Um presente valioso

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Cap. 48                            Um presente valioso

Vic

Ver Alexandra ao lado de Filipe, finalmente oficializando a união dos dois, foi maravilhoso e de intensa dor para mim. Lembrei de meu próprio casamento e de toda a emoção que senti por estar me unindo a Max para sempre. Eu acreditei que o meu "para sempre" fosse durar mais. Mas no fundo eu sabia que não seria tão longo assim. Max havia decidido partir antes de mim, apesar dele tentar me esconder a todo custo sua decisão de se sacrificar em caso de necessidade. Me pergunto se essa decisão não foi por perceber que meus sentimentos por Caleb nunca desapareceram? Mas não posso me torturar para sempre com esses pensamentos, preciso me conformar. Preciso estar inteira para minha filha. Preciso me lembrar do seu amor e colar meus pedaços para que Maxine aprenda a ser forte.

Eu sabia que podia contar com Andirá, ela estaria sempre comigo, onde quer que eu fosse, eu só precisava chamar e ela viria ao meu socorro. No fim, nunca foi ela que precisou de mim, de meu corpo e sim o contrário. Éramos nós que precisávamos dela, eu precisava dela mas necessitava me abrir para ela. Meu medo de ser controlada por ela me impediu de perceber que eu sempre tive o poder. O poder da escolha, de decidir o momento. Agora, ela estava em mim e eu nela e isso não significava que ela me dominava, eu continuava sendo a Vic de sempre. Bem, talvez não a mesma, mas uma versão melhor de mim mesma.

Maxine me acenou do lugar onde estava, próxima ao casal, que fazia seus votos e tomavam da taça oferecido pelo seu avô e ancião do lugar. Minha pequena estava linda com seu vestido azul, bordado com pequenas flores do campo. A luz de Iti incidindo sobre ela através das folhagens da grande árvore que servia de cobertura para os noivos e convidados. Eu me sentia feliz e orgulhosa da minha pequena deusa de cachos dourados e olhos lilases.

Enquanto a observava vi seus olhos cintilarem em um azul brilhante ao focalizarem atrás de mim e seu sorriso se abriu. Nesse instante uma chuva de flores caiu sobre os noivos e senti meus pelos da nuca se arrepiarem com a energia tão conhecida. Alexandra e Filipe se voltaram para onde eu estava, mas não olhavam para mim. E eu soube, ele estava ali.

Me voltei para trás devagar e o vi mover as mãos gentilmente fazendo com que o vento levasse as flores até o casal, elas rodopiaram sobre eles e caíram sobre os noivos sorridentes. Meu coração batia acelerado, Caleb estava usando calça e camisa brancas e seus cabelos estavam compridos, caindo sobre os olhos e cobrindo suas orelhas. Ele olhou para mim e sorriu de modo triste e cheio de culpa. Não se aproximou, nem disse nada. Me senti triste e confusa.

Enquanto os festejos se iniciavam, eu me dirigi a uma das mesas e observei o casal cumprimentar seus amigos e convidados. A música alegre e contagiante levou muitos a se levantar para dançar, Maxine veio até mim com o rosto corado de brincar com as outras crianças.

__Mamãe, você está triste? – ela sentou em meu colo e acariciou meu rosto e me deu um beijinho carinhoso.

__Não minha filha, estou bem.

__Ainda não falou com nosso amigo. – eu ergui meus olhos e vi Caleb conversando com Celandine e seus olhos verdes encontraram os meus e senti meu rosto se aquecer.

__Vou falar com ele. – ela disse pulando de meu colo e aguardou minha aprovação antes de sair correndo em sua direção. Caleb a pegou no colo e a rodopiou no ar ao som da música e dançou com ela um pouco. Depois a colocou no chão e cochichou algo em seu ouvido e veio em minha direção.

__Olá Vic. – ele segurou minha mão. __Aceita dançar comigo? – me levantei devagar ainda aturdida demais para dizer algo e começamos a dançar. Então iniciamos uma conversa.

__Você parece bem. – tentei começar de modo menos invasivo, mas na verdade eu queria saber onde ele esteve todo aquele tempo e porque não me procurou. Apesar de saber a razão, eu queria que ele tivesse me falado qualquer coisa e não desaparecido do nada.

__Você também parece bem. Não feliz, eu diria, mas... parece bem.

__Sim, estou tentando me manter forte por Maxine.

__Acredito que ela esteja melhor que você nesse quesito. Maxine é muito forte, não precisa que você se preocupe com ela. – ele disse e eu tive que admitir. Continuamos dançando por um tempo. E ele se calou, não consegui me conter mais e o questionei.

__Por onde esteve?

__Por aí. – ele disse e deu de ombros.

__Não esteve na ilha, que eu sei.

__Sim, sei que sabe. Ela não está mais lá. Como é ter a deusa dividindo o espaço de seu corpo? – notei que ele parecia fingidamente aborrecido.

__Não é como se ela estivesse aqui o tempo todo. – respondi sem compreender suas reações. __Não está bravo por que permiti que ela voltasse, não é?

__É claro que não. – ele riu. __Talvez um pouco enciumado.

__Ciúmes?! Da deusa?

__Ela está com você o tempo todo. – ele falou baixinho e senti meu corpo se aquecer. __Estive na Terra por um tempo. – ele respondeu minha pergunta, afinal.

__Por que? – me surpreendi.

__Precisava ficar longe. – ele disse e olhou por sobre meu ombro. __Estive com seu irmão. – ele voltou a olhar para mim. Acho que meus olhos demonstraram a minha surpresa e indignação.

__Calma! Nós nos tornamos amigos e Gabriel me fazia lembrar de você.

__Espero que não tenha feito a vida mais difícil.

__Por que pensa assim? Como mais difícil?

__Ora, conversar com pessoas invisíveis não é um bom sinal na Terra. As pessoas costumam pensar que somos loucos. – Caleb riu de minha observação.

__Éramos discretos. – ele disse por fim __Seu irmão manifestou desejo de viver em Atlantis. – ele disse e eu parei de dançar bruscamente e o encarei enfurecida. Jamais permitiria que ele fizesse com minha família o que fez com a dele. Minha mãe não suportaria perder outro filho.

__Não! Não vai fazer isso. Eu o proíbo! – falei muito irritada.

__A decisão não é sua Vic. Pode pensar que tem esse poder, porque tem uma deusa dentro de você, mas não é decisão sua. – ele falou calmamente me olhando fundo nos olhos. __Na verdade, - ele se voltou novamente para além de meus ombros. __todos eles disseram que gostariam de viver perto de você.

__Como? Como eles poderiam? Eu apaguei a memória deles.

__Parece que eles se lembraram do que houve naqueles dias, principalmente sua mãe. Ela começou sonhando com os dias em que viveu aqui e Gabriel se viu obrigado a confessar que não foi um sonho.

__Mas Caleb... – eu me senti confusa, dividida entre o desejo de tê-los comigo e tudo que isso significava. __Eles possuem uma vida lá, não podemos simplesmente trazê-los para Atlantis.

__Acho que é um pouco tarde agora. – ele me fez girar lentamente para trás e vi minha família conversando com Celandine, Maxine no colo de Gabriel, Sergio bebendo algo e segurando um prato com comida, e meus pais acenando para mim. Cobri minha boca com a mão tentando conter meu choro. __Você precisava deles aqui e eles queriam estar perto de você e de Maxine.

Não consegui dizer nada, Caleb me guiou gentilmente até minha família, abracei meus pais e chorei de alegria.

Andirá - a vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora