Karol S.
Havia ar se embolando dentro dos meus pulmões e um calor excruciante que ameaçava consumir meus órgãos, como duas brasas acesas; meus pulmões empurravam para fora bolhas d'água que se desfaziam em ondas ao chegarem à minha garganta.
Eu queria tossir e falar, mas não conseguia fazer nem uma coisa e nem outra.
Estava cansada demais pra reagir.
Uma pressão forte no meu peito e depois mais ar era jorrado dentro da minha boca; depois outra pressão no peito, mais ar, mais pressão...
Eu estava ficando zonza, mais fraca ainda.Eu queria saber da Celeste. Queria saber se ela estava bem, se conseguia respirar... A agonia dela era um espelho da minha.
Quando a vi agitando os bracinhos dentro do mar, eu sabia que precisava ajudá-la. Que nada mais importava. Nada.Eu só sentia que precisava tirá-la dali, de qualquer forma.
Mas agora... Agora eu não tinha forças pra perguntar, pra saber...
Outra vez alguém pressionou meu peito, fazendo contagens espaçadas, repetindo os números em cadência.
E, novamente, lábios encontraram os meus, soprando ar.Pensei que ia vomitar quando isso aconteceu pela última vez, mas era apenas meu pulmão empurrando a água pra fora, transformando as bolhas em riscos de fogo que queimavam tudo por onde passavam, ameaçando subir pelo meu nariz, meus ouvidos e meus olhos.
Meu corpo colapsou por um instante, então fui virada de lado e a água jorrou pra fora.Uma tosse colérica abalava cada centímetro de mim.
─ Se afastem, pessoal. Por favor, ela precisa de espaço pra respirar melhor... Se afastem! ─ Alguém repetia com propriedade de fala, convicto. ─ Ela está reagindo. Está reagindo. Por favor, dêem espaço.
Mãos espalmadas nas minhas costas me mantinham de lado, permitindo que mais e mais água fosse expulsa de dentro de mim, aliviando meus pulmões que pareciam boiar.
─ Eu vou levá-la lá pra dentro da pousada. ─ Disseram.
Aquela voz...
Aquela voz eu conhecia.
Tentei erguer os olhos para contemplar o dono da voz, mas meu pescoço estava pesado assim como a minha cabeça; havia dor por todo o lado.
─ Tem certeza? – Perguntou a voz que tinha falado antes. ─ A ambulância deve estar chegando e...
─ Eu cuido dela. ─ O dono da voz familiar garantiu e em seguida as mãos mais cuidadosas do mundo envolvem meu corpo, içando-me da areia, levando meu rosto pra perto de um peito acelerado e que tinha cheiro de maresia. ─ Está tudo bem. ─ Ele disse pra mim. ─ Vou te levar pra casa.
Engraçado... Eu já me sentia em casa.
**
Cassiel dos Anjos
Malu estava perambulando pra lá e pra cá dentro do quarto, ameaçando abrir um buraco no chão com os próprios pés.
O coração dela batia na garganta, super acelerado.Se eu não estivesse tão exausto, talvez tentasse acalmá-la, entretanto o máximo que pude fazer foi sentar ao pé da cama da Karol e observá-la melhorando, retomando o eixo da mente, entendendo o que tinha acontecido e ato heróico que cometeu.
Assim como Malu, Ruggero também estava agitado, roendo a unha do dedo mindinho, encarando Otávio que havia sido chamado e estava aferindo a pressão da Karol.
Apesar da cara tranquila do médico, meus companheiros ainda estavam nervosos demais.
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AMAR
FanfictionCassiel é um anjo um tanto... Diferente. De uma hora para outra sua missão se torna unir um casal, aparentemente, improvável. Ele precisa fazer com que o jovem viúvo Ruggero Pasquarelli, redescubra o amor enquanto equilibra suas obrigações do dia a...