Karol S.
Tia Malu armou um escarcéu quando chegou e soube de tudo que tinha acontecido. Cheguei a pensar que ela iria desmaiar.
Ainda era difícil conceber a idéia de que alguém podia ficar tão nervosa por algo que aconteceu comigo.
Mais do que nunca me dei conta que ela me amava como meus pais nunca puderam – ou conseguiram. Tia Malu, de fato, faria qualquer coisa por mim e senti isso quando ela me envolveu num abraço apertado e chorou, repetindo que se sentia muito culpada por não estar lá comigo.Eu repeti mil vezes que ela não tinha culpa alguma e que mesmo que estivesse lá, não teria mudado os fatos, porque foi uma fatalidade horrível que ninguém poderia prever ou "desviar".
E apesar de minhas palavras, ela ainda parecia agoniada demais.─ Ele te machucou muito? ─ Suas mãos macias tocaram meu pescoço, onde deveria haver algumas manchas. ─ Que maldito! Aquele diabo!
Troquei um olhar nervoso com Agus que também tentava acalmá-la, e vi a mesma preocupação estampada em seu olhar, como se a entendesse perfeitamente, mas mesmo assim tentasse manter-se neutro, para ajudar.
─ Dona Malu... ─ Ele disse, de cócoras na frente dela, com as mãos espalmadas em seus joelhos. ─ A senhora precisa se acalmar um pouco. Eu trouxe um copo de água.
─ Eu não quero água, rapaz! ─ Guinchou chorosa. ─ Eu quero... Eu quero consertar isso! Ela é só uma menininha!
─ Titia, pelo amor de Deus! ─ Segurei seu rosto nas mãos. ─ Está tudo bem, eu juro. Vai ficar tudo bem. Eu só quero esquecer.
─ Mas...
─ Escuta só... ─ Tentei sorrir e rezei para ser convincente. ─ Eu já tomei um banho, estou tentando pensar em outras coisas... Agora eu só preciso que a senhora continue sendo a alegria dessa pousada, que me distraia com suas histórias, que... Não sei, que faça um bolo gostoso, qualquer coisa. Apenas... Apenas seja a tia Malu de sempre.
Uma lágrima escorreu por seu rosto e ela enxugou depressa, assentindo.
─ Me deu uma dor tão grande quando eu fiquei sabendo, por isso entrei igual uma louca aqui no seu quarto... ─ Tocou meu rosto. ─ Eu só queria te ver bem.
─ E eu vou ficar. ─ Levei sua mão até minha boca e beijei os nós de seus dedos. ─ Graças a Deus e ao peixeiro... Digo, ao Ruggero, não aconteceu nada de grave. Eu juro. Por favor, só me ajude a esquecer.
Titia fungou, se acalmando.
Agus e eu nos entreolhamos e ele piscou o olho, me apoiando.
─ Tudo bem. – Ela respirou fundo. ─ Eu vou tentar, tá? Por você.
─ Isso! – Sorri. ─ Faça isso por mim, titia. Por favor.
─ Bom! ─ Agustín ficou de pé e passou a mão pelos vincos da camisa branca que usava. ─ Que tal uma rodada de conhaque pra todo mundo? Eu vi uma garrafa lá na cozin... Quer dizer, eu vi lá na rua, num restaurante, sabe? Eu não vi na cozinha, não. Nem entrei lá.
─ Esse garoto estava fuçando na minha cozinha? ─ Tia Malu estreitou os olhos, encarando Agus por trás de sua desconfiança. Eu ri. ─ Você estava na minha cozinha?
─ Eu? Quem? Eu? Eu não. ─ Ele escondeu as mãos atrás do corpo e fez seu melhor para disfarçar a cara de culpado. ─ Eu passei por lá, só. Só passei mesmo.
─ E aquele macarrão com salsicha que você falou? – Impliquei, pondo lenha na fogueira.
─ Comprei. Bom, vou comprar, na verdade...
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AMAR
FanfictionCassiel é um anjo um tanto... Diferente. De uma hora para outra sua missão se torna unir um casal, aparentemente, improvável. Ele precisa fazer com que o jovem viúvo Ruggero Pasquarelli, redescubra o amor enquanto equilibra suas obrigações do dia a...