Nove

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Karol S.

Eu tinha que falar alguma coisa. Eu tinha que expressar uma boa desculpa para estar ali, tinha que explicar o que aconteceu, tinha que...
E-eu... Eu nem conseguia... Quer dizer, eu precisava...

─ O que está fazendo aqui? ─ Ruggero indagou com uma boa dose de susto misturado a raiva.

Era uma excelente pergunta, mas meu cérebro demorou um pouco para processá-la, devo dizer.

Eu estava numa posição não muito favorável, com uma visão exageradamente clara bem diante dos meus olhos escandalizados.
Digo, não que eu já não tivesse visto um homem seminu (ou nu), mas o tal peixeiro tinha mais músculos e gomos do que eu, bom, do que eu estava acostumada.

Pensei se ele fazia algo além de ficar velejando no mar, tipo, academia. Mas claramente não tinha academia ali.

Os músculos eram fruto de trabalho pesado, conclui.

A toalha dançava em sua cintura em formato de V... Parecia que ia cair a qualquer momento...

Meu rosto começou a esquentar, assim como o resto do corpo.

─ A Celeste... – Falei aos trancos, tentando recuperar a voz.

─ Aconteceu alguma coisa com a minha filha? Cadê ela?

─ Bem. – Abanei a cabeça, sentando. ─ Ela está bem. E-eu... – Limpei a garganta. – Eu estava com ela. E agora ela está com o Bruno.

Ruggero recuou um passo, aparentemente mais calmo.

Ele me lançou uma olhadela estranha.

─ Então porque você invadiu a minha casa?

Franzi a testa, captando uma dose de ironia em sua voz.

Hello! Não invadi porcaria nenhuma! – Tentei levantar, mas minha sandália escorregou no piso da entrada. ─ Droga!

─ Espera, você vai se machucar. Me dá a mão, eu te ajudo. ─ Ergui a cabeça e fitei a mão dele que estava estendida na minha direção enquanto a outra segurava a toalha. ─ Pode segurar na minha mão, está limpa. – Riu com zombaria.

Rangi os dentes, me irritando com aquele tom escancarado de quem está achando graça na situação.

─ Pelo menos você toma banho, né. – Resmunguei, aceitando a mão dele para me apoiar.

Talvez eu tenha escutado uma risadinha dele e talvez tenha sido isso que me fez encará-lo nos olhos enquanto conseguia ficar de pé e, talvez, só talvez, tenha sido essa troca de olhares tão intensa que o fez se esquecer do chão molhado logo atrás de si e, num mísero descuido, Ruggero perdeu o equilíbrio e caiu com as costas no chão, me levando junto.

Eu apoiei as palmas das mãos em seu peito e ele estava com as duas mãos em volta do meu corpo, me prendendo.

Nossos rostos, tão próximos, impediam que qualquer um ousasse respirar.

Se eu me curvasse só um pouquinho... Um pouquinho só... Eu sentiria seus lábios contra os meus e, por algum acaso, talvez o meu cérebro parasse de tentar cogitar como era o sabor deles, se eram tão macios quanto pareciam...

O cheiro de sabonete invadiu minhas vias respiratórias e fui obrigada a respirar.

Ruggero passou a língua pelos lábios, mas não se moveu.

O insolente do meu coração batia tão forte que imaginei que fosse sair pela boca.

─ Se machucou? – Ruggero perguntou quase sem voz.

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