Verde, Azul e o Fim

Capítulo 1

— Não, Krystian, eu não vou desmarcar de novo. — Noah revira os olhos mesmo que o garoto do outro lado da linha não possa ver, apoiando o telefone celular entre a orelha e o ombro, tentando abrir a porta mesmo com as mãos cheias de sacolas do supermercado. — Se você não parar me falar nisso eu não vou mesmo nessa festa! Seu aniversário foi no mês passado, e a festa vai ser daqui a duas semanas? Estranho, não acha? — Krystian estava o enchendo de novidades o mês inteiro sobre a festa dele de vinte e três anos, que, em suas palavras, seria 'A festa mais incrível de todas'. Ele luta mais um pouco com a fechadura da porta, fazendo uma nota mental de trocar aquela fechadura dos infernos que há meses vem lhe causando problemas, e sorri vitorioso quando consegue abrir a porta.

— Demorou um mês para planejar tudo! Me prometa que não vai faltar!

— Tudo bem, Krys, prometo que não vou faltar. Não se esqueça que tem a festa do Ryan essa semana. Até mais. — Ele desliga o celular e o coloca no bolso com um pouco de esforço. Noah sorri para si mesmo, a vida estava sendo boa nesses dois anos. Ele saía, se divertia, fazia novos amigos, paquerava um pouco, fazia música, conseguiu um emprego legal, alugou um bom apartamento. Ele estava feliz. É, a vida estava sendo boa.

Quando finalmente conseguiu entrar no apartamento, ele fechou a porta atrás de si e tateou a parede a procura do interruptor para que a luz fosse ligada. Assim que seus dedos encontraram o objeto e a luz foi acesa, ele sentiu seu coração parando de bater por um milésimo de segundo. Sentado em sua poltrona favorita, com um copo de uísque com gelo e limão na mesinha do lado e com o corpo inclinado para frente e os olhos totalmente voltados para o moreno, lá estava ele. Um turbilhão de sentimentos passou pelos dois. Josh encarava Noah sem reação, ele não esperava que ele parecesse tão bem. Depois de dois anos guardando um leve ressentimento, ele não esperava que seu coração ainda batesse desesperado dentro do peito. Em sua concepção, Noah estava mais vivo do que nunca e Josh não podia se sentir mais magoado. Porque ele passou os últimos dois anos tentando o esquecer enquanto Noah estava vivendo, aproveitando cada segundo. Ele não queria ter deixado o moreno ir embora, mas é isso que você faz quando se ama alguém. Você a deixa ir se isso for o melhor a se fazer por ela. Não importa se você vai estar feliz ou não com isso, tudo que importa é que a pessoa que você ama esteja feliz, mesmo que longe de você.

— Josh? — Urrea deixou as sacolas caírem no chão, surpreso. Josh olhou fundo nos seus olhos e suspirou, se recostando na poltrona e alcançando o copo de uísque na mesinha com uma das mãos. — O que está fazendo aqui?

— Você está em perigo. — Noah o encara confuso. Então era aquilo? Era aquilo que ele tinha a dizer depois de dois anos? Aquela desculpa esfarrapada? Ele se sentiu irritado.

— O que está fazendo aqui? — Noah repete a pergunta, ainda surpreso, querendo saber por que, depois de dois anos sem nenhum contato, Josh estava ali sentado em sua poltrona favorita o encarando enquanto bebericava seu uísque. Noah se perguntava onde ele tinha achado aquela bebida. Ele não costuma comprar bebida alcoólica e deixar em casa.

— Você está em perigo. — Josh repete sem muita paciência, dando um grande gole na bebida. Noah revirou os olhos, Josh sabia ser tão vago às vezes.

— Você já disse isso. Agora responda, que diabos você está fazendo aqui?

— Temos que ir, não temos muito tempo. — Ele se levantou, ficando frente a frente com o outro, Josh gostava da diferença de altura entre eles, a testa de Noah batia praticamente em seu nariz e ele conseguia sentir o cheiro de lavanda que vinha dos fios castanhos.

— Ei, ei, ei! Calma aí! Você invade a minha casa e nem se quer me diz o que está acontecendo? — Josh revirou os olhos, impaciente. Ele segurou os ombros de Noah e o fitou sério.