Mensagem incompleta

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Cap. 31                                       Mensagem incompleta

Vic

A planície dos Torreões se estendia por vários quilômetros à nossa frente, sendo margeada ao norte pela Floresta de Ogden e a leste e oeste por cadeias montanhosas.

Nossos amigos Aieshs seguiram seu caminho através do rio com suas esposas e filhos. Porém Ekualo e mais três Aieshs ficaram conosco. Kai, um jovem Aiesh brincalhão, que me lembrava Gabriel adolescente; Makani, forte como uma grande pantera negra e Nahele, magro e alto, mais alto até que Ekualo. Ele me lembrava um guepardo correndo nas Savanas africanas.

__Olhem! Os cavalos selvagens! – Filipe foi o primeiro a avistá-los e apontava a nossa frente. Era uma visão fantástica. Dezenas de cavalos pastando sob a luz do dia com seus pelos lustrosos brilhando.

__São lindos! – Alexandra exclamou fascinada.

__E muito bravos! – Max completou.

__São amigos. Só precisamos mostrar a eles que viemos em paz e que precisamos da ajuda deles. – falei encorajando o grupo.

__Falar é fácil. Principalmente para você. – Filipe deixou escapar em tom de censura.

__Pelo criador! – Max falou __Filipe você anda um resmungão de primeira. Isso tudo é por que o casamento foi adiado? – Max deu tapinhas nas costas de Filipe, fortes o suficiente para o rapaz curvar o corpo para frente.

__Ai! Me desculpem. – Filipe pediu entre risadas __Só estou cansado e com fome.

__Todos nós estamos, mas logo chegaremos a Megaron e vamos poder descansar. – Max o tranquilizou e me lançou um olhar que me dizia: "Vamos! Faça a sua mágica!"

Não estávamos conversando muito, ele não aceitava o fato de que eu ainda defendesse Caleb, quando ele o considerava o traidor de quem Andirá falara. Isso me aborrecia, então nos mantínhamos calados evitando o assunto a todo custo.

Me posicionei diante dos animais e enviei a eles meu pedido de ajuda. Abracei todos eles com minha energia e os engrandeci com elogios a sua inteligência e força. Então, eles ergueram suas cabeças e um deles se aproximou de mim. Um cavalo negro como a noite, com crinas tão escuras quanto meus cabelos e tão longas, que quase arrastavam no chão. Ele parou a um passo de mim e relinchou, erguendo as duas patas dianteiras do chão, depois abaixou-se permitindo que eu o montasse. Me senti poderosa ao olhar meus companheiros de viagem. Acariciei o pescoço do animal e o agradeci. Os outros animais se aproximaram de nós e cada um de meus amigos montou em um deles.

__Isso me assusta mais que a morte. – Filipe falou com uma risada nervosa. __Max, você é um homem corajoso. Eu te admiro.

__Filipe! – Alexandra o repreendeu __Ficou louco?!

__Deixe ele Alexandra. – falei direcionando meu cavalo para a floresta. __Ele parece que não conhece a futura esposa. – instiguei o animal e galopei para longe ouvindo as risadas de todos.

Galopamos por horas até avistarmos a floresta ao longe, imponente e assustadora com suas árvores gigantes. Paramos para descansar os animais e também nós, precisávamos dormir.

O barulho do fogo estalando na fogueira era hipnótico e entrei em transe rapidamente. Tentei contatar Celandine e não consegui, me senti apreensiva e um sentimento de medo começou a me dominar. Antes que eu me projetasse até a anciã, ouvi a voz doce de Maxine me chamar.

"__Mamãe?"

"__Maxine, meu anjo, você está bem?"

"__Tia Celandine está doente." – ela disse com a voz baixa, como se tivesse medo de ser ouvida.

"__Doente?"

"__Sim, ela não acorda mais, mesmo tomando o remédio. Ela não acorda!"

"__Tio Biel está com você?"

"__Sim, mas ele está com medo. Ele disse que não, mas eu sinto. Ele tem medo dos soldados."

"__Que soldados? Onde vocês estão?"

"__No navio, no mar. Mamãe, eu..." – nossa conexão foi interrompida, algo distraiu Maxine. Voltei a me concentrar, minha intenção era me projetar até eles, mas não consegui. Sem a ajuda de Caleb, eu não conseguia manter meus sentimentos sob controle para completar o processo.

__Aconteceu alguma coisa? – Max se aproximou e sentou-se ao meu lado. __Notei que está preocupada. Viu algo ruim?

__Celandine está doente. – respondi sem saber ao certo como explicar o que havia acontecido. Maxine não sabia ainda que podia conversar comigo pelo pensamento, era mais intuitiva em relação aos seus poderes, não houve tempo para treiná-la. Ela claramente estava se escondendo de alguém ao falar comigo.

__Ela sabe se cuidar, não?

__Não Max, ela está muito doente, não consigo chegar até ela. E Maxine é pequena demais para explicar o que está acontecendo de forma coerente. Tem algo de errado acontecendo no navio.

__Não pode fazer nada?

__Não de tão longe. E não consigo me projetar quando estou com medo. Meus sentimentos... – atirei um pedaço de madeira à fogueira, irritada demais comigo para permitir que Max chegasse a mim. Me levantei e caminhei um tempo na solidão da noite, então ele se aproximou devagar e tocou em meu ombro, depois me abraçou pela cintura e juntos olhamos a escuridão da floresta.

__Se lembra quando estávamos indo a Megaron a primeira vez e foi sequestrada e levada para a floresta? – ele perguntou me embalando lentamente de uma lado a outro.

__Sim, e você foi me salvar e teve que lutar com um brutamontes duas vezes maior que você. – lhe disse sorrindo ao me lembrar do episódio.

__Não cheguei a lutar. – ele falou em meu ouvido e me virou de frente para ele. __Você me salvou. Você Vic, antes mesmo de treinar, de conhecer seus poderes. Você salvou a si mesma. Você não precisa que ninguém a salve. Todas as vezes, foi você quem nos salvou.

__Por que está dizendo isso agora?

__Porque você não precisa de ninguém para ajudá-la a ser quem você é. – eu sabia que ele estava dizendo aquilo por minha frustração em não conseguir controlar meus sentimentos sem Caleb. Mas o que Max não sabia, era que todas as vezes, eu só consegui por causa deles. Por causa da força deles em mim. Eu precisava do apoio daqueles que eu amava. Eu sorri e o abracei com força, descansando minha cabeça em seu ombro.

No dia seguinte continuamos a galopar em direção a Megaron, contornando a floresta de Ogden sempre para leste.

Andirá - a vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora