Calmaria

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Por Ana

Nunca sabemos de fato quais experiências irão marcar nossas vidas, não sabemos quais irão deixar cicatrizes na alma, ou irão te abalar por completo. Só sabemos que algo ficará marcado para sempre depois que vivenciamos. Esse seria um belo discurso sobre como devemos viver e experimentar coisas belas para que tenhamos uma boa experiência, mas é aí que está o problema, nem tudo o que vivemos é belo. Existem coisas que você desejaria apagar da sua mente, ou voltar no tempo e fazer tudo diferente, assim como têm vezes que carregamos a culpa por aquilo que não é da nossa responsabilidade. Mas sabe o que é mais difícil? Entender que a culpa nem sempre é sua.

Na sala da base discutíamos sobre a grande lista de problemas, enquanto ao fundo alguns jornais noticiavam o incidente na boate. Apesar de dedicados ao assunto ali debatido, dava para perceber o clima um tanto pesado e quando os meus olhos encontravam com os do Thiago dava para ver o sentimento de culpa. Eu conhecia bem aquele olhar, o vi por muitos meses todas às vezes que me olhava no espelho.

Pixie: Eu posso tentar passar a imagem pelo banco de dados da polícia.

Ela falava sobre a imagem que conseguiu do Sr. D. usando a câmera da esquina. Depois que o Thiago e eu falamos sobre o que tínhamos escutado naquela sala, todos concordaram que no momento precisávamos descobrir quem ele é, e esse seria o ponto de partida da lista.

Pixie: Estranho – ela falou olhando o computador a sua frente – Para alguém que tem contato com a Morales e o Prince me surpreende o perfil dele não estar registrado na polícia.

Ana: Tem como passar a análise facial pelo sistema da Scorpions? – perguntei me aproximando e parando ao seu lado, tendo uma visão da tela também.

Pixie: Tem sim – ela digitou algumas coisas e menos de meio minuto depois a notificação chegou – Nada – levantou o olhar até mim.

Sem registros? Até nós tínhamos registro biométrico no sistema da Scorpions. Olhei para trás, para o Thiago escorado na mesa de equipamentos com os braços cruzados e o rosto cansado. Na verdade todos estavam cansados, lá fora o sol já anunciava a manhã de sábado e as pessoas tomavam conta da rua aos poucos.

Daisy: Tem algum outro jeito de descobrir quem ele é? – falou sentada em uma das poltronas.

Pixie: Eu posso colocar para rodar o sistema de rastreamento facial, se ele aparecer em alguma parte da cidade nós podemos saber.

Thiago: É o mesmo sistema que usou para rastrear o Guillermo? – ela concordou.

Luan: E se for um registro incompleto? – ele olhou para a Pixie – E se não estamos encontrando nada sobre ele porque o registro fácil dele não existe?

Daisy: Como assim?

Pixie: Ele está falando sobre um registro incompleto, tipo, seu nome e data de nascimento estão disponíveis em um sistema...

Luan: Mas esse sistema não tem nenhuma foto sua – ele completou a Pixie, que logo fez a mesma coisa em seguida.

Pixie: Então, a partir do momento que eu tento encontrar o seu nome e a sua data de nascimento utilizando uma foto sua, o sistema diz ser inexistente.

Daisy: Então o Sr. D. está lá? Só precisamos descobrir como pescar o registro dele?

Luan: É mais ou menos isso.

Pixie: Mas pescaria é mais fácil – ela deu de ombros.

Caminhei até próximo à mesa de equipamentos e parei ao lado do Thiago. Ele me direcionou um pequeno sorriso forçado em meio a sua expressão que indicava outra coisa, uma sensação estranha me fez perceber que eu não gostava de vê-lo assim. Não gostava de ver nenhum deles assim.

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