Treze

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Karol S.

Dias depois...

Tia Malu era muito espertinha. Ela sempre ficava com os trabalhos mais fáceis enquanto me fazia arrastar um saco de lixo pesado até a lixeira enorme que ficava ao lado do muro da pousada. E, para completar, eu estava morrendo de sono!

Já se passaram dias e eu ainda não me acostumei com essa mania de acordar com as galinhas, os peixes, tubarões ou qualquer outro animal que goste de madrugar.
Tanto faz.

Exausta! Estou exausta!

E não param de chegar hospedes por causa da tal Festa do Eclipse. Até parece que esse povo todo não podia ver esse fenômeno em qualquer outro lugar.
Tinha que ser bem ali, só pra deixar a ilha abarrotada de curiosos que passavam o dia inteiro tagarelando no hall da pousada ou pedindo coisas só para que eu fosse obrigada a ficar batendo de perna o dia todo.

A única coisa boa disso tudo era a Celeste. Já me dava até um alivio pensar nela, porque só essa menina pra alegrar meus dias e me fazer sorrir um bocado, mesmo que fosse nos rápidos momentos que tínhamos juntas, já que o pai dela cismou de mantê-la em casa, como se de repente algo – que eu não fazia idéia – tivesse acontecido.
Eu pensava e pensava, mas nada me fazia compreender essa mudança brusca de comportamento.

O homem me evitava como se eu fosse o próprio diabo, e para piorar, ainda afastava a Celeste, sendo que ele mesmo me disse que podia "dividi-la" comigo.

Cheguei a perguntar ao Bruno o que tinha acontecido, se eu tinha feito algo ou dito, mas o senhor apenas abanou a cabeça, esboçou um sorriso que eu não soube decifrar e me pediu paciência, afirmando que o filho só precisava de tempo, que estava com a cabeça confusa por algumas coisas, mas que não era pra me preocupar.

Depois ele ficou o dia inteiro me olhando de esguelha, rindo.

Eu sinceramente não entendo essas pessoas. Não sei se o sol fritou os miolos delas, mas sei que pode muito bem fritar os meus, porque nem passou das oito da manhã e eu já estou pingando de suor, sufocada dentro da minha blusa de alças finas e do short jeans – que antes era uma calça, mas eu cortei.

Cheguei à lata de lixo e deixei a sacola no chão, peguei na tampa daquela coisa imunda e icei pra cima, tentando não tocar mais do que a ponta dos dedos, depois me afastei, querendo vomitar com aquele fedor terrível.
Que droga!

Olhei em volta, mas só dava pra ver alguns carros passando na estrada e alguns barcos no mar.
Me peguei pensando se um daqueles estava sendo velejado por Ruggero... Digo, não é por nada, lógico, é só curiosidade. Às vezes eu penso em confrontá-lo, entender o que houve para tê-lo feito mudar tão bruscamente, só isso.

Eu pensei que tínhamos nos entendido naquele dia em que nos abraçamos na praia, mas claramente foi burrice minha.
Ele só sentiu pena e ajudou, como faria com qualquer outra pessoa.
Não havia motivos para que eu ficasse pensando nessa coisa toda como se fosse algo extraordinário.

Abanei a cabeça.

Não interessa. Ele é um peixeiro idiota!

Era melhor fazer logo o que tinha que fazer, porque eu ainda tinha que cumprir a promessa que fiz a Agus de posar pra ele.
Eu nunca pensei nessa coisa de ser modelo, na verdade nunca pensei muito sobre futuro, mas ele insistia que eu tinha o rosto mais bonito e simétrico que ele já viu e que seria "um pecado" partir da ilha sem registrá-lo.

Confesso que me aproximar dele foi até fácil, porque ele já tinha viajado muito – assim como eu – e tínhamos muitas coisas em comuns que iam desde filmes até restaurantes preferidos; Agus era um homem determinado, fluente em muitos idiomas, de boa família e, melhor ainda, entendia como eu me sentia por estar num lugar como aquele. A nossa única diferença era que ele era livre, coisa que eu nunca fui.

AMAROnde histórias criam vida. Descubra agora