Oito

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Karol S.

Tia Malu parecia concentrada em frente ao computador antigo que ficava na recepção da pousada.
Como a internet não ajudava em nada, o computador servia mais pra organizar em planilhas os horários de entrada e saída dos hospedes, além dos pagamentos que eram feitos.

Eu já havia arrumado alguns quartos e ajudado na cozinha e aproveitei para me sentar na poltrona desconfortável do hall da entrada, esticando as pernas e choramingando baixinho por causa das minhas mãos que estavam ridículas.

Nunca na minha vida tive unhas tão feias, ressecadas e quebradiças! Não fazia nem uma semana que eu estava ali, mas eu já tinha perdido toda a minha dignidade.
Precisava urgentemente ir num salão de beleza...

Pensar nisso era o que distraia a minha mente, porque cultivava alguma esperança para quando eu saísse daquela ilha.

─ Então não tem nenhum salão de beleza aqui?! – Guinchei para tia Malu.

Eu havia perguntado sobre isso e ela respondeu com um aceno de cabeça, então repeti a pergunta.

─ Querida, não é um salão como os da capital, mas há uma moça que fez curso de cabeleireira e faz verdadeiros milagres nos cabelos das mulheres da ilha. Ela tem mãos de fada!

Esbocei uma careta de descontentamento.

─ Um curso barato que, provavelmente, só ensinou o básico? Não. Dispenso. Não vou entregar meus cabelos e as minhas unhas nas mãos de uma desconhecida que fez um cursinho meia boca.

Tia Malu esticou o pescoço por cima da tela do computador e torceu o nariz pra mim.

─ Precisa parar de julgar as pessoas assim, Karol. Não vou admitir esse comportamento aqui, fique sabendo.

Dei de ombros com desdém e virei o rosto pro outro lado.

─ Não estou julgando, estou falando a verdade. – Resmunguei.

─ Resmungar não vai resolver nada... – Cantarolou com ironia.

Cruzei os braços.

─ Não estou resmun... Ah, quer saber? Eu só estou sem paciência. Não tem absolutamente nada de bom pra fazer nesse lugar, tia!

─ Porque não vai nadar um pouco? O dia está lindo, não tem quase nada pra fazer na pousada, os hospedes só retornam mais tarde dos passeios... Além do mais, acho que o Ruggero deve estar pela praia uma hora dessas, talvez ele possa te mostrar um pouco mais da ilha. Vai ser legal pra você caminhar um bocadinho.

Fui obrigada a olhá-la com a cara mais indignada que pude esboçar.

Às vezes eu achava que ela vivia numa realidade paralela ou, simplesmente, não se ouvia.

─ Andar por ai com aquele peixeiro implicante e malcriado? – Guinchei. ─ Tia, pelo amor de Deus, vamos ter senso, né!

─ Implicante e malcriado, mas te salvou, né? – Ela devolveu no mesmo tom, quase me imitando. ─ Se não fosse por ele...

─ E a senhora quer que eu passe o resto da vida agradecendo e bajulando? Não vou! Ele já se acha demais.

Tia Malu empurrou sua cadeira de rodinhas pro lado e me olhou por trás das lentes redondas de seus óculos.

─ Ele é um bom homem.

Revirei os olhos.

Eu já estava cansada de ficarem descrevendo aquele cara como um anjo de candura.

─ E daí? Isso não muda o fato dele me tratar como se eu fosse uma idiota.

Tia Malu riu.

─ Tenho certeza que ele não faz isso. Talvez ele só esteja se defendendo dos seus ataques. – Piscou o olho pra mim. ─ Eu amo você, mas sei que você, minha querida, pode ser bem malvada com as palavras quando quer.

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