Dezoito

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Ruggero P.

Dei uns passos para trás agitando a mão. O meu sangue fervia dentro das veias, e a raiva vinha do lugar mais obscuro do meu ser. Um ódio inimaginável brotava por brechas que a minha sanidade abria, dando espaço para o ciúme criar braços e pernas; deixando-me disposto a tudo.

Vê-lo deitado no chão com a boca sangrando me deu uma satisfação colérica. Não era boa. Era azeda, tão azeda que me fazia mal por dentro, entretanto, se eu só podia recorrer à violência, não pensei duas vezes.
Eu bateria de novo se fosse necessário.

Ele não se importou com os pedidos dela, assim como eu não me importaria de deixá-lo sem os dentes.

─ Você está maluco, seu idiota? ─ Ele disparou envenenado, puto.

Umedeci os lábios e senti o sal do mar deitado sobre eles.

Evitei olhar para Karol que estava bem ali, sem reação. Se eu a olhasse, provavelmente perderia a coragem e me sentiria péssimo.
Era a segunda vez que ela me via daquela forma, sendo que eu odiava agir assim.

Mas o que eu poderia fazer? Pela primeira vez na vida o ciúme era mais forte do que o meu bom senso.

─ Vai, levanta! – Desafiei. ─ Você não é homem pra ficar atacando mulher? Então levanta daí, vai!

Sem esperar outra palavra minha, e talvez tão fora dos eixos quanto eu, Agustín se jogou em cima de mim, tal qual um lutador profissional, atirando meu corpo na areia, fazendo com que a minha cabeça batesse contra alguma pedra enterrada ali, entretanto, a dor que me desorientou por alguns segundos não foi mais potente que o soco que ele acertou na minha mandíbula.

A minha raiva tomou uma proporção gigantesca, cegando-me.

De repente a dor atrás da minha cabeça não era nada. A fúria era maior. A aversão que eu sentia daquele homem ia além do que eu podia explicar, porque ele era covarde, ardiloso, aproveitador.

Usei todo o meu peso para virar o jogo, derrubando-o no chão, livrando-me de seus socos, deixando de lado o sangue que escorria do meu nariz; eu só conseguia pensar em como eu poderia matá-lo.
Matá-lo com as minhas próprias mãos.

Tudo o que eu queria era que ele nunca mais chegasse perto da minha filha, que parasse de me dirigir olhares cínicos sempre que me encontrasse, que não me cumprimentasse com ironia, mostrando como me achava inferior; e que ficasse bem longe da mulher que eu estava apaixonado.

Cinco dias engolindo um ranço que eu só conseguia concentrar em murros.

Eu me aproveitei de sua desorientação momentânea e desferi um soco atrás do outro, com cada vez mais força, sentindo tanto prazer quanto amargor.
Mas esse amargor não me deteve.
Esmurrei a cara dele com os dois punhos fechados, imprimindo toda a força que trabalhar no mar me trazia.

Eu só conseguia enxergar ondas e ondas de ira.

O suor descia pelo meu rosto e misturava-se ao sangue que escorria do meu nariz e da minha boca, pelos socos que ele tinha me dado antes.
Mas dor eu não sentia. Eu só sentia o ódio se misturando ao vazio.

Eu não consigo parar, tampouco quero.

Ele ergueu os braços na frente do rosto e se movia debilmente, tentando se livrar das minhas investidas.
Mas para o azar dele, eu não fui criado como uma dondoca.

Não sou um homem fino, educado e prendado. Na maioria das vezes ajo por instinto.

E os meus instintos, por mais primitivos e errados que fossem, gritavam para matá-lo.

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