam com uma mistura de olhar entre pena e questionamento sobre o que seria feito.

O Thiago segurou a minha mão e fomos em direção ao elevador, mantive o olhar no chão durante todo o caminho, com receio de encarar algum deles nos olhos. Quando o Thiago foi apertar o andar do elevador eu segurei o seu braço, ele olhou para mim e eu apenas neguei com a cabeça, e ele logo em seguida desviou do botão do andar do apartamento Urquiza e clicou para o andar dos quartos.

Quando as portas se fecharam eu cometi o erro de erguer o olhar, encarando a minha imagem refletida na superfície espelhada. Meu peito apertou ao ver aquele olhar quebrado me encarando de volta, a expressão perdida e os olhos inchados de tanto chorar. Respirei fundo apertando mais a mão do Thiago, me lembrando que ele estava ali. No segundo seguinte ele parou na minha frente, virado para mim e bloqueando o reflexo. Seus olhos me fitavam com atenção, analíticos e preocupados. Ele deu um passo a frente e então os seus lábios deixaram um beijo na minha testa, me fazendo soltar o ar em um suspiro contido.

As portas se abriram e ele me guiou pelo corredor. Quando chegamos em frente a porta do seu quarto eu entrei primeiro, me sentindo aliviada por sair da vista do olhar dos outros. Segui no automático até o banheiro, e abri a torneira da pia vendo a água molhar as minhas mãos e carregar os resquícios de sangue. Engoli o nó na garganta, e impedi que os flashs voltassem a minha mente. Quando ergui os olhos para o espelho encarei as manchas de sangue na minha blusa, dois segundos depois o Thiago parou na porta do banheiro com uma blusa dele em mãos. A aceitei e fechei a porta do banheiro quando ele deu meia volta.

Não fiquei muito tempo no chuveiro, a água ao mesmo tempo que fazia os meus músculos relaxarem trazia a sensação de afogamento. Vesti a camiseta do Thiago e a lingerie que eu estava antes, e tentei secar ao máximo o meu cabelo.

Quando eu sai do banheiro o Thiago estava finalizando uma ligação, e ao me ver chegou mais perto, sua mão indo até a minha bochecha deixando uma carícia enquanto os seus olhos se mantinham atentos. Dei mais um passo a frente envolvendo os meus braços envolta do seu tronco, ao mesmo tempo que ele me abraçava. Enterrei o meu rosto em seu peito sentindo o seu cheiro que me lembrava que ele ainda estava ali. Senti os seus lábios em meus cabelos e os seus dedos massageando as minhas costas.

Thiago: Você devia descansar um pouco – falou enquanto nos desfazíamos do abraço.

Eu não era totalmente contra a um pequeno descanso, principalmente quando o meu corpo parecia ter sido atropelado por um caminhão. Fui até a cama no quarto entrando embaixo do edredom, sentindo o meu corpo afundar no colchão. O Thiago parou do outro lado da cama, e olhou para mim.

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