Trinta e Um

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Karol S.

Eu não fazia idéia de quanto tempo já tinha se passado desde o acidente quando foram me buscar na UTI e me levar para o quarto. Não me dei ao trabalho de perguntar, porque sinceramente não importava tanto assim; eu só queria ver as pessoas que amo.

De tanto querer talvez eu tenha atraído, porque quando cheguei ao quarto, tia Malu e meus pais estavam lá, esperando-me.

Uma sensação muito forte me tomou e comecei a chorar, mesmo sem estar sentindo dor alguma.
Talvez eu estivesse dopada demais para sentir qualquer coisa física, entretanto, meu lado emocional permanecia sensível, capaz de me fazer soluçar só de ver a minha família ali.

Quando mamãe me abraçou, tomando todo o cuidado do mundo para não me machucar, pensei que iria desmaiar, mas ao mesmo tempo comecei a rir, absorvendo o perfume delicioso que cobria sua pele macia e bem cuidada; ela beijou minha testa e se afastou, secando minhas lágrimas com os polegares.

─ A mamãe está aqui agora, ? Fica tranquila.

Assenti, ainda chorando.

Eu não estava me debulhando em lágrimas por estar triste, confusa ou com dores. Eu estava assim por me sentir imensamente feliz, acolhida, amada.

─ Que bom que vieram. ─ Sussurrei com a voz entalada.

Papai também se aproximou da cama, pegando minha mão na sua e beijando-a em seguida.

─ Assim que Malu nos avisou, nós viemos. ─ Ele comprimiu os lábios, receoso. ─ Não entendemos como isso tudo pôde acontecer. Aquele rapaz era maluco? Filha, se nós soubéssemos...

─ Não tinha como saber, papai. ─ Intercedi. ─ Agustín tomou algumas atitudes estranhas, mas ninguém achou que ele chegaria a tanto, principalmente com a polícia em seu encalço. Não se preocupe, foi uma fatalidade.

Eu já sabia que ele tinha morrido. Assim que acordei na UTI indaguei a Otávio sobre Agus. A imagem daquele caco de vidro enfiado em seu pescoço ainda me assombrava, mas não cheguei a cogitar que ele já estava morto naquele momento.

Sim, eu queria que ele pagasse pelo que fez, mas ainda era atordoante pensar em como tudo se sucedeu.

─ Ainda assim... ─ Meu pai retomou, inconformado. ─ Devíamos... Digo, se soubéssemos, se tivéssemos idéia do que estava acontecendo, teríamos resolvido isso com esse rapaz. Foi mais um erro nosso, porque nunca procuramos saber quem estava próximo a você, com quem estava convivendo...

─ Com as melhores pessoas, posso afirmar. ─ Tia Malu intercedeu, piscando o olho pra mim. Ela estava ao pé da cama, com olheiras profundas, mas com um sorriso gentil nos lábios. Sempre amável. ─ Agustín foi uma surpresa para todos aqui na ilha. Ninguém nunca viu uma pessoa tão má intencionada. Posso lhe garantir que Karol esteve sempre rodeada de amor.

Concordei prontamente.

─ Papai... ─ Apertei sua mão que estava segurando a minha. ─ Tia Malu tem toda a razão. Aqui na ilha só há boas pessoas. O Agustín era alguém perturbado, perverso, mas não tem nada a ver com o pessoal daqui.

Mesmo contrariado ele assentiu, trocando um olhar rápido com mamãe.

─ Filha ─ Minha mãe chamou, fazendo-me virar o rosto para o seu lado. Ela se sentou na beirada da cama e acariciou meu rosto. ─, durante toda a viagem estivemos conversando sobre a sua situação. Entendemos que naquele momento foi o melhor te mandarmos para cá, mas agora não há mais necessidade disso.

Pisquei os olhos uniformemente, sem compreender.

─ O que estão querendo dizer?

─ Javier... ─ Tia Malu disse. ─, talvez esteja na hora de contar a verdade para a Karol. Ela merece saber o que aconteceu de fato.

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