Deixando a calmaria

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Por Thiago

Era como se tudo tivesse entrado no eixo, como se eu tivesse encontrado a resposta para perguntas que nunca se quer tinham passado pela minha mente. Mas tudo parecia certo. Meu coração já tinha me alertado sobre isso, e minha mente viajava em pensamentos sobre a Ana em qualquer momento de descuido, sempre voltando para relembrar os seus sorrisos e como eles pareciam aquecer meu coração, ou como ela me olhava quando eu dizia algo que com certeza ela não daria ouvidos, mas nada disso se comparava a sensação de ter os seus lábios nos meus.

Meus braços a sua volta, seus olhos refletindo apenas as emoções do momento, nossas respirações levemente ofegantes buscando ar, e ao fundo o som da chuva se intensificando. Se eu pudesse parar o tempo naquele momento eu teria feito isso, teria aproveitado bem esse nosso pequeno momento, nossa pequena calmaria.

Na manhã seguinte, enquanto tomávamos café da manhã, não conseguíamos evitar os sorrisos. Parecíamos duas crianças risonhas, e estarmos sentados um na frente do outro não ajudava nada, pois a cada vez que nossos olhares se encontravam os lábios dela puxavam mais um sorriso enquanto suas bochechas coravam. Meus pais puxavam a conversa, e tentávamos manter a atenção no assunto que era debatido ali, mas nem sempre dava certo.

Seus cabelos estavam soltos, caindo em uma cascata de fios ondulados que emolduravam o seu rosto, os olhos brilhantes, felizes e sem dor. Seu olhar me pegou no flagra mais uma vez, o canto dos seus lábios puxaram um sorriso e ela pegou o copo de suco, mas antes de leva-lo até a boca os seus lábios formara um 'Para de me olhar assim'. Apesar da repreensão, os seus olhos transmitiam o divertimento por trás disso.

Estávamos mais uma vez envolvidos naquela bolha de sentimentos, entre risadas, olhares e corações errando uma batida cada vez que os nossos olhos se encontravam. Até que o celular dela tocou, ela levantou da cadeira dizendo que precisava atender, e o meu olhar a acompanhou até a porta. Posso ter deixado um suspiro escapar, e me arrependi muito por isso ao perceber dois pares de olhos me encarando.

Thiago: O que? – perguntei confuso.

Laura: Uma amiga? – ela olhou pro meu pai – Ele achou mesmo que íamos acreditar nisso?

Thiago: Ei!

Airton: Não culpe o garoto por pelo menos tentar, minha querida – disse soltando uma risada.

Thiago: Pai! – exclamei.

Laura: Tem certas coisas que não se tem como esconder Thiago – olhou para mim enquanto falava com sua voz carinhosa – E a forma como vocês dois se olham deixa claro todos os sentimentos.

Encarei o prato de frutas a minha frente enquanto escutava a suas palavras. Não tinha o que pensar sobre isso, ela estava certo. Eu sentia algo pela Ana, assim como ela sentia algo por mim, pelo menos foi isso o que a outra noite deixou a entender.

Laura: Ela é uma boa garota – comentou.

Airton: Além de te deixar com um sorriso de bobo no rosto – olhei para ele que começou a rir – Você está completamente perdido nessa garota, filho. E você sabe disso.

Thiago: Pior que sei – joguei minhas costas para trás me escorando na cadeira – Mas o que eu posso fazer? Não dá pra fugir disso.

Airton: E você quer fugir? Fugir dessa sensação de estar tão apaixonado por alguém que é capaz de se perder nela e na chuva de sentimentos? – olhei para ele deixando clara qual era a minha resposta – Imaginei que não – levou a xícara de café até a boca depois de deixar um sorriso brincalhão escapar.

Thiago: Você fala como se também passasse por isso.

Airton: Todos os dias – seu olhar se direcionou para a mamãe sentada ao seu lado – E eu não me canso disso – e então eu não era mais o único com cara de bobo ali.

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