Vinte e Oito

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Ruggero P.

─ Eu quero ver a minha filha! ─ Exigi assim que entrei no hospital e dei de cara com Otávio. ─ Quero vê-la agora!

Meus olhos não eram capazes de sequer enxergar direito. Eu estava cego de desespero, tremia de dentro pra fora, como se meus órgãos estivessem boiando em algum líquido ácido.
E só conseguia pensar no que tinha acontecido com a minha filha, porque ninguém me falava com clareza.

Eu não ia muito longe com o barco quando começaram a gritar, se aproximaram com outro barco e acenaram, dizendo-me que Celeste tinha sofrido um acidente.
Mas eu não entendia nada. A minha filha estava com a Karol...

E a Karol sequer estava no hospital.

Eu... Eu não compreendia.

─ Ruggero, por favor, fica calmo.

─ Ficar calmo? – Retruquei exasperado. ─ Como assim ficar calmo? É a minha filha! Cadê ela? O que aconteceu? Cadê, Otávio?!

─ Ruggero, você tem que me escutar! Calma, porra! Calma! ─ Ele começou a me empurrar na direção da parede, repetindo que eu tinha que me acalmar, mas eu não entendia. Como eu ia me acalmar se a minha filha estava machucada... ─ Ruggero, olha na minha cara. Ruggero!

─ Cadê a Celeste? – Rosnei por entre os dentes.

Otávio segurou meus ombros, prendendo-me contra a parede.

─ Olha pra mim, presta atenção! A Celeste está bem, ok? Ela está bem. Foi só um susto. Uma mulher que estava dirigindo começou a ter um principio de infarto e perdeu o controle do carro, a Cel estava na beira da estrada com os amigos e quase foi atingida, mas o carro não pegou nela, ouviu? Ela está bem!

─ Não aconteceu nada? ─ Minha voz era um mero fiapo. Minhas mãos amassavam o jaleco branco dele. ─ Diz, Otávio! Não aconteceu nada mesmo? A Celeste está viva? Está bem mesmo?

─ Ela está com alguns arranhões nas pernas, porque acabou caindo, mas fora isso está ótima. Apenas bastante assustada.

Assenti, assimilando.

O ar começava a circular de novo pelos meus pulmões.

─ Ok. E-eu... Eu quero vê-la. Quero ver a minha filha. Quero ter certeza que isso é verdade. A Karol está com ela?

Otávio soltou meus braços e deu uns passos para trás, arrumando o estetoscópio pendurado no pescoço; seu olhar pairou em volta.

Franzi o cenho.

Não entrava na minha cabeça que Karol tivesse deixado Celeste ir sozinha. Claro que não.

─ Por Deus! ─ A voz do meu pai roubou minha atenção. Ele vinha com dona Malu. ─ Como está a minha neta? Cadê ela?

─ A Cel está bem, fiquem tranquilos. – Otávio adiantou.

─ Bendito seja Deus! – Malu fez o sinal da cruz e secou os olhos úmidos. ─ Mas, afinal, o que aconteceu? A minha sobrinha está com ela?

─ É o que eu quero saber... – Falei, confuso. ─ Cadê a minha mulher? Ela está com a Celeste, certo? Eu sei que a Karol não deixaria a nossa filha sozinha.

─ Ruggero, presta atenção...

─ Fala logo, Otávio! O que aconteceu? É alguma coisa com a Celeste? O que você está escondendo?! Fala, cacete!

─ Meu filho, calma... ─ Meu pai me puxou, afastando-me de Otávio. Eu sequer tinha me dado conta que estava indo em sua direção. ─ Tenho certeza que o Otávio vai explicar tudo. Acalme-se!

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