Vinte e Sete

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Karol S.

Tia Malu estava tecendo largos elogios sobre a deliciosa lasanha que comemos na casa de Ruggero na noite anterior e frisou que, se soubesse antes, teria contratado Bruno como cozinheiro da pousada e não como ajudante geral.

Eu não ousei discordar, afinal ela tinha toda a razão.

A noite havia sido incrível. Talvez o fato de ter feito as pazes com os meus pais tivesse me deixado mais leve, tranquila e de peito aberto para aceitar as felicidades que a vida me traria, sem sair taxando tudo de ataque.
Ainda era complicado mudar alguns pensamentos, mas quando eu estava com eles – minha tia, Celeste, Rugge e Bruno – era mais fácil ser feliz e não pensar muito.

Acordei no dia seguinte com a animação no auge, até cumprimentei os novos hospedes que viviam fazendo barulho; admito que me imaginei enfiando aquele violão que usavam goela abaixo de um deles, mas repensei e decidi me acalmar.

Entendi que era melhor não arrumar confusão.

─ Eu acho que o Bruno e você, titia, são os melhores cozinheiros do mundo! – Falei, mexendo no celular, aproveitando que a internet estava melhor que os outros dias. ─ Seria o casal perfeito.

─ Não seja implicante! Casal! Ora essa.

Levantei os olhos, fitando-a.

Titia estava corada e parecia estar disfarçando, porque ficava dobrando o mesmo pano de prato diversas vezes.

─ Eu menti, dona Maria Luiza?

Ela torceu o nariz.

─ Malu. Gosto apenas que me chame de Malu, você sabe.

─ E se o Bruno te chamar de Maria Luiza? – Provoquei. – Você vai ficar toda corada que nem está agora? Eu acharia super fofo.

Titia parou de dobrar o pano e o atirou em mim.

Eu ri.

─ Menina chata! – Resmungou. Ela pegou uma panela e levou até o fogão. ─ Eu pensei que você tinha decidido ser mais boazinha.

─ Boazinha sim, cega não. Titia, está na cara que vocês formariam o casal mais fofo da ilha! São tão amigos, confidentes, companheiros de anos... Nunca pensou sobre?

Ela me lançou uma olhadela e começou a limpar as mãos no vestido, depois deu as costas, retornando para a pia.

─ Só consigo pensar que você ainda não foi levar o lixo lá para fora.

Bloqueei a tela do celular e levantei, rindo.

─ Não precisa ficar nervosa, bobinha! Eu acho que ele sente o mesmo. Já vi o jeito que ele te olha, parece um garotinho apaixonado.

Ruggero e eu já tínhamos comentado isso outro dia, mas decidimos não nos meter. Porém, não fazia parte de mim manter a língua dentro da boca quando via uma boa oportunidade de falar, afinal, não estava mentindo e nem fazendo mal a ninguém.

─ Ele olha? – Tia Malu perguntou baixinho.

Estiquei a mão e desliguei a torneira que ela tinha ligado, chamando mais a sua atenção.

─ Vai dizer que nunca percebeu? Titia! Por favor, né? A senhora é toda bonitona, ele também... Qual é, aproveitem a vida!

Eu não conhecia uma pessoa que merecesse mais a felicidade plena do que ela. Titia sempre se colocou em segundo plano para ajudar as pessoas, entregou sua vida para servir, acolher, amar...
Estava na hora de receber isso em troca, seja de mim, da Celeste ou de um amor. Um companheiro que pudesse fazê-la a mulher mais amada do mundo.

AMAROnde histórias criam vida. Descubra agora