Novo aprendizado

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Cap. 18                  Novo aprendizado

Vic

Estávamos no salão de refeições, eu observava o meu prato com a sopa de tubérculos intocada. Em minha mente só conseguia pensar se Maxine estaria com fome. Max tocou minha mão, me despertando.

__Precisa comer. – peguei a colher e comecei a engolir as colheradas sem perceber o sabor. __Precisa ficar forte Vic, não pode se deixar abater desse jeito. Maxine precisa de você. – Max me dizia com carinho

__É muito difícil. – me lamentei. __Não vou conseguir. Fico paralisada só em imaginar que ela possa estar sofrendo, com medo ou fome.

__Por isso precisa treinar com Caleb. Ele vai fazê-la se lembrar de tudo o que pode fazer. – respirei fundo e abracei Max. Eu o amava, eu o havia escolhido por seu coração bondoso e sua coragem, e agora, ele me provava o quanto confiava em mim. Vi por sobre o ombro de Max, que meu irmão e Celandine nos observavam com o semblante triste. Gabriel sorriu levemente para mim me enviando seu amor.

Naquela tarde me reuni com Caleb em uma área destinada ao lazer dos marinheiros. Um salão de razoável tamanho, porém não tão grande quanto o salão de refeições. As mesas de jogos foram afastadas, permitindo que houvesse mais espaço no centro. Trancei meus cabelos e coloquei uma camiseta e uma calça comprida confortável. Ficamos sozinhos, Max preferiu não me acompanhar e Caleb impediu os curiosos de nos observar, inclusive meu irmão. Muitos dos jovens soldados não participaram das batalhas em Zorah ou nas minas ao norte, e tinham grande curiosidade quanto aos meus poderes. Eu era quase como uma lenda viva para eles, só que eu não me sentia assim.

__Pronta? – Caleb perguntou quando parei diante dele.

__Não, mas não há outro jeito! – falei tentando ser engraçada, mas ele não riu.

__Lembre-se de quando estávamos na mansão em Malie. – Caleb me pediu com ar sóbrio. __ Concentração e foco são essenciais.

__Me desculpe Mestre. - pedi constrangida. Então fizemos uma meditação antes de começarmos, nos sentamos um diante do outro no chão, com as pernas cruzadas. E Caleb entrou em minha mente, sua voz invadiu meus pensamentos e me fez arfar de surpresa.

"__Preciso que relaxe ao ponto de transe. Quando estiver pronta, quero que projete sua consciência."

"__Para onde? Como invadir os sonhos?" – perguntei confusa.

"__Não, projete no espaço. Quero que se veja, que veja seu corpo onde estamos sentados."

"__Entendi." – respondi apesar de não compreender perfeitamente como fazer.

Fizemos silêncio por alguns instantes e apesar de todo o meu esforço, não conseguia fazer o que Caleb me pediu.

__Não consigo. Não sei como fazer. – falei desanimada, mas ele continuou impassível e novamente sua voz surgiu em minha mente.

"__Feche os olhos Victoria e concentre-se. Imagine que seu corpo está leve, muito leve, como quando você levita. Mas só a sua consciência deve se libertar. – ele tomou minhas mãos. Fechei meus olhos e tentei mais uma vez, então um formigamento tomou meu corpo e senti Caleb me puxar devagar. Abri meus olhos acreditando que ele havia me erguido do chão e quando percebi estávamos flutuando sobre nossos corpos, que continuavam sentados no chão.

Soltei uma risada nervosa e olhei para ele e me surpreendi mais uma vez, Caleb era ainda mais bonito, possuía um brilho dourado ao redor de si.

"__Observe o ambiente ao seu redor. – ele ordenou e obedeci. Tudo era mais intenso, as cores, a vibração de cada objeto era percebida por esses olhos da alma como uma leve tremulação colorida. Era estranho e belo enxergar tudo aquilo. __Agora quero que pense em sua casa em Lenora. – Caleb continuou __Fique por lá por alguns segundos e retorne. – assim o fiz e viajei tão rápido quanto meu pensamento. Eu pude ver o sobrado branco com detalhes em madeira escura. O gato Taki estava deitado na entrada da casa, ele se espreguiçou e olhou direto para mim, miou em reconhecimento. Havia um halo de energia ao redor dele, assim como em todos os outros seres vivos, as plantas, as aves, tudo cintilava em cores vibrantes. Mesmo as construções tinham uma espécie de aura luminosa. Pensei em entrar e ver minha mãe e imediatamente percebi um sentimento de tristeza e perda e me senti sendo puxada de volta. __Falei para voltar logo! – Caleb me repreendeu.

__Me desculpe, não percebi que demorei. Tudo é tão mais bonito...

__Deixou-se abater pela tristeza da perda. Não pode permitir que as vibrações externas a atinjam. – ele disse e eu conclui que os objetos carregam a energia das pessoas que os possuem.

__A casa está impregnada com a dor de Erasmos. – falei esperando sua resposta.

__Não só a dele. – ele me falou com um semblante mais suave.

__Qual o objetivo dessa técnica?

__É possível visitar locais e ver ou estar com pessoas por alguns momentos, mesmo que a distância seja longa.

__Taki, nosso gato, me viu. Outras pessoas podem nos ver? Minha mãe teria...

__Não. – ele me interrompeu. __Animais de modo geral são mais sensíveis e conseguem perceber nossa energia. Somente algumas pessoas são capazes de enxergar a consciência de outra pessoa. Maxine me via quando eu a visitava, mas não soube disso até o dia em que nos encontramos no Templo.

__Maxine! – eu disse com entusiasmo, afinal eu poderia ir até ela naquele instante. Não seria só uma mera visão, ou fruto do acaso. Eu poderia ver minha filha e conversar com ela, abraçá-la.

__Não Vic, não pode fazer isso ainda.

__Mas por que não? Preciso vê-la Caleb, preciso... – me senti tonta e quando dei por mim, estava em meu corpo novamente e Caleb a minha frente me falou em voz alta.

__Não pode porque não está pronta. Precisa controlar suas emoções ou não conseguirá manter sua consciência projetada. – olhei para ele desanimada e Caleb me sorriu. __Venha, vamos descansar.

__Descansar? Não, não estou cansada, quero tentar novamente.

__Não é se esgotando que vai obter bons resultados. Você foi muito bem hoje Vic. Acredite, depois de tanto tempo só usando sua energia no Templo de cura, você não pode abusar, precisa ir aos poucos. Deve se lembrar de quando começou a usar seus poderes? Ou não? – ele me fez a pergunta sabendo que minhas lembranças me levariam a todas as vezes que pensei que fosse morrer por não saber o que estava acontecendo, meus olhos queimavam e meu corpo sempre sucumbia de exaustão. Então assenti, suspirei resignada e me levantei com sua ajuda.

__Como eu nunca o vi em minha casa? – o perguntei curiosa.

__Eu evitava ver você, só acompanhava o desenvolvimento de Maxine para a deusa e escolhia os momentos em que você não estivesse por perto.

__Não queria que eu o visse?

__Não, eu não queria vê-la ao lado dele. – Caleb se apressou e me deixou para trás. Fiquei extática em meu lugar por um tempo. Caleb sempre deixara claro que possuía sentimentos por mim, inclusive disse que me ama. Mas nunca pensei que fosse doloroso para ele estar perto de mim sabendo que estou com Max. Me senti extremamente egoísta naquele instante por desejar que ele fique ao meu lado nessas condições.

Andirá - a vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora